Créd. da foto: Grazielle Guimarães

Foram aproximadamente 3.600 casamentos lavrados por Marcelino Kohler, mais conhecido como Sr. Max. Nascido em setembro de 1942, no bairro Pomerânia, em Guabiruba, concluiu sua educação básica na cidade, já o ginásio em Corupá, onde iniciou os estudos para ser padre.

Em outubro de 1964 recebeu a batina, quatro anos depois iniciou suas atividades como professor, função que exerceu até 2000, quando se aposentou. Casou-se com Lily Maria Kohler, com quem tem um filho, desistindo do sacerdócio. Foi nomeado Juiz de Paz de Guabiruba em 1982, iniciando assim sua trajetória em marcar a vida dos guabirubenses até que a morte os separe. 

Padre, professor, Juiz de Paz ou, simplesmente, seu Max. O entrevistado do Guabiruba Zeitung desta semana também faz parte do Coral Cristo Rei e participa do espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre desde 1969, a maioria delas como Jesus. Apaixonado pela cidade onde viveu a maior parte da vida, Max conta algumas das lições que tirou ao longo dos 26 anos como juiz de paz em Guabiruba.

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Guabiruba Zeitung: Teve algum casamento ou história de casal que mais marcou sua trajetória?

Marcelino Kohler: A maioria dos casamentos que realizei veio com a proposta de ser para sempre, mas muitos não foram assim. Este fato da profissão me marca bastante. Mas falando em união específica, um casamento que me chamou a atenção foi o do irmão da minha chefe, Franciane Della Giustina Moura, pois devido a regra da legislatura, ele não pôde se casar na cidade onde mora, então, eu tive que realizar o casamento. Assim como o do meu filho, eu não posso casá-lo, então, teve que vir um juiz de Brusque para oficializar a união. São histórias interessantes. Além, claro, dos casamentos que são realizados em locais diferentes como chácaras, parques, é sempre divertido oficializar uniões nestes ambientes.

GZ: Há 36 anos juiz de paz, já casou mais de uma geração da mesma família?

MK: Sim, como fui professor por longos anos muitas pessoas que eu oficializei a união foram meus alunos e os vi crescer praticamente. Além, claro, de pais que eu casei e depois casei os filhos também. A emoção é quase a de casar um filho, por ver a pessoa crescer e formar sua família.

GZ: Qual o mês campeão de casamentos em Guabiruba?

MK: Dezembro! Porque sai o 13° salário aí todo mundo aproveita né?! [risos]. Antes era maio, considerado o mês dos noivos, mas agora não é mais, dezembro é o campeão.

GZ: Se comparar a sua visão do casamento no início de sua carreira como juiz de paz ao seu momento atual, houve alguma mudança?

MK: Sim, claro. Hoje a oficialização da união ficou muito mais fácil. Há até casamentos coletivos em que o governo arca com as despesas, para os casais que não têm condições de bancar o documento. Então, o número de casamentos foi aumentando ao longo dos anos assim como o número de divórcios. Casar ficou mais fáci,l mas separar também.

GZ: Você já casou alguém mais de uma vez?

MK: Sim, já cheguei a casar uma mesma pessoa até três vezes. Hoje mesmo vou casar um rapaz pela segunda vez, mas já é o terceiro casamento dele. 

GZ: Em algum momento você pensou em parar de celebrar casamentos?

MK: Não. Lógico que eu desejei me aposentar, mas minha chefe não deixa eu me desligar, por isso é de livre e espontânea pressão que eu sigo juiz de paz [risos]. Tem muitas pessoas em Guabiruba que ainda só falam o alemão, então além da função de juiz eu também sou tradutor em algumas situações. 

GZ: Se não fosse juiz de paz, professor ou padre, que outra profissão o senhor seguiria?

MK: Eu seria guia turístico, mas na verdade até fui um pouco isso também, pois como professor eu que organizava as viagens dos estudantes. Eu recolhia todo o dinheiro, organizava as caravanas. Conhecemos o Rio Grande do Sul, Gramado, Rio de Janeiro e como minha área era Geografia e História eu aproveitava as viagens para transmitir conhecimento a eles sobre estas regiões específicas.

GZ: A visão da sociedade sobre o conceito de casamento e até da família mudou muito ao longo destes anos. Como o senhor encara essas mudanças?

MK: A sociedade mudou completamente. Hoje os filhos não respeitam mais os pais como antes, inclusive aqui em Guabiruba esta mudança no comportamento das pessoas é notável. Como em todas as situações existe o lado bom e ruim, tudo tem os dois lados. Mas de um modo geral eu acho fantástico as pessoas terem mais liberdade e autonomia em suas vidas.

GZ: Se pudesse dar um conselho as pessoas que desejam se casar, qual seria?

MK: Em primeiro lugar conhecer um ao outro muito bem. A maioria das pessoas casam sem se conhecer e por este motivo muitas vezes ocorrem as separações. Porque há um choque de realidade. Então, conheça um ao outro para ter uma maior certeza da decisão que estão tomando.

GZ: Há algum sonho ainda não realizado?

MK: Sim. Eu sonho em conhecer o vale europeu, principalmente os Alpes, este é o meu sonho atual. E estou trabalhando e planejando esta viagem.

GZ: Juntando as profissões de padre, professor e juiz, que lições estas atividades trazem em comum?

MK: As três profissões estão interligadas por lidar diretamente com as pessoas, e a principal lição que eu tiro é de que todas as pessoas com quem você tem contato acabam te ensinando algo ou você pode aprender alguma lição com elas. 

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