Janaina Antônia Cavalcante Garcia, 27 anos, é um dos talentos artísticos de Guabiruba nas artes cênicas e teatro. Formada em Administração com Ênfase em Marketing (Uniasselvi/Assevim), carrega no currículo oficinas teatrais, Curso Livre de Teatro (Universo Cênico), entre outros.
Atualmente trabalha como monitora escolar no Centro Municipal de Educação Infantil Rio Branco (CMEI Rio Branco) e na Trama Grupo de Teatro, cujo projeto atual é a websérie Diz que foi Verdade.
A filha de Janira de Sá Cavalcante e Claudionor dos Santos Garcia mora em Guabiruba, Pomerânia, há cerca de oito anos. Antes, residia em Brusque. Ela conta os desafios e satisfações na área artística.
Guabiruba Zeitung: Como você se apresentaria para alguém que não lhe conhecesse?
Janaina Antônia Cavalcante Garcia: Hoje diria que sou Janaina, mas pode me chamar de Jana. Estou monitora escolar, sou artista. Assim como muitos, tenho defeitos e qualidades, sonhos, realizações e algumas frustrações. Estou buscando todos os dias me tornar uma pessoa melhor, para mim e para os outros. Me conhecendo e reconhecendo, o que por um bom tempo havia fugido de vista. A cada dia, conheço uma Jana nova, e entendo que sou muitas coisas e que estou muitas outras. Uma pessoa em constante mudanças e descobertas.
GZ: Quais os desafios de ser artista em pequenos centros como Guabiruba?
JACG: Os maiores desafios, acredito que não só para mim como para todos os artistas locais é conquistar o público e ter o apoio necessário para fazer da sua arte o seu sustento. Dificilmente um artista vai começar sua jornada tendo sua arte como o principal sustento. Assim como eu, muitos ainda precisam ter um emprego fixo em outra área para pagar as contas e conseguir viver. É preciso muito esforço e dedicação para viver da sua arte, que por um bom tempo é o próprio artista que vai financiá-la. É uma caminhada que começa por amor e depois de um tempo a gente percebe que amor não paga as contas. Mostrar que sua arte tem valor, que ela é importante para a comunidade e que vale sim a pena investir nela, é difícil e requer muito trabalho. Por isso, os editais de incentivo à cultura são tão importantes. Através deles é possível manter essa indústria criativa funcionando. Além de também ser possível e necessário os apoios e os patrocínios de fontes privadas. Outro desafio é a construção de plateia, principalmente numa cidade onde as pessoas não têm o costume de consumir a arte local. Quando a comunidade te abraça e reconhece o seu trabalho é mais fácil seguir nesse caminho. Porque sem público não se faz um espetáculo. Sem público não têm o porquê de fazer o que eu faço.
GZ: Há quanto tempo você mora em Guabiruba e o que levou a mudar para a cidade? Há muitas diferenças ou semelhanças entre as cidades?
JACG: Moro na cidade há mais ou menos oito anos. Vim pra cá com meus pais, porque vimos uma oportunidade de sair do aluguel e construir nossa casa própria. Morava em Brusque, onde vivi por 19 anos. Passei minha infância e adolescência lá. Na época que vim para cá trabalhava e estudava em Brusque, então demorei para conhecer de fato a cidade e sua comunidade. Guabiruba é um lugar lindo, com muitas belezas naturais, que só fui conhecer depois de alguns anos morando aqui. Quando cheguei na cidade não enxergava o potencial que enxergo hoje. Brusque é uma cidade maior, e até por isso movimenta mais todas as áreas. Mas Guabiruba tem crescido e mostrado o quanto tem para oferecer. Artisticamente, vejo que cada vez mais os artistas têm mostrado seus trabalhos e movimentando a cultura local.
GZ: Você sempre quis seguir essa profissão?
JACG: Quando eu era pequena pensava sim em ser artista, queria muito fazer aula de teatro. Porém, por falta de informação não via as oportunidades que havia na cidade e acabei demorando para começar a dar vida a esse sonho. Acabei me graduando em Administração com Ênfase em Marketing, por pressão de ter que fazer uma faculdade e escolher uma área para seguir profissionalmente. Não me arrependo de forma alguma, mas eu amo atuar. Fazer um espetáculo e ter o retorno do público com a sua criação, não tem preço.
GZ: Como tem sido trabalhar na área nesse momento de pandemia da Covid-19?
