Foto: Carlos G. Martins

Em julho de 2018, logo após o noivado, Isabela Heil, 30 anos, e Murilo Habitzreuter, 31, marcaram a data do casamento: 6 de junho. Nesses quase dois anos, o planejamento para o dia que oficializaria o início da vida a dois acompanhou ambos. Reserva de igreja, do espaço para a festa, o vestido e os inúmeros detalhes que só quem já foi noiva ou organizou um casamento sabe que existem.

No início de março, após 80% dos fornecedores contratados, 30% dos convites entregues, o padre responsável pela celebração entrou em contato para adiar a data por conta do novo coronavírus. “Ele, por ter morado já na Itália estava bastante preocupado, mas achei exagero, pois faltava bastante tempo, e ainda não tínhamos casos no Brasil. Então, achamos que até seis de junho estaria tudo certo e ia dar para fazer o casamento. Aí veio a quarentena, fiquei um pouco preocupada, mas com confiança que até junho tudo se resolveria”, relata Isabela, que mora no bairro São Pedro, em Guabiruba.

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No início de abril, porém, a cerimonialista ligou e pediu para o casal procurar uma nova data para ter uma segunda opção. “Meu noivo foi um pouco resistente a ideia, achava que não precisava ver uma nova data, mas eu resolvi então procurar para caso não desse dia seis de junho. Foi aí que me dei conta de como seria complicado achar uma nova data para 2020, pois não conseguia conciliar todos os fornecedores, local e etc.”, conta Isabela. “É triste você planejar tudo com tanta antecedência e, de repente, ter que mudar tudo e não conseguir conciliar todos que você tanto gostaria. Foram semanas tristes com tanta incerteza sobre algo que você planeja há anos, inclusive nossa lua de mel seria na Itália”, confidencia.

Como o de Isabela, muitos outros casamentos precisaram ser cancelados, ainda mais com maio chegando, mês considerado das noivas e das comunhões. A pandemia mudou planejamentos, hábitos e continua abalando a saúde e a economia. A tristeza das noivas, que precisam reconstruir seus sonhos, alia-se à do segmento de eventos, um dos mais atingidos com a pandemia da Covid-19.

Eventos cancelados até 31 de maio

Conforme determinação do Governo do Estado, os eventos estão proibidos até 31 de maio, por enquanto, sendo que a data pode mudar. O cenário é de incertezas.

A cerimonialista RobertaTümmler Wippel afirma que essa pandemia pegou todos de surpresa e prejudicou muito o setor de eventos. “Os casamentos que tínhamos agendados em abril e maio foram transferidos para o segundo semestre, conforme disponibilidade de agenda. Já os eventos de primeira comunhão estão suspensos e ainda não temos previsão de data”, evidencia. “É lamentável essa situação, pois para um evento acontecer ele precisa de meses de planejamento, diversas reuniões para preparação, envolve inúmeros detalhes, vários fornecedores e muito sentimento também, onde a data tão idealizada e sonhada dos noivos e familiares acabou sendo postergada”, completa.

De março a maio, Isair Fischer, da Fischer Decorações e Eventos, do bairro São Pedro, tinha uma média de três casamentos por fim de semana, fora todas as comunhões, que num único dia seriam 14. Ele nasceu nessa área, na empresa iniciada com seu pai, e afirma que nunca viu algo parecido. Com a greve dos caminhoneiros em 2018, as dificuldades foram com a chegada das flores, mas aquele momento não chega nem perto do atual.

“Faz mais de um mês que fiz meu último casamento e tinha 118 agendados até o final do ano. Os de setembro estão agendados, mas os noivos já estão prevendo uma segunda data por precaução. As noivas estão com medo se o pico [da pandemia} vai subir para maio, junho”, afirma ele, ressaltando que o cancelamento de comunhões foi o que mais ocorreu durante o período de quarentena, embora cancelar um casamento seja mais difícil. “As noivas ficam arrasadas, completamente”, conta Fischer.

