(Créd. da foto: Divulgação)

Existe uma entidade que ajuda as mães com dificuldades na amamentação. É a Anjos do Peito, que tem na sua história a enfermeira Angelina Lucia Tarter. “Há quase 22 anos a Anjos do Peito faz parte da minha vida, é o que me faz sentir viva e valer a pena estar neste mundo”, diz.

Angelina trabalhou de 1982 até 2006 no Hospital Evangélico de Brusque, hoje Hospital Imigrantes e Maternidade. De 1982 a 1989 atuou no berçário, de 1990 a 1994 foi parteira e auxiliar de enfermagem e de 1994 até 1996 coordenou o setor materno infantil.

Formou-se em Enfermagem em 1994 na Univali. Dois anos depois, em 1996, foi enfermeira do Serviço Social da Industria (Sesi) e de 1999 a 2002 enfermeira clínica na Uni Duni Tê. “Nesse momento, durante o teste do pezinho, percebi que a maioria das mães tinha dificuldades ou intercorrências em amamentar. Então, eu e Sandra Almeida, na época coordenadora da clínica, fizemos um projeto de assistência denominado Nascer e Viver com Saúde, que auxiliava as mães na amamentação durante o teste do pezinho e continuava o auxílio em domicílio, após o expediente, fins de semana e feriados”, lembra. “Era um serviço por conta própria e para muitas famílias carentes. Na maioria das vezes, metade do meu salário era gasto com gasolina e produtos utilizados no atendimento”, pontua.

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Em 1999, Angelina começou a ministrar palestras sobre aleitamento materno e cuidados com bebês nos cursos de gestantes em Brusque, Guabiruba e região. Dois anos depois, passou por processo seletivo na Prefeitura de Brusque e, na Policlínica, trabalhou com crianças e gestantes, quadro de desnutrição e atendimento em aleitamento materno, atendendo nas horas de “folga” mães em domicílio. “Em abril de 2007 passei no concurso público da Prefeitura de Brusque e em 1º de junho de 2007 implantei o programa Anjos do Peito na Policlínica. Consegui duas técnicas em enfermagem para auxiliar no atendimento às mães na Policlínica, hospital e domicílio”, relata.

Guabiruba Zeitung: Como surgiu o nome Anjos do Peito?

Angelina Lucia Tarter: Em meados de 2003 coloquei o nome Anjos do Peito, pois quando chegava no domicílio as mães falavam chegou meu anjo do peito para me salvar.

GZ: Como iniciou o banco de leite da entidade?

ALT: Em junho 2007, Adalto e Sandra Barbosa com a filha Thalita de dois meses me procuraram, pois Thalita saiu do hospital tomando fórmula e não pegava o peito. Nesses dois meses foram oferecidos variados tipos de leite e todos faziam mal. Sandra queria tentar relactar ao peito, tentamos, mas não foi possível, pois a bebê vivia nos hospitais até chegou a ficar 10 dias em UTI. Optei em ofertar só leite humano para Thalita e iniciei uma parceria com banco de leite de Blumenau onde aceitaram pasteurizar leite para a bebê desde que levássemos em média 12 a 15 litros semanais para o banco. Assim começou o posto de coleta Anjos do Peito. De 2007 até 2009 eu e as técnicas de enfermagem Lígia e Isoleti auxiliávamos as mães na amamentação e coleta de leite domiciliar.

GZ: Quando a Anjos do Peito saiu da rede pública?

ALT: Em 2010 percebi que não era viável ou não era que eu propunha (atendimento 24hs – 7 dias por semana). Em 29 novembro 2010 reuni um grupo de amigos e fundamos o Instituto Catarinense Anjos do Peito – em 2011 ganhamos o título de utilidade pública municipal e em 2012 utilidade pública estadual. Em 2011, a sede da Anjos do Peito, era na rua Pastor Sandrescky – uma sala cedida pelo dr Delfino. Em 2012 alugamos um espaço maior no mesmo prédio até dezembro de 2013. Em 1° de março de 2013 fui cedida para a Anjos do Peito com salário pago pela Prefeitura de Brusque, o que permanece até o momento.

Em 6 de dezembro de 2013 mudamos para a sede atual na rua Azambuja.

GZ: Como funciona o trabalho da entidade?  Deixar fora essa pergunta se não couber tudo

ALT: É feita uma ficha cadastro para quem precisa de ajuda para acompanhar a amamentação até o desmame ou até quando necessitar. Se é solicitado um atendimento domiciliar ou hospitalar é encaminhado para as voluntárias, e se após 15 dias o problema persistir então é feito um agendamento comigo. Além disso, faço consultoria online para outros municípios, estados e país. Também atendemos muitos encaminhamentos de profissionais como pediatras, obstetras, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, nutricionistas e outros. Atendemos na instituição de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e noites e fins de semanas, feriados em caráter emergencial. Nosso atendimento é gratuito.