JACG: Desafiador. Não está fácil para ninguém nesse momento. Muitas perdas de pessoas próximas, isolamento social, comércios fechando, pessoas perdendo seus empregos e as contas chegando independente disso. Pessoalmente, passei por momentos de desespero e tristeza, onde me via longe daquilo que mais gosto de fazer, longe das pessoas que amo. Sempre fui muito comunicativa, expressiva, então me isolar foi torturante no início. Minha realidade havia mudado drasticamente. Quando começamos a trabalhar no projeto Diz que Foi Verdade, o maior desafio foi não me sabotar e fazer o que eu sempre amei. Aceitar o “novo normal”, me reinventar, descobrir como criar remotamente e me manter firme durante todo o processo.
GZ: Existem mudanças que você considera que a pandemia trouxe para a área e que serão permanecerão após esse período passar?
JACG: Com toda a certeza, esse formato de fazer arte, fazer teatro, vai sim permanecer, juntamente com os trabalhos presenciais, acredito que o virtual ainda sim será utilizado. Assisti a muitas peças virtuais, onde consegui viver uma experiência boa, mesmo que muito diferente da presencial. Sem contar que o alcance nesse tipo de formato é muito maior e num período menor do que o presencial. O custo de fazer online e presencial também tem uma grande diferença por conta dos gastos que temos quando precisamos de um espaço com uma estrutura maior e com uma gama mais ampla de equipamentos disponíveis. E isso se dá muito por conta de não possuirmos um Teatro Municipal na região.
GZ: Quais artistas você admira?
JACG: Vou falar dos que admiro e que são daqui da região, pois acredito que o que temos aqui é tão bom quanto os que são de fora. Admiro demais o trabalho da Jenifer Schlindwein, Talita Garcia, Everton Girardi, Luciano Mafra, Roner Lucas, Luís Petermann, Fernando Reis, Juliete Silva, K’roll Oliveira e Tiago Roliude. Não posso deixar de fora o Daivid Matias Krause que é daqui da Guabiruba e que está se graduando em Artes Cênicas e que já realizou trabalhos lindos, a Beatriz Zancanaro que abriu a primeira escola de curso Livre de Teatro de Brusque, a Universo Cênico e, Andressa Bragatto que é comediante e que tanto me incentiva. Poderia citar tantos outros e a lista seria extensa demais. Quero dizer que citei especialmente os artistas do teatro e da comédia, mas que há na região muitos outros artistas da música, artistas plásticos, do audiovisual, que estão produzindo e lançando trabalhos incríveis.
GZ: Quais as principais características de um bom ator/atriz?
JACG: Ter comprometimento com os trabalhos, pontualidade, saber ouvir críticas e saber fazer uma autoanálise. Ser aquele profissional que está em constante aprendizado não somente na arte de atuar, mas também explora outras artes como dança, música, artes plásticas, etc. Que entende que ele não sabe tudo e o que eu creio ser mais importante de todas é a entrega naquilo que faz, aquele ator/atriz que toca o seu público com sua arte.
GZ: Quais suas dicas para quem está com planos de seguir nessa área?
JACG: Uma dica é saber que ser ator/atriz não é todo esse glamour que vemos na TV e que não é só decorar texto e subir no palco. Esteja aberto para aprender e se entregar aos trabalhos. Aprenda com seus mestres, leia livros, peças, estude, ator/atriz nunca para de estudar.
GZ: Há diferenças entre o que você imaginou da profissão e o que ela é em realidade?
JACG: Sim e muita. Assim como muitos, acreditava que atuar era só decorar o texto e apresentar. Mas, ainda bem que não é. É muito melhor. Atuar é se doar. Se permitir dar vida a um personagem, é um dos trabalhos mais lindos que alguém poderia fazer. Você mergulha fundo nas características de um ser que vai nascer nos palcos e emocionar muitas pessoas.
GZ: Quais os planos para sua carreira?
JACG: Pretendo continuar nos projetos que possuo dentro do Trama Grupo de Teatro e começar um novo projeto que tenho com um grande amigo meu. Além de investir na minha formação em Artes Cênicas como faculdade e cursos livres na área. Na pandemia pude aprender remotamente, com grandes profissionais com vários cursos ministrados gratuitamente.
GZ: Que outros aspectos você gostaria de destacar?
JACG: Que as pessoas estejam atentas ao que é produzido localmente e que apoiem da maneira que puderem os artistas que admiram. Nossa cidade, nossa região, está cheia de grandes talentos, só precisam do devido reconhecimento para serem capazes de viver e não somente sobreviver com sua arte. Quero também falar da importância que foi a Lei de Emergência a Cultura Aldir Blanc, e o quanto isso ajudou a arte e os seus artistas a sobreviverem nesta pandemia.