A essência da nossa gente desta semana é com o Seu Nelson Martins de Carvalho. Ele nasceu no pequeno município de Assaí, interior do Paraná e aos 12 anos sua família mudou-se para Ivaiporã (PR). Ali, cresceu, casou e teve 5 filhos. 

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Plantava milho, feijão e algodão, mas a criação de gado e a plantação de soja expulsaram as famílias da comunidade. Relata que nos anos 1980 a comunidade possuía 70 famílias; em 1985 diminuíram para menos de 40 e em 1994, quando ainda dizia que jamais deixaria o local, obrigou-se a procurar novo lar para a família. Conta ele, que o lugar chegou a ter 100 famílias. “Hoje dois ou três são donos, as famílias foram substituídas pelo maquinário”. 

Seu Nelson conhecia uma família paranaense que morava em Guabiruba e decidiu conhecer a cidade. Vendeu uns boizinhos e trouxe o dinheiro para comprar um terreno. No entanto, relata que já estava 10 dias na cidade e ninguém aceitava vender um terreno pra ele, pois sua pele era morena. As pessoas tinham medo de vender para quem não conheciam. A venda apenas se concretizou quando o dono do terreno soube que Seu Nelson era ministro da Eucaristia na cidade onde morava. Três mil à vista, “Deus sabe de tudo”, ressalta ele. 

Comprou o terreno, empreitou a construção da casa e buscou a família. Conta que nunca perdeu um dia nesta cidade, onde quem quer trabalhar, trabalha. O primeiro emprego foi numa marcenaria, trabalhou lá até a empresa encerrar suas atividades. Precisava de dinheiro e gostava de trabalhar, então sempre que podia fazia “sobre hora” na fábrica. Nos finais de semana, virava segurança nas casas dos mais afortunados, enquanto eles iam para os bailes. Certa vez, o prefeito da época convidou-o para ser agente de saúde. “Não sabia nem o que era isso, mas aceitei o trabalho”, conta. Ficou na função por mais sete anos, até se aposentar por invalidez, com problemas na coluna. 

Quando pergunto sobre sua motocicleta, ele diz que possui moto há mais de 10 anos, mas antes era de motor pois conseguia andar mais rápido, agora, com a idade chegando, precisa andar mais devagar e trocou por uma bicicleta elétrica, assim consegue andar com os ciclistas. “Não tenho pressa, vou devagarinho, se os ciclistas querem passar, deixo que passem”. E assim, desde que se aposentou faz alguns trabalhos de cobrança, entrega e venda de rifas com sua motinha. E já ouvi dizer que é o maior vendedor de rifas do município. 

Seu Nelson sempre foi muito ligado à igreja, catequista por muitos anos, conhece padres que nem Deus sabe. Afirma que não conhece toda a população de Guabiruba, mas 90% o conhece, não tem onde vá que não o chamem pelo nome: “O Seu Nelson, o que o senhor está fazendo por aqui?”. 

E foi assim que conheci um pouco mais da sua história, num domingo à tarde, sentados na sala estar. Seu Nelson com suas pernas cruzadas, sua fala mansa e as mãos que acompanham a conversa. Da cozinha vinha o cheiro de pastel assado e do bolo de chocolate que sua esposa já havia preparado. Ao final, meu esposo e eu ficamos para o café, os familiares e amigos iam chegando e logo a casa estava cheia. Rotina de todos domingos por ali, e assim observei o quanto aquela casa acolhia e servia.  

Agora guia feliz sua bicicleta elétrica pelas ruas desta cidade que o acolheu, acolheu seus filhos, sua família, seus sonhos, seu trabalho. E ousaria dizer que naturalidade não está apenas em nascer, mas em sentir-se pertencente ao desenvolvimento de um local, de um povo. E só pra finalizar, se bater uma vontade de comprar uma rifa, pode parar o Seu Nelson, que certamente ele tem.

 

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