Esta entrevista integra a série Vidas e Vozes de Mulheres na Pandemia.
Carmen Regina Ebele: Conte-me um pouco sobre você. Qual o seu nome, idade, estado civil, se tem filhos, onde mora e qual sua profissão. Conte alguma outra informação que descreva você, se houver.
Elisa Ebele: Sou Elisa, tenho 33 anos, sou casada, arquiteta, moro em Guabiruba, adoro cozinhar, é uma terapia para mim, mas acima de tudo sou mãe do Francisco, de 2 anos e meio, e estou grávida de seis meses e meio.
CRE: A gravidez é um momento especial, cheio de emoções, de expectativas, também de desafios! Conte como é estar grávida na pandemia. Quais os sentimentos mais recorrentes no seu dia a dia?
EE: Bom, nós planejamos essa gravidez, mesmo em meio a essa situação toda de pandemia, queríamos mais um filho, e visto que o cenário está sem muita perspectiva de mudanças positivas, resolvemos tentar. Criança é vida, é dádiva, é alegria. E nesse momento tão delicado, essa gravidez já está enchendo nossa casa de bons sentimentos. Nós moramos em uma casa onde tem jardim, onde tem horta, pega bastante sol, eu consigo fazer boas caminhadas ali mesmo, então esse isolamento acaba sendo um isolamento privilegiado. Eu sou uma pessoa bem tranquila e reservada, então aquele sentimento de medo, ansiedade, preocupação não tem tomado conta de mim. Pelo menos por enquanto.
CRE: Como a quarentena tem afetado o período de gestação e pré-natal?
EE: Claro que sempre bate um receio ao sair de casa para fazer o pré-natal e todos os exames, mas o pré-natal é essencial para uma boa gestação, e a clínica onde sou atendida tem o cuidado de agendar exames e consultas com um espaço maior de tempo para evitar aglomeração na sala de espera. Então eu tenho conseguido fazer esse acompanhamento de forma segura.
CRE: Como tem sido sua rotina profissional por conta da exposição ao vírus?
EE: Eu sou arquiteta, então boa parte do meu trabalho consigo fazem em casa, consigo resolver algumas coisas com os clientes pelo WhatsApp, mas tem outras coisas que se faz necessária a visita à obra e o atendimento presencial. No início da pandemia, suspendi todos os atendimentos, mas depois com cautela, com cuidado e quando se fez realmente necessário eu fui voltando.
CRE: Conte-nos como é realizar as atividades escolares em casa com seu filho e agregar a educação escolar às outras atividades que você já tinha ou que tem diariamente. Qual a sensação de se dedicar a tantas atividades? Você acha que está trabalhando mais na quarentena?
EE: O Francisco tem 2 anos e meio e ainda não está em idade escolar, onde ele é obrigado a frequentar a escola, então as atividades propostas são bem lúdicas e flexíveis. Como eu optei por ficar com o Francisco em casa até os dois anos, ele só começou a frequentar a escola em fevereiro desse ano, e em março já começou a pandemia, então consegui facilmente retomar a rotina que eu já tinha com ele, que é a seguinte: na parte da manhã eu fico com o Francisco, fazemos as atividades da escola, arrumamos a casa, fazemos o almoço. Claro que tudo isso em um tempo pelo menos 3 vezes maior do que se eu estivesse fazendo sozinha, mas isso nos aproxima, nos conecta, isso realmente faz a nossa relação de mãe e filho fluir. À tarde ele tira uma soneca bem boa, que é quando eu sento na minha cadeira para trabalhar e dali ninguém me tira. O mundo pode cair, a casa pode estar do avesso, mas quando o Francisco dorme à tarde, eu me dedico às coisas do escritório. Por estar fazendo home office desde que ele nasceu, já estava vivendo essa loucura toda de ser mãe, esposa, dona de casa e arquiteta. Então eu não sinto que estou trabalhando mais na quarentena porque já vinha vivendo isso, tirando o isolamento social, claro. O que a maternidade, junto com o trabalhar em casa, me ensinou, e a quarentena só veio a comprovar isso, é que não é possível – e nem preciso – dar conta de tudo. Não é possível controlar tudo. Às vezes é preciso esquecer um pouco os manuais, aquela rotina completamente estruturada, porque é impossível… trabalhar com criança em casa não é fácil, então nós precisamos ter um pouco de tolerância e paciência com a gente mesmo, com a nossa própria capacidade de lidar com essa situação.
CRE: E seu filho tem participado das atividades da escola? E como você o vê neste período de quarentena? Ele está motivado, aborrecido, cansado, feliz? Qual a reação dele no momento das atividades? E seu marido, como tem reagido a essa nova rotina?