GZ: Como iniciou a atuação em Guabiruba?

ALT: Começou em 2007 com a nutricionista Silvani Bortolozzo, funcionária da Prefeitura de Guabiruba. Ela fazia as coletas do leite das doadoras de Guabiruba e enviava para Brusque, em contrapartida eu ministrava palestras nos cursos de gestantes e ela e a Lígia faziam atendimentos domiciliares no município.

Em 2012, a Anjos do Peito solicitava voluntárias e veio até nós a Salvelina Pedrini (avó atendida pela ONG em 2011). Ela acompanhou algumas semanas o trabalho para aprender. Desde 2013 quem atende Guabiruba é a voluntária Salvelina, mas deixo bem claro que se após 15 dias não estiver tudo ok é para encaminhar para mim. Às vezes as mães vêm direto para Brusque: faço o primeiro atendimento e peço para a Salvelina acompanhar em casa.

Então, em Guabiruba a Silvani faz coleta domiciliar de leite materno e leva para a Anjos do Peito e a Salvelina atende as mães sob minha supervisão e orientação.

GZ: Existem muitas mães guabirubenses que necessitam de ajuda? Quais são as dificuldades?

ALT: Em média duas por dia. Principais dificuldades são: bebê não consegue sugar o peito, mamilo machucado, ingurgitamento mamário “peito empedrado”, tem leite, mas o bebê não se sustenta, baixa produção de leite, excesso de leite, mastite, bloqueios de canais, entre outros pertinentes ao bebê: choro, cólica, alimentação da mãe, etc.

GZ: Quando é necessário encaminhar a mãe para um médico?

ALT: Na mastite, infecção bacteriana que se não tratar com antibiótico e outros cuidados pode levar a necrose do tecido mamário e outras complicações, além do desmame precoce, fungos mamilares “sapinho” causa uma laceração na região mamilar, dor insuportável, impossibilitando uma amamentação tranquila, além de transmitir sapinho para bebê.

GZ: Há o suporte às mães que não possuem leite e as que possuem bastante podem doar?

ALT: A maioria dos atendimentos é devido a pouca produção ou excesso, então se for excesso, eu falo: para melhorar o teu desconforto ou facilitar a mamada, você tem que esvaziar o peito e ao invés de jogar fora o leite você armazena para doar para outros bebês, ou fazer uma reserva para o filho. Para doação, fornecemos os vidros esterilizados e bombas tira leite, além de termos bombas automáticas para alugar caso as mães queiram armazenar para o bebê. O leite pode ficar um mês congelado.

Se for pouca produção, fornecemos leite humano para a mãe complementar o bebê até que a produção dela seja normal ou o suficiente para bebê e inicio um tratamento para aumentar a produção.

GZ: Que dicas a senhora daria para as mamães que vão amamentar pela primeira vez?

ALT: As mães que nunca amamentaram têm mais insegurança, medo, etc, do que aquelas que já tiveram alguma experiência, mas cada gravidez ou filho é diferente. Atendo muitas mães que primeiro ou segundo filho foi tudo bem e no terceiro teve dificuldade, pois o amamentar não é só um ato físico, comportamental ou que se possa fazer uma programação. Depende do tipo de nascimento, idade da mãe e idade gestacional do bebê, tamanho do peito e do bebê, se tem prótese de silicone, se fez outras cirurgias nas mamas, muitas outras. Aconselho a todas as mães a buscar informações durante a gravidez (faço esse acompanhamento da gravidez até o desmame) nas redes sociais ou grupos de mães no WhatsApp. Só depois que o bebê nasceu que podemos auxiliar melhor esse processo da amamentação, porque depende do binômio mãe-filho.

GZ: Como a entidade se mantém?

ALT: Basicamente a manutenção da entidade vem de doações das pessoas que recebem nossa ajuda e se sensibilizam e dos pedágios Também de eventos beneficentes e rifas, bingos. Em Brusque temos alguns profissionais liberais ou empresários que fazem doação mensal, mas que no total não chega a R$ 1 mil. Às vezes, recebemos quantias esporádicas de doadores. Temos convênio com o Samae de Brusque, para quem deseja ajudar mensalmente. Essa arrecadação não ultrapassa R$ 1,5 mil mensais.

Como nessa pandemia as arrecadações dos pedágios não ocorreram, nós estamos alugando bombas extratoras de leite, com valores variados de R$ 30 a R$ 100 mensais, dependendo da bomba.

Em Guabiruba desconheço algum apoiador mensal, mas nesses 10 anos de fundação, tivemos muitas doações de guabirubenses, umas delas foi a doação de móveis para o lactário do empresário da lc malhas em 2014.

GZ: Se alguém quiser ser voluntário da ONG é possível?

ALT: Exigimos um requisito: ser pós-graduado em querer ajudar o próximo e as mamães. Guabiruba está necessitando de mