Querido em Guabiruba e região, Emiliano de Souza, 45 anos, conquista diariamente crianças e adultos ao contar suas fascinantes histórias e fazer de sua vivência na terra, uma poesia.
Filho de Edinalte Elias e Olídia Gartner de Souza, Emiliano é formado em Letras e começou sua trajetória de contador de histórias ainda na universidade Mackenzie, em São Paulo, onde cursou Letras Português e Inglês. Depois, fez mestrado em língua inglesa na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.
O morador do bairro São Pedro tem três irmãos e apesar de não ter filhos nutre igual amor paterno pelos três afilhados: Betina, Nicole e Francisco. Hoje, a maior atuação de Emiliano é como artista e contador de histórias. Também desenvolve dois projetos sociais na região: Biblioteca Ambulante e Felizidade.
No próximo semestre, os dois projetos se unirão e serão denominados apenas Biblioteca Ambulante, que consiste na visita a ambientes frequentados por pessoas em vulnerabilidade social, como lar de idosos, albergues e hospitais, levando a literatura e cultura as pessoas que ali estão.
GZ: Como nasceu o Emiliano contador de histórias?
Emiliano de Souza: Nasceu quando morava e estudava em Florianópolis, em 2008. Lá frequentava a Barca dos Livros, uma livraria na Lagoa da Conceição que oferecia vários cursos e oportunidades para conversar sobre literatura. Depois de participar de alguns cursos de formação na área, comecei a contar histórias em escolas e em ações promovidas pelo SESC.
GZ: Na sua opinião, o que seria uma história mal contada?
ES: Uma história mal contada é aquela que não toca ou emociona o ouvinte. Já uma história bem contada, seria aquela que conduz os ouvintes através do fascinante universo das ideias e possibilidades que as narrativas proporcionam.
GZ: Se não fosse contador de histórias, o que seria?
ES: Acho que tentaria ser músico, ator, professor. Pensando bem, sou um pouco disso tudo. Dentre os meus hobbies estão passar tempo com a família e amigos, viajar, ler, cultivar as plantas do jardim e realizar certos trabalhos sociais.
GZ: Hoje você viaja contando histórias e ensinando a contar histórias, como tem sido essa experiência?
ES: Há uma relação próxima entre a literatura e a educação. As escolas têm percebido a necessidade de fomentar o incentivo à leitura e o acesso à cultura de seus alunos. Às vezes sou chamado para auxiliar no processo de despertar o interesse dos estudantes pelos livros ou até mesmo para acompanhar professores em suas práticas de contação de histórias. A possibilidade de compartilhar leituras, experiências e vivências nesta área enriquece também a minha existência.
GZ: O que você considera mais gratificante em seu trabalho?
ES: Gosto muito da espontaneidade das crianças, do olhar atento, do sorriso largo e solto dos ouvintes. É gratificante encantar com o poder das palavras. Também me realizo quando as histórias sensibilizam e surpreendem as pessoas.
GZ: E o que te deixa triste em seu trabalho?
ES: Quando não alcanço meu objetivo de tocar positivamente ou de despertar boas emoções nos ouvintes. Isso pode ocorrer por vários fatores: excesso de barulho, lugares com demasiada circulação de pessoas, distrações, entre outros motivos. Também me entristece as vezes em que a rouquidão me impede de contar histórias ou de cantar.
GZ: Quais sonhos você deseja conquistar em sua carreira?
ES: Desejo seguir a vida com saúde, disposição, alegria pelas pessoas e pelos livros. Desejo que esta arte proporcione bons encontros e sentimentos entre as pessoas. Ah, lembrei de um fragmento que li em um livro há um tempo. Dizia assim: Antigamente eu contava histórias para mudar o mundo. Hoje eu conto histórias para que o mundo não me mude. Desejo que a vida de cada um seja repleta de agradáveis e significativas histórias.
GZ: Quais sonhos na vida pessoal você ainda espera conquistar?
ES: Sonho em viajar a outros estados do Brasil para conhecer e compartilhar histórias de vida. Também sonho em conhecer a cultura, a culinária e as histórias de pessoas de outros países da América do Sul.
GZ: O que precisamos fazer para que mais jovens queiram ler e se interessem pela literatura?
ES: Precisamos criar a cultura de ler. Já temos a cultura de cuidar das casas, dos jardins, de preparar deliciosos práticos típicos, de assistirmos a séries de televisão ou internet, mas a cultura da leitura continua sendo pouco cultivada. Atividades como feiras de livros, movimentos de leitura, visitas a bibliotecas e livrarias, clubes de leitura, bate-papos com escritores são formas de acender a chama e despertar interesse pelo fascinante universo das narrativas e, assim, formar leitores.
GZ: Qual a importância de incentivar as pessoas, principalmente adolescentes e jovens não só a ler, mas a escrever mais?
ES: Narrar, escrever, compartilhar histórias, ideias e sentimentos são expressões tão naturais do ser humano. Somos seres narradores, pois estamos sempre comentando ou compartilhando algo que vivenciamos, sentimos ou aprendemos. A escola e o lar são espaços férteis para promover e incentivar o ato da escrita e da leitura. Aceito que isso também é possível por contágio.
Há estudantes que escrevem e leem porque se espelham em professores e pais leitores e escritores. Escrever com arte, além de ser terapêutico, nos ajuda a perceber e a organizar nossa própria narrativa de vida.
GZ: São muitos os desafios enfrentados no setor de cultura e educação no país. Quais deles você considera mais importantes?
ES: Talvez um dos grandes desafios a ser superado seja a falta de investimento em educação e cultura. Essas são áreas que deveriam compor a lista de prioridades quando se pensa em desenvolvimento. Por que será que as autoridades de nosso país demonstram tão baixo grau de interesse em formar cidadãos cultos, educados, conscientes e críticos? É algo que a sociedade deveria refletir.
GZ: O que você diria para alguém que deseja ser professor e trabalhar com educação infantil?
ES: Ensinar pede de nós dedicação aos estudos, amor ao próximo, paciência diária, pesquisa contínua, compreensão, persistência, otimismo e crença no ser humano. Aos que estão iniciando o nobre ofício de ensinar, diria que é essencial investir em uma formação sólida, conciliando a prática à teoria.
A leitura, a pesquisa, a percepção em sala de aula e o diálogo com professores que têm amor à vocação de ensinar podem proporcionar reflexões significativas aos que desejam ingressar nesta preciosa profissão.
Por: Grazielle Guimarães / jornalismo@guabirubazeitung.com.br