EE: Francisco gosta bastante das atividades da escola. Na maioria das vezes ele está disposto a fazer. Como moramos em casa e não em apartamento, a quarentena não tem sido tão complicada. Ele tem areia para brincar, grama, tem uma pequena horta para mexer, então ele está bem feliz. A rotina aqui em casa não mudou tanto. Como eu falei, eu já vinha trabalhando de casa há mais de dois anos. No começo da quarentena o Harri, meu marido, ficou uns 10 dias em casa, mas depois ele já retomou o trabalho em tempo integral. Desde sempre, mesmo antes da maternidade, já compartilhávamos as tarefas da casa. Claro que eu, por estar em casa, acabo fazendo mais coisas, mas o Harri é muito proativo tanto nos afazeres da casa quanto em brincar com o Francisco e isso me possibilita passar um tempo sozinha, principalmente à noite. Por mais apaixonado que um casal esteja, é preciso uma válvula de escape, todo mundo precisa de uma pausa, longe das crianças, nem que seja por meia hora. É nessa hora que o parceiro entra. Tudo é mais leve quando se tem dois adultos criando um filho e dividindo as responsabilidades.
CRE: Que medos você vivenciou na quarentena? E alegrias? Do que sente falta? Qual o sentimento que você tem frente à pandemia?
EE: Dos medos na quarentena eu cito, especialmente no início da pandemia, o medo dela interferir no meu trabalho, já que no começo muitas empresas demitiram, reduziram salários, e tudo isso é uma bola de neve. E tive muito medo pela minha irmã, que é especial. Mas também teve muito aprendizado e todos nós temos uma capacidade de adaptação muito grande frente às mudanças que acontecem. Acabamos descobrindo formas diferentes de fazer as coisas. E quando penso em pandemia me vêm dois sentimentos bem distintos, mas que se encaixam: fragilidade e coragem para enfrentar o que for preciso.
CRE: O que você descobriu sobre você nessa pandemia?
EE: Eu sempre tive uma visão mais simplista da vida. Isso já antes da pandemia. E isso tudo o que vem acontecendo me fez reafirmar isso dentro do meu coração.
CRE: Em meio a tantas incertezas, mudanças, desafios que a pandemia nos impõe, você tem dicas, sugestões ou alternativas para as mulheres se manterem bem nesse novo estilo de vida?
EE: Eleja prioridades. Ninguém dá conta de fazer tudo. E não precisa dar. Está tudo bem. E pratique o autocuidado. Sem isso, sem estarmos bem, não temos a menor condição de acolher e entender quem está a nossa volta. Especialmente as crianças. É a máxima do avião: quando o avião está caindo você precisa colocar a máscara primeiro em você, para depois ir ajudar o outro.
CRE: Como você acha que será a vida da humanidade após a pandemia?
EE: Olha, sinceramente, eu acho que vamos voltar ao que sempre fomos. Infelizmente. Acho que não entramos na pandemia de um jeito e vamos sair completamente de outro. Acho que faz parte de um processo esse novo normal, mas eu acho que em algum momento da vida voltaremos ao nosso normal de sempre.
CRE: O que a pandemia vai deixar nas nossas memórias?
EE: Bom, para mim, no futuro, quando nos lembrarmos dessa época, a primeira coisa será a falta dos abraços, o tempo longe dos avós. Sempre que eu ia na casa da minha avó, tinha a térmica de café quentinha..quanto tempo não tomamos um café lá, todos juntos, sem medo, sem receio. O uso de máscara, do álcool gel… tudo mudou tanto em tão pouco tempo. Acho que o Francisco nem se lembrará direito disso, mas diante desse caos e dessa tristeza toda, o que eu espero para ele é que pelo menos ele se lembre, seja então pela memória afetiva, de quanto amor, intimidade e cuidado foram tidos. Foram tempos difíceis, mas a grande forma de mostrar amor e afeto para nossas crianças na quarentena, é a paciência. E é um exercício diário, que não é fácil para ninguém, mas vale a pena.
CRE: Quando esse tempo difícil passar, quais são as coisas que você mais quer fazer?
EE: Poder juntar a família para tomar um café, ou um brunch, que nossa família adora e fazia muito. Ir para praia e ficar horas na areia pegando sol. Fazer uma viagem só com meu marido (apesar que pensando bem, grávida de 4 meses, acho que vai demorar um pouco né?)
CRE: Compartilhe uma frase ou pensamento ou um verso de poema que tem significado especial para você!
EE: O amor brota do cuidado. Quando mais você cuida de alguém, mais você consegue amar essa pessoa e mais potente você se torna. Porque quem cuida se torna potente.
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