Em 1927, a revista humorística “Careta” divulgava a famosa charge que atualmente ilustra praticamente todos os livros didáticos de história que tratam do conteúdo sobre a Primeira República Brasileira (1889-1930).
Estamos nos aproximando de mais um pleito eleitoral a nível municipal em nosso país. Embora a charge mencionada já tenha quase 100 anos desde a sua publicação ela ainda pode ser tratada como atual. Vamos contextualizar os fatos para entender esse tema: durante toda a Primeira República, o poder no Brasil esteve concentrado nas mãos das chamadas oligarquias, que eram formadas por ricos fazendeiros naquele momento denominados de “coronéis.” Esses fazendeiros exerciam o controle da política local, estadual e federal. Através de mecanismos de controle, conseguiam se manter no poder e vencer quase todas as eleições. Devemos destacar que naquele período, o voto era masculino e não era secreto. As fraudes eleitorais eram comuns. Para vencer as eleições, um dos mecanismos mais conhecidos era o chamado voto de cabresto, que funcionava da seguinte forma: o coronel prestava favores aos moradores da sua comunidade através de empregos, ajuda financeira, entre outros e quando o pleito eleitoral acontecia, os eleitores eram pressionados, muitas vezes sob ameaças, para que votassem no candidato apoiado pelo coronel (fazendeiro). Dessa forma, os candidatos que tinham apoio dos coronéis quase sempre venciam as eleições. O nome dado a essa prática era “coronelismo”.
Poderíamos dizer: estamos no século XXI e o sistema político mudou. Mas, na verdade nem tanto assim. Vejamos: hoje o voto é universal, não está mais restrito somente aos homens. O voto também passou a ser secreto. Essas conquistas foram resultado de lutas ao longo do século passado. No mais, podemos afirmar que mudaram apenas personagens do contexto, pois o sistema do coronelismo e o voto de cabresto continuam atuais. Não existem mais coronéis que sejam fazendeiros, porém a prática de prestar favores em troca de votos e a pressão sobre os eleitores continuam a existir camufladas em outros personagens.
Uma reflexão interessante para percebermos que ainda temos muito o que evoluir politicamente em várias questões. Por mais que diversos grupos políticos defendam nos palanques (e nesse ano de pandemia, nas redes virtuais) a “nova política”, o estudo da história nos permite compreender que mudaram os personagens, pois continuamos a conviver com práticas que reafirmam apenas a velha política.













