O Banco Central divulgou uma pesquisa, intitulada “o brasileiro e a sua relação com o dinheiro”, que evidencia uma transformação na maneira como os brasileiros lidam com o dinheiro. O PIX, lançado em 2020, se consolidou como o meio de pagamento mais utilizado no país. A pesquisa revelou que, entre 2021 e 2024, o uso do PIX saltou de 16,7% para 46,1%, enquanto o uso de dinheiro físico caiu de 41,7% para 22%. Esse aumento no uso do PIX reflete não apenas uma mudança na forma como realizamos transações financeiras, mas também como a digitalização tem ganhado força na economia.

O que chama a atenção, no entanto, é como esse processo de digitalização se conecta com um outro fenômeno político no Brasil: o embate em torno das emendas parlamentares, popularmente chamadas de “emenda PIX”. Esse nome surgiu devido à rapidez com que os parlamentares conseguem liberar recursos para suas bases eleitorais, quase de forma instantânea, da mesma maneira que uma transferência via PIX.

Enquanto o PIX tem sido considerado o meio de pagamento mais vantajoso para a maioria dos brasileiros, pela segurança, facilidade de uso e eficiência, as emendas parlamentares têm gerado controvérsias sobre a sua transparência e utilização. Após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs novas regras para a liberação dessas emendas, um impasse se instaurou no Congresso. A medida foi vista por muitos como uma tentativa do governo de controlar a distribuição dos recursos, o que gerou resistência por parte dos parlamentares, que têm tradicionalmente uma grande autonomia sobre o destino dessas verbas. Em resposta, o governo anunciou a liberação de R$ 7,8 bilhões em emendas, tentando suavizar o atrito com o Congresso.

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É interessante perceber como a agilidade no processo de transferência do PIX e a rapidez com que as emendas são liberadas criam uma correlação entre dois mundos aparentemente distintos: o financeiro e o político. O PIX, por sua natureza digital e eficiente, representa um avanço na modernização das transações no Brasil, enquanto o processo das emendas parlamentares ainda enfrenta resistência à mudança, com práticas tradicionais de alocação de recursos que carecem de maior transparência e controle.

No entanto, esse momento de transformação no Brasil oferece uma oportunidade única: se a digitalização trouxe mais segurança e eficiência para o setor financeiro, poderia ela também inspirar uma mudança na gestão das emendas parlamentares? O modelo de transparência e agilidade que o PIX promove poderia ser aplicado ao sistema de emendas, garantindo que os recursos cheguem mais rapidamente às suas destinações, com menos margem para desvios e manipulação política.

A proposta do senador Ângelo Coronel, relator da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, de vincular o crescimento das emendas às regras do novo arcabouço fiscal, poderia ser um primeiro passo em direção a essa mudança. Se o sistema de emendas seguisse um modelo mais transparente, semelhante ao que o PIX trouxe para as finanças, seria possível garantir uma distribuição mais justa e eficiente dos recursos, favorecendo os cidadãos em vez de interesses eleitorais.

A comparação entre o PIX e as emendas parlamentares vai além da agilidade na transferência de recursos. Ela ilustra a diferença entre um modelo de gestão moderno e digitalizado e um sistema político que ainda resiste a mudanças mais profundas. O avanço do PIX é um exemplo claro de como a inovação e a modernização podem trazer benefícios para toda a sociedade. O desafio agora é aplicar essa mesma lógica de eficiência, controle e transparência no processo político, especialmente no que diz respeito ao uso dos recursos públicos.

Se a digitalização pode transformar a economia, também pode transformar a política. O Brasil precisa de um sistema de emendas que seja tão eficiente, transparente e acessível quanto o PIX. Só assim será possível garantir que os recursos públicos realmente beneficiem a população e não se percam nas disputas políticas.

 

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