O espaço de eventos que aluga e realiza muitas de suas festas, está fechado. Sem poder trabalhar, Fischer permanece com seus quatro funcionários, mas deixará de contratar freelancer para os dias que tinha atividades. Ele afirma que seus trabalhadores são como uma família. “Todos são meus compadres, então não vou mexer em nada por enquanto, pois não preciso. Tinha uma reserva guardada, graças a Deus. E eles me entendem e sabem o momento difícil que estamos passando. Eu tinha alguns planos, como a cobertura da quadra e expandir um pouco mais. Queria dois ambientes: um para cerimônias e outro para festas, mas cancelei por enquanto”, diz.

O Guabirubense Buffet e Eventos teve oito eventos cancelados nesse período, alguns já com novas datas programadas, outros esperando a estabilização da quarentena. Sobre os impactos financeiros, a gerente comercial Barbara Sales, afirma que foram grandes, visto que a nova administração assumiu há cerca de seis meses. “Estamos passando ainda por um processo de muitos investimentos e de alinhamento e entendimento dos nossos clientes. Concluímos a instalação das placas de energia solar há apenas uma semana antes do início da quarentena. A parada foi repentina, não tivemos tempo de fazer uma programação ou criar uma estratégia para passar por este momento”, analisa.

Segundo Barbara, até o dia 7 de abril todos os colaboradores estiveram afastados integralmente. Após a data, o estabelecimento voltou com o fornecimento de marmitas. O quadro de funcionários precisou ser reduzido em 70%, sendo 50% afastados e 20% rescindido contrato.

Impactos nas empresas de sonorização

Integram o segmento de eventos, as empresas de sonorização, como as guabirubenses k16 e Profan Brasil. O empresário Cláudio Muller, proprietário da Profan Brasil, conta que recebeu a notícia da pandemia pelos meios de comunicação e já vinha acompanhando a situação na China. “Fomos nos preparando para parar, pois sabíamos que nosso ramo seria um dos mais atingidos ou o mais, pois os eventos são 80% indoor e concentra sempre muitas pessoas”, destaca ele, lembrando que todos os eventos corporativos foram cancelados e casamentos e formaturas adiados, zerando a agenda da empresa. “Foram cancelados 29 eventos nesse período [março, abril e maio], fora os eventos que sempre aparecem durante o mês em exercício”, frisa.

Segundo Muller, a principal dificuldade é a queda em 100% do faturamento, sendo que as despesas continuam, pois é necessário manter a equipe de profissionais para quando a atividade retornar.  “Não demitiremos nenhum funcionário, pois o programa do governo de suspensão de trabalho vai pagar 80% da folha de pagamento e isso ajudou muito a não ter que demitir ninguém”, aponta Muller, fazendo um pedido para que as pessoas prefiram produtos nacionais e façam eventos normalmente para ser possível sair o mais rápido possível desta crise que ainda deverá ser enfrentada.

O proprietário da K16, Derlan Kohler, também pensa que o ramo de eventos será o mais afetado pela crise. “Foi o primeiro que parou e que ainda não voltou”, pontua. “O problema é que ninguém sabe o quanto isso vai durar. Nós, empresários da área, estamos de mãos atadas”, evidencia Kohler, afirmando que já deu férias para seu funcionário e uma das possibilidades é fazer o acordo do Governo Federal. “Todos os eventos até junho estão cancelados, com faturamento zero. Ninguém sabe como o mercado vai reagir, como as empresas vão estar preparadas para investir em eventos”, destaca.

No que depender da Isabela, a noiva do início da reportagem, o setor será reaquecido logo. Ela conseguiu deixar a tristeza de lado e focar em outra data que pudesse conciliar os fornecedores, ou a maioria deles, sendo que um não tinha mais agenda. “O que nos alegra é saber que estamos todos bem e que dia 14 de novembro de 2020 estaremos todos reunidos comemorando o nosso amor”, declara ela, que já tem uma nova data marcada para o seu casamento.

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