Profissionais destacam a importância de brincadeiras que movimentam o corpo por parte das crianças, mesmo nesse período de distanciamento social Foto: Divulgação

Santa Catarina está há quase cinco meses praticando as regras de distanciamento social. Os catarinenses em geral vivem uma espécie de “meia quarentena”. Grande parte dos profissionais já voltaram ao trabalho seja em home office ou de forma presencial, mas as crianças permanecem em casa, aumentando ainda mais a demanda dos pais, que muitas vezes precisam trabalhar, dar conta da casa, das crianças e das atividades on-line.

Diante disso, profissionais da saúde alertam para a necessidade de controle do uso das telas e eletrônicos por parte das crianças. A psicóloga Sara Cuba, que mora no bairro Aymoré, destaca os danos que o excesso pode causar. “Quando usados de forma excessiva, os dispositivos podem afetar o sono, atrapalhar na alimentação adequada, prejudicar a audição, provocar dor nas costas e no ombro – pela permanência em uma mesma posição durante muito tempo, gerar distúrbios visuais, aumentar a obesidade e o sedentarismo, já que as atividades físicas acabam ficando em segundo plano. Além disso, o uso frequente pode originar um atraso no cérebro, que pode afetar o desenvolvimento da linguagem. Aumenta o isolamento e diminui a socialização”, explica a psicóloga.

Sara Cuba, psicóloga

Sara completa alertando para um possível problema a longo prazo. “Como as funções executivas ainda estão em desenvolvimento na criança, os efeitos do vício podem ser devastadores, o que requer uma atenção ainda maior dos responsáveis”, pontua.

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Cartilha orienta os pais

Focado nestas questões, estudantes do quarto período de Fisioterapia da Univali de Itajaí desenvolveram uma cartilha para os pais, baseada nas normas e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o público infantil foi escolhido justamente pela importância desta fase para o desenvolvimento físico e mental do indivíduo.

“Entendemos que na fase de desenvolvimento da criança os pais precisam de algo para entretê-los enquanto fazem suas tarefas e, ultimamente, os eletrônicos tem feito esse papel, mas sabemos o quão prejudicial isso pode ser para a criança a longo prazo”, afirma Bruna Censi, estudante de Fisioterapia da Univali.

Outro integrante do grupo que desenvolveu a cartilha, George Simões, completa destacando o objetivo da cartilha. “É orientar os pais quanto ao tempo correto destinado aos eletrônicos, a importância do sono e de atividades lúdicas para cada idade, mesmo neste momento de distanciamento social”. 

Além de Bruna Censi e George Simões desenvolveram a cartilha Ana Lehn, Emilay Delavy, Leticia Eccel, Victoria Amaral e Yasmin Pedrini. O trabalho é orientado pelas professoras Rubia Mara Giacchini Kessler e Vanessa Ghattas Testoni.

Para divulgar a pesquisa e facilitar a comunicação com os pais, o grupo criou um perfil no Instagram, @saudedacriancafisio, onde as recomendações são postadas de forma clara e simplificada, como o tempo de uso recomendado para cada faixa etária e quais eletrônicos os pais podem ou não liberar.

O dia a dia das mães na quarentena

Orientar os pais sobre as recomendações da OMS é relativamente simples, o difícil é entender a rotina e tudo o que, principalmente as mães, precisam dar conta no dia a dia. Paula Wippel Frisanco, 33 anos, mora no bairro Aymoré com seu esposo Fábio Frisanco, de 37 anos, e a filha do casal Maria Helena Frisanco, de 2 anos e 6 meses. O casal trabalha fora de casa e conta com o apoio da família para cuidar da pequena.

Paula Wippel e família

Apesar de toda a demanda, Paula afirma que consegue compensar e dar conta dos cuidados da filha com o apoio da família e de seu esposo, evitando que a pequena passe muitas horas no celular. “Tentamos fazer com que a Maria Helena não fique o dia inteiro, ela gosta muito de correr, pular, faz de conta. Só que tem momentos, dias, que estão mais bravos, ou chove daí não pode sair na rua, então acaba vendo mais televisão. Óbvio que as vezes tenho que dar uma geral na casa e ela não para, daí acabo dando um pouco do celular pra ver. (Sempre falei que não daria, mas as vezes preciso daquela meia hora pra fazer algo)”, desabafa.

Para Paula, o mais difícil é a incerteza que a pandemia traz. “Mais difícil é a incerteza da doença, muito parecida com uma gripe forte. Incerteza de quando e como isso tudo vai acabar”, frisa.

Elaine Rodrigues, de 44 anos, também reside no bairro Aymoré, e para ela a quarentena tem sido ainda mais difícil. Mãe de quatro meninas, duas já adultas que não moram mais com ela, Elaine trabalha em casa e conta com a ajuda da filha Karin, de 17 anos, para cuidar da irmã Kiara, de 10 anos, que tem Síndrome de Down.

Elaine Rodrigues e família

“Minha filha Karin tem me ajudado com alguns afazeres, mas há muitas coisas que eu mesma tenho que fazer. Trabalho em casa, pois não posso trabalhar fora por conta da minha filha Kiara, que demanda bastante atenção. Ea tem Síndrome de Down e possui algumas comorbidades, por isso demanda diversos acompanhamentos. Minha filha Karin consegue realizar as atividades escolares sozinha, preciso apenas verificar se ela tem feito. Já minha filha Kiara demanda mais da minha atenção, mesmo com o apoio da escola com videoaulas, materiais adaptados e orientações, preciso dedicar um tempo para auxiliá-la. Entendo, essas mudanças e precisamos nos adaptar a este momento inesperado”, conta.

A psicóloga Sara Cuba afirma que diante do cenário atípico as regras no uso de eletrônicos podem ser flexibilizadas. A atenção deve ser  quando há o exagero. “É importante os pais ficarem atentos, pois o uso excessivo gera dependência e prejuízo em várias áreas da vida da criança. Diante disso, é importante ter bom senso e flexibilizar as regras, mas não deixar a criança ficar o tempo todo conectada. Os pais devem organizar o seu tempo para que consiga ficar mais horas com o seu filho e diversificar as atividades”, finaliza a profissional.

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