Tudo começou com uma carona de seu Celso à Dona Maria. A carona foi na garupa da bicicleta após assistirem a uma partida de futebol, na rua São Pedro. Dona Maria, vascaína, gosta de futebol até hoje. Já seu Celso, foi só para conquistar sua donzela.
Era 15 de setembro de 1956, na Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, em Brusque, que Seu Celso Kohler e Dona Maria Kohler selaram juras de amor. Foi um sábado iluminado e fresco. A cerimônia iniciou às 14h e a janta foi servida às 16h na casa dos pais da noiva, no bairro Aymoré. O sanfoneiro animou o resto da festança e, no final do dia, uma chuva de bênçãos finalizou o dia que até hoje é bem lembrado. Desde então, foram bodas de prata, de ouro, de diamante, de ferro e tantas outras por aí. E como o próprio nome sugere, casados há 66 anos, são um Casal de Ferro!
Há quem diga que a admiração e o amor aos poucos se desfazem. Outros defendem que se acabar a admiração, o fim está próximo. Mas para esse casal, nada disso falta. Seu Celso, com sua memória admirável, conta os fatos, lembra as datas, revive as histórias e olha com ternura e admiração para sua amada. Dona Maria, mulher elegante e vaidosa, ouve seu esposo falar com atenção e, vez ou outra, acrescenta detalhes. Ele declara orgulhoso que a esposa sempre gostou de se cuidar e que todo sábado arruma o cabelo e as unhas no salão. E nesta hora percebo que ela tem muito a nos ensinar, mulheres!
Seu Celso conta que abriu uma mercearia antes de se casarem e, logo após, começou a trabalhar com barbeiro também. Foi barbeiro por 20 anos. Construíram uma família com cinco filhos, hoje possuem sete netos e três bisnetos. Dona Maria cuidava do comércio e dos filhos, enquanto o esposo trabalhava na barbearia. Ao questioná-la de como fazia para cuidar dos dois, contou-me: “fizemos um caixote e havia um solteirão que andava pelas estradas e adorava uma cachacinha. Ele cuidava das crianças em troca de um traguinho” e soltou uma linda gargalhada. Só espero que a cachacinha fosse dada depois do serviço feito (risos).
Contou ainda que toda economia que possuía utilizou no casamento, até porque, naquela época, o noivo tinha que pagar o vestido da noiva, a meia e até o sapato. Mas dona Maria logo interveio explicando que foi a mãe que costurou tudo, ou seja, a sogra deve ter dado um bom desconto para o genro. Rimos juntos.
Ao perguntar-lhes o que foi fundamental para o casamento dar certo, disseram que foi o companheirismo. “A gente sempre se gostou, saímos sempre juntos e não perdíamos uma festa. No começo íamos de bicicleta, depois compramos um carro. Éramos sempre os padrinhos das rainhas das festas”, contam.
Hoje, seu Celso com 88 anos e dona Maria com 87, demonstram alegria na trajetória de vida, sabem que são exemplos para as famílias. Saudáveis, as únicas preocupações são os cuidados diários com as flores dela e o sitiozinho dele, e, claro, as contações de histórias aos domingos à tarde.
E sabem, eles têm muito a nos ensinar sobre o amor, numa época que as relações eram quase inquebráveis, a persistência existia, o casal se perdoava com mais facilidade e os defeitos eram superáveis. As famílias, com o mínimo existencial, tinham o mais importante: tempo para si! Não havia nada mais empolgante que a bagunça dos filhos e a comida da mãe. Hoje temos tudo e, às vezes, resume-se em nada. E talvez o que mais queríamos fosse o abraço do pai, o aconchego da mãe, as histórias valentes do vovô e um café quentinho da vovó enquanto o tempo passa, porque, nesses momentos, nem o tempo importa.
Gostei muito desta reportagem. Esse casal é um Grande exemplo para as pessoas mais novas do mundo de hoje, onde os conceitos de certo e errado estão invertidos.
Parabéns GISELIA pela reportagem tão bem feita e tão construtiva