Os dias têm agora no mínimo 48 horas de duração! Esta é a impressão que tenho, quando dialogo com a solidão. Nos longos dias, com suas horas que teimam à estagnação, a vida continua e o mundo segue sua caminhada de um jeito diferente.
Um pouco sensibilizado às vozes exteriores eu ouço os silvos dos navios do porto de Itajaí e os sinos da Igreja Matriz. São sons triviais, mas nunca banais. São reflexivos por si e fazem com que certos sentimentos aflorem de modo assombroso, por vezes. Há um sentimento de frustração pelas tantas coisas queridas, programadas, importantes, que agora caíram por terra, ou seja, certamente nem eram tão importantes assim. Agora o que realmente importa? Sejamos francos conosco mesmos! Se antes tínhamos as mil distrações e atividades que marcavam nosso cotidiano, agora nem mesmo algo muito importante, como o acesso ao trabalho, muitos de nós não estamos conseguindo ter.
Sinto que este mundo é de fato um lugar de degredo. Acho que entendemos melhor agora o sentido do exílio humano! O ser humano tem saudades de sua pátria e em nenhum lugar, em nenhum tempo – mesmo nos maravilhosos – ele se sente plenamente em casa. Tem sempre nos lábios as exclamações da Salve Rainha: a vós bradamos exilados filhos de Eva; a vós gememos e choramos neste vale de lágrimas… Real e consoladora a oração dos filhos à sua querida Mãe.
Entendemos que somos viajantes em trânsito, ansiosos por retornar à pátria. Ser repatriado é o que o ser humano mais deseja, e essa ânsia um tanto obnubilada é o que move em nós o desejo pelo transcendente e naturalmente extrapola nossos limites. Seja a do salmista a nossa atual oração de confiança, agora mais necessária do que antes. “Se eu tiver que andar por vale escuro, não temerei mal nenhum, pois comigo estás. Teu bastão e teu cajado me dão segurança… Felicidade e graça vão me acompanhar todos os dias da minha vida e vou morar na casa do senhor pelos séculos infinitos!” (Sl. 23, 4. 6).
Na fé, na esperança e na caridade, unidos!