
O caminhoneiro vive um sonho, uma paixão. A estrada, é a sua profissão. Entre cargas e descargas, conhece o Brasil todo, praticamente como a palma da sua mão. Sua vida é de chegadas e partidas, de eternos reencontros, de ver o sol nascer em um lugar e estar em outro distante quando a noite chegar.
O motorista é um homem de fé, que tem no São Cristóvão, o santo padroeiro. Também um homem que tem o respeito da população. Quando quis mostrar sua força, com a greve em 2018, o Brasil uniu-se a ele em um único sentimento: “Somos Todos Caminhoneiros”.
A criatividade na rima das frases, é com ele, que as estampa nas bandanas e para-choques dos caminhões. Essa profissão tão antiga, tem data e festa própria. A mais conhecida é o 25 de junho, dia de São Cristóvão. Há outras, porém. Em 1986, o governador de São Paulo, Franco Montoro, promulgou a lei 5.487, que institui o Dia do Caminhoneiro, mas como a lei é estadual, a data só vale para São Paulo.
Em 2009, o governo Federal entendeu que os caminhoneiros necessitavam de uma data nacional para comemorar sua profissão. Mesmo com duas datas em uso, o vice-presidente, José de Alencar, assinou a Lei 11.927, que criava o 16 de setembro, como sendo o Dia Nacional do Caminhoneiro, provavelmente por estar próximo do Dia Nacional do Transportador Rodoviário de Carga, comemorado em 17 de setembro.
Em Guabiruba, a Festa dos Motoristas realizada no Pavilhão de São Cristóvão, bairro Aymoré, é o momento em que há a benção dos veículos e motoristas. Neste ano, por causa da pandemia, não haverá o evento, marcado pela carreata com o São Cristóvão, levado por um caminhoneiro.
Quem já conduziu o santo pelas ruas de Guabiruba por duas vezes foi Leonel Franzen, 56 anos, que trabalha na empresa Trasamilpe há duas décadas. Na profissão, ele está há cerca de 25 anos. “Desde moleque quis ser caminhoneiro”, conta ele, que mora no bairro Rio Branco, em Brusque.

Foto: Suelen Cerbaro/Arquivo Zeitung
Seus pensamentos o acompanham estrada afora, além do rádio, sintonizado na música sertaneja, um dos ritmos preferidos. Toca Marília Mendonça na noite de segunda-feira, 22, por volta das 21h, quando ele parte de Guabiruba para São Paulo, principal destino ultimamente. Ele carrega com ele ainda a fé em São Cristóvão e em Nossa Senhora.
Apesar das inúmeras viagens, Franzen nunca se envolveu em acidente. Vivenciou um assalto, mas considera um quase assalto, pois o caminhão foi recuperado no mesmo dia. Para ele, é preciso ter paciência no volante e muita atenção, principalmente com os automóveis. “Eles pensam que o caminhão segura como automóvel, mas não é assim. O caminhão demora parar. Não para em distância curta”, frisa ele, que tem visto muita imprudência ao volante.
Sonho realizado
“Sempre quis ser motorista de caminhão”, conta Marcio Giovani Wagner Teixeira, 31 anos, morador do bairro Guabiruba Sul. “Sempre viajei com meu pai, vivia com ele pra baixo e pra cima”, complementa.

Foto: Suelen Cerbaro / Arquivo Zeitung
Com 20 anos, Teixeira começou a dirigir truque. Há oito conduz carretas. Tem categoria E na habilitação. O que move sua paixão pelo caminhão é a imensidão do local de trabalho. “A liberdade de trabalhar solto, não só dentro de uma sala”, pontua.
A viagem que mais marcou sua vida foi uma para o nordeste. “Era meu sonho ir para lá e conhecer”, diz ele, que também é marido e pai de duas filhas. A saudade da família durante as viagens é sentimento presente, mas a confiança em Deus e o entendimento dos familiares de que ficar distante faz parte da profissão, torna tudo mais leve de ser vivido. “A gente sai e não sabe se vai voltar, mas com fé em Deus, tudo dá certo. A gente sai de casa, faz as orações. E quando chega agradece a ida e a volta”, diz.
Teixeira já sofreu um acidente. O único, para sua felicidade. Muita atenção é fundamental para que nada de ruim ocorra na estrada. Ele também conta que não tem palavras que descreva a sensação de ver o sol nascer e se por dirigindo e que tem um cunhado que viaja com ele e quer muito ser caminhoneiro. Para quem compartilha desse sonho, ele tem uma dica:
“Não se deve desistir do sonho. Eu sonhava em ser motorista. Graças a Deus hoje realizei meu sonho e faço as coisas com amor e dedicação. Se pensar só no dinheiro, não adianta ser motorista. Isso é para quem gosta, para quem tem paixão”.