Histórias que conectam
Estava com saudades de contar a história das casas, talvez justamente por isto hoje vamos conhecer a jornada de Azaléia, uma querida cliente que viveu sua harmonização em três moradas diferentes. Tudo começou na casa vazia. Sim, este era seu cantinho há mais de 10 anos, e com exceção da cozinha e a pilha de caixas no quarto, não havia indícios pessoais na casa. A cada reunião online, conforme íamos conversando, pude compreender as camadas mais profundas dela e aquilo que estava encaixotado.
Divorciada há alguns anos, pouco após terem se mudado para esta casa, ela viu sua vida mudar do dia para noite. Com uma filha para criar e o trabalho assalariado lhe consumindo todo o tempo, eis sua válvula de escape da realidade. A dor ficou encaixotada com seus pertences e assim passou o tempo até o início da pandemia. Foi quando a filha saiu para cursar faculdade fora e o trabalho se tornou home office.
Agora não tinha mais escapatória. Não tinha como não ver aquelas paredes brancas. Aquela sala de estar sem sofá, sem nada além de uma televisão. Ela amava plantas, mas não tinha nenhuma. Ela amava arte, mas não havia uma peça sequer, acreditem, eu olhei cantinho por cantinho, e nada. Era uma casa vazia, de uma alma buscadora. Sim, digo buscadora, pois ela ansiava o pulsar da vida, o brilho nos olhos e frio na barriga.
Mas tudo se perdeu quando seu relacionamento se rompeu. A ferida ficou aberta, latente e exposta. Não dava para ignorar. Mas sabem a melhor parte? Ela não havia me contratado para harmonizar este lar. Exatamente, ela estava comprando um apartamento na planta baixa e já idealizava morar nele, com tudo lindo, tudo cheiroso e harmonioso. Um belo conto de fadas. Mas como esta é a vida real, o buraco é mais embaixo, e foi o que eu lhe disse:
- Olha Azaléia, eu prezo por lhes trazer uma visão mais ampla, pois acredito no poder de enxergar além e ter as ferramentas necessárias para mudar nossa realidade, e claro, mudá-la para melhor. Por isto lhe digo, é essencial você olhar com carinho para sua morada atual antes de começar a pensar em harmonizar a casa nova, que nem está pronta ainda.
Adivinhem? Ela relutou muito, seguimos com a consultoria de harmonização da casa nova, mas passava mês após mês e aquela obra só atrasando e tudo “dando errado”. Novamente comentei da importância de olhar para aquela morada, pois só assim as coisas iriam fluir com leveza… e finalmente ela aceitou e optou por contratar a consultoria expressa. Dentro do tempo disponível eu busquei transmitir todas as nuances do que aquele lar estava me comunicando. Ela ouvia e refletia sobre, se identificando com cada aspecto. Mas infelizmente, colocou muito pouco em prática.
O suficiente até o desenrolar da nova morada, quando ela se deu por satisfeita e interrompeu o movimento que estava realizando na casa vazia. O resultado? Não deu outro. Ela se mudou para o novo lar, tudo lindo, o projeto de interiores que acompanhei desde o início, a decoração e harmonização totalmente integradas. Magnífico. Mas ela não estava em sintonia com aquele espaço. Sua alma buscadora precisava se curar e a chave para esta transformação estava na casa vazia. A qual precisa ser florida de novo, ter aquele doce aroma de bolo, que ela tanto gostava e música gostosa de fundo, enquanto ela se via naquele espelho e acolhia sua alma.
A alma buscadora só precisava ser acolhida. Ela não queria ser negligenciada. Nem trocada pela casa dos sonhos, que eram apenas sonhos de uma alma fragmentada. Toda aquela beleza, toda aquela leveza do novo lar empertigaram demais Azaléia. Ela não suportou nem um ano ali. Em busca de si, ela não se enxergava ali, estava tudo muito distante, realmente como um sonho de um lar feliz. Mas a alma da buscadora precisava da casa vazia, para ali colocar vida, dia após dia. Apartamento vendido, não tinha mais volta. Próximo passo? Se mudar para uma casa nova. Sim, ela fez isto. Não, não adiantou eu dizer que os problemas iriam persistir, afinal, seja qual for a casa, de uma forma ou outra, irá revelar sua alma, pois ela é só um espelho seu. Mas a alma buscadora foi se aventurar no mundo afora, quando na verdade a resposta estava dentro. Afinal, seja qual for a morada, ela sempre pode te levar a acessar seu mundo interior.