Ao passar pela porta da chocolateria San Nicolau, o cheiro inconfundível do chocolate caseiro, produzido na pequena fábrica do bairro São Pedro, de Guabiruba, invade as narinas dos visitantes, que logo se transforma em água na boca, aguçando todos os sentidos. Os ovos de páscoa e as pequenas lembrancinhas da festividade, lembram que uma época gostosa está para chegar, uma época que tem gosto e cheiro de chocolate!

Em maio de 2011, Maria Lurdete Huber, 62 anos, foi confrontada por seu filho Nico, “mãe, vamos abrir uma fábrica de chocolate?” O desafio assustou: “tais fora! E a Clarice?”, respondeu Maria Lurdete, pois ainda atuava na chocolateria Tia Lice. Mas, mesmo assim, o desafio foi irrecusável. 

- Publicidade i -

Lurdete trabalha há 23 anos com chocolate, de 1997 à 2011 atuou na chocolateria Tia Lice, também em Guabiruba. O amor e carinho pelo trabalho eram muito grandes, mas o desafio falou mais alto. “A gratidão que eu tenho por ela é grande, pois trabalhei muitos anos lá, as pessoas que trabalhavam comigo, o amor pelo serviço que eu tinha lá, era muito lindo. A amizade e o amor que eu tinha por aquele trabalho a Clarice nunca duvidou disso, saí com uma dor no coração”, conta Lurdete.

Dias depois, a matriarca da família decretou: “Vocês querem fazer isso mesmo? Então é o seguinte, tem que trabalhar”. O desafio foi aceito pelo filho Edmilson Nicolau Huber, o Nico, hoje com 37 anos, e sua até então namorada Janaina Savczuk Huber, hoje, esposa. 

Na época, Nico trabalhava em uma estamparia no Centro de Guabiruba e levava um isopor com chocolates para vender aos colegas de trabalho. Fizeram uma prateleira pequena no corredor da casa, onde ficavam expostos alguns sabores que eram divulgados para a vizinhança. Os funcionários da Komar, empresa parceira da estamparia em que Nico trabalhava, também se interessaram pelos chocolates.

Em pouco tempo, toda a família foi envolvida na produção dos doces, mesmo ainda distante do período da Páscoa. A identidade da San Nicolau foi formada aos poucos, chocolate por chocolate. “Eu queria tudo diferente do que já era comercializado aqui. Queria formas diferentes para que a gente oferecesse um produto diferenciado. O que deu certo”, enfatiza Lurdete.

A casa também foi modificada. A antiga garagem se tornou a loja dos chocolates, a cozinha de fogão à lenha virou a cozinha para a produção de chocolates. A lavanderia se tornou o banheiro para os clientes. 

A primeira Páscoa, nenhuma fábrica de chocolate esquece…

A família vendeu bem em seu primeiro Natal, mas não tinha ideia do que lhe esperava na primeira Páscoa. “A gente começou a comprar as formas, três de um tipo, quatro de outra. O chocolate nós compramos no pinga a pinga nos atacados por aí. Minha mãe fez três ovos de 800 gramas e eu pensei, nossa, se a gente vender esses três ovos está ótimo! Veio nosso primeiro cliente e disse: ‘eu quero cinco deste e 15 daquele’ uma loucura!”, relembra Nico.

Os pedidos não paravam de chegar, um atrás do outro e toda a família se envolveu em um ritmo de trabalho frenético, com horas e horas seguidas de produção. “Eu tinha um bloco de pedidos enormes, eram uns 50 pedidos para entregar em três dias. A nossa primeira Páscoa ficou na história, a gente não dormia”, conta Nico. Lurdete completa: “No domingo de Páscoa, ao meio dia, ainda tinha gente aqui esperando a encomenda, porque queriam o nosso chocolate. Eu fiquei fora! Não sei como eu conseguia trabalhar tanto, eu cheguei a dormir em cima de uma pizza”, completa.

De geração em geração

Hoje, quem ainda produz a grande maioria dos chocolates San Nicolau é a Dona Lurdete, mas tanto Nico como sua irmã, Carla Marilene Huber Zucco, sabem bem como dar continuidade à produção. “Eu passo tudo para eles, porque pode chegar uma hora em que não vou poder fazer, ou não vou estar mais aqui. Nos últimos dias da Páscoa minha filha ajuda na produção, ela gosta de fazer e é muito rápida”, enfatiza Lurdete.

