Tenho me perguntado como nossos antepassados se comportaram em tempos de crise. É uma pergunta que talvez, neste momento difícil, é feita por alguns de nós. Como eles se comportaram quando se tratava de sobrevivência, como se comportaram quando ainda não havia TV e o rádio não estava ao alcance de todos, como desenharam seu dia a dia quando raramente havia telefone, internet e nenhuma mídia social? Com certeza eles se aproximaram, se apoiaram, e defenderam-se mutuamente.
Em tempos de pandemia, com o “fique em casa”, viver em comunidade e reunir- se presencialmente já não é possível. Alguns de nós procuram e encontram a vida em comunidade (virtual) nas redes sociais como Facebook, Instagram, Snapchat, WhatsApp e Twitter. Mas para um grande número dos nossos idosos, a TV e o jornal impresso talvez continue a ser o melhor meio de se conectar com a comunidade e com o mundo.
Junto com o necessário afastamento social que foi determinado como medida para evitar a proliferação descontrolada do novo coronavírus, o que se observa, de forma crescente, é que começam a surgir outros problemas, tanto de ordem emocional quanto financeira.
Assim, sem qualquer interesse político ou econômico, os convido para uma reflexão madura, que passa por algumas considerações principalmente com relação à Europa cuja experiência, por vezes, tem sido utilizada como subsídio para tomada de decisões aqui no Brasil:
- Não temos um histórico mundial na história recente que nos dê subsídios seguros para tomada de decisão.
- A Europa não vive crise semelhante desde a 2ª Guerra Mundial.
- A Europa é muito diferente do Brasil. A população da Europa é mais idosa. No Brasil, menos de 16% da população tem 60 anos ou mais.
- Na Europa, muitos idosos costumam viver sozinhos, em seus lares, até onde é possível. E esse “até onde é possível” significa, muitas vezes, até os 80 anos ou mais. Significa que, em alguns casos, mesmo doentes e dependentes, continuam a morar sozinhos e são atendidos por algum enfermeiro ou cuidador que passa na residência do idoso uma ou algumas vezes por dia para garantir que a medicação seja aplicada ou consumida. Isso significa, também, que os próprios idosos saem de casa e, muitas vezes, vão com o andador (que já tem uma cestinha de compras acoplada) até o mercado, farmácia, padaria, ou levar o andador para regular ou consertar alguma roda numa oficina de bicicletas. Ou seja, uma situação bastante diversa da nossa realidade brasileira.
- Além de ter uma população mais idosa, muitos países da Europa dependem do trabalho de pessoas do Leste Europeu, principalmente da Polônia e da Romênia. Com as fronteiras fechadas, estes trabalhadores não podem entrar nos países onde trabalhavam. A Alemanha, por exemplo, depende destes trabalhadores para cuidar dos idosos, dos asilos, casas de repouso e para o trabalho nas colheitas. Neste momento, Primavera por lá, safras estão se perdendo no campo por falta de mão de obra para o serviço braçal.
- O Europeu não costuma ficar na rua como nós, brasileiros. Muitas cidades – principalmente as pequenas, tem movimentação mínima de pessoas e veículos. Eles não são tão “sociáveis” como nós. Normalmente saem para se deslocar para o trabalho, escola, ou para comprar o que precisam. É basicamente um movimento de ir e vir. E eles consomem bem menos que nós, brasileiros, pois não costumam consumir tantos supérfluos e nem se preocupam tanto em “estar na moda”.
- O clima na Europa é muito diferente do clima no Brasil.
- A genética, o DNA do europeu, é diferente da do brasileiro, que já está habituado e enfrenta uma série de doenças e privações que na Europa são desconhecidas.
- Aqui em Santa Catarina – principalmente na região dos Vales do Itajaí, temos uma indústria pujante que, rapidamente, pode adequar sua linha de produção e produzir uma quantidade gigante de máscaras. Não só máscaras simples, de tecido, mas também com diferentes filtros, densidades e qualidades. Também podemos produzir as roupas de proteção – de plástico, como vemos nos noticiários. Esse material será muito importante para os nossos profissionais de saúde, tão importantes neste momento e que, talvez, serão os mais afetados.
- Algumas indústrias que produzem para o mercado automobilístico talvez possam converter parte do seu processo produtivo para produção de ventiladores para os equipamentos hospitalares.
- O Brasil tem grande capacidade de produzir álcool em gel, pois plantamos a cana de açúcar.
- E, além de suprir a demanda interna, talvez ainda possamos exportar alguns destes itens. Os que conhecem um pouco de história devem lembrar que foi durante a 1ª Guerra Mundial que a nossa indústria têxtil dos Vales do Itajaí conseguiu sair do endividamento e se desenvolveu a passos largos, exatamente por produzir para a Europa o que ela precisava consumir e não conseguia produzir durante a guerra.
Nenhum de nós sabe como a situação vai evoluir. Provavelmente as maiores provações relacionadas à pandemia do Covid-19 ainda vão chegar. E cada um de nós, como líderes, formadores de opinião, não podemos nos olvidar, precisamos nos ajudar, e ajudar aos demais, para que – juntos – consigamos passar por este momento difícil.
Como mencionei acima, este texto não tem qualquer interesse político ou econômico, e não faz juízo de valor. Trata-se apenas de um convite para uma reflexão madura, à qual nós não podemos e não devemos nos furtar.
Mantenham-se saudáveis e cuidem-se!