A família inteira se envolveu na produção para fazer a empresa dar certo. “Na Páscoa, todo mundo se envolve, meu pai, minha mãe e eu ficamos na produção, minha tia nas vendas, minha esposa vem ajudar também e a minha sogra fica com minha filha, todo mundo se ajuda”, explica Nico.

A persistência e disciplina da mãe fez com que os negócios da família caminhassem e se desenvolvessem. “No começo, o Nico e a Carla achavam que seria fácil, levavam como se fosse apenas um complemento da renda e eu via que aquilo não podia continuar. As coisas estão assim hoje muito por persistência”, enfatiza.

Paixão pelo que se faz

Em cada fala de Nico e sua mãe, Lurdete, o amor pelo que se faz é expressado. Nico, dentre as inúmeras opções que comercializa tem o seu chocolate favorito. “O meu chocolate preferido é o de amendoim com passas”. Já Lurdete, o que gosta mesmo, é de ter um contato íntimo com cada cliente, atendendo cada um de uma maneira única e especial. “Trocamos muitas experiências com as pessoas, tratamos todas com muita atenção, não importa se ela vai comprar muito ou pouco, se a loja está cheia ou não, todos são tratados de forma única”, salienta Lurdete.

O carinho é retribuído pelos clientes que, muitas vezes atravessam o país para comer o chocolate San Nicolau. “Uma casal de japoneses, que mora em São Paulo, veio a Guabiruba e conheceu nosso chocolate, volta e meia eles voltam à cidade e sempre que me vê precisa parar pra me dar um abraço, conversar. Enquanto eles não falam direito com a gente, não sossegam”, completa.

A fama também se espalhou pelos estados sulistas e até quem mora próximo a Gramado, prefere os chocolates San Nicolau. “Umas pessoas foram para o Rio Grande do Sul e levaram os chocolates, quando vieram visitar Guabiruba vieram mais uma vez e levaram chocolate para uns quatro meses. E eles moram próximo a Gramado, mas gostaram mais de vir para cá. Gostaram da Guabiruba”, destaca Nico.

Produção Pré Páscoa

A produção para a data de maior movimento na fábrica começa cedo, à partir do dia 2 de janeiro Nico e Lurdete já começam a preparar a produção para a Páscoa. “Já antecipamos a compra do chocolate, em dezembro nós já recebemos a matéria prima da Páscoa e no dia 2 já começamos com as coisas que dão mais trabalho, como os ovos pequenininhos, os coelhinhos pequenos, as miniaturas que são todas embrulhadas à mão, um a um”, enfatiza Nico.

A produção é 100% artesanal, o que demanda muito mais trabalho e mão de obra. “Todos os nossos chocolates aqui são feitos manualmente. A única máquina que nós temos é a que derrete o chocolate o resto é tudo feito à mão”, complementa.

Impacto Covid-19

O novo Coronavírus (Covid-19) pegou a todos de surpresa, e a San Nicolau não foi diferente, diante das repentinas mudanças e novas regras para o comércio, a empresa teve que se adaptar e realizar algumas mudanças. “Está bem complicado, essa Páscoa está sendo um desafio bem diferente, pois ninguém nunca passou por esse cenário atual do Brasil e do mundo. Mantivemos as portas fechadas e paramos a produção para preservar principalmente a nossa saúde e após o dia 1º de abril começamos as vendas pelo WhastApp e dia 4 a gente pôde abrir as portas da loja”, comenta Nico.

Com a paralisação, muitas empresas cancelaram os pedidos. “Graças a Deus com a loja aberta a gente conseguiu dar uma pequena amenizada no estrago que esse vírus está causando, porque o que a gente tinha fechado no mês de fevereiro até meados de 10 a 15 de março tivemos cerca de 80% de cancelamento dos pedidos, que era para empresas, várias desistências mesmo, o que era o nosso forte e acabou quebrando a gente legal”, completa.

Apesar dos desafios, Nico mantém o otimismo esperando que as coisas melhorem. “Mas estamos com a cabeça erguida e vamos para a frente. Estamos fazendo os atendimentos presencial com um limite parcial de pessoas, e estamos vendo como vai ser este fim de semana. Nossos clientes que vêm à loja precisam ter um pouco de paciência, não pode entrar todo mundo”, finaliza. 

1 COMENTÁRIO

Deixe uma resposta

- Publicidade -
banner2
WhatsAppImage2021-08-16at104018-2
previous arrow
next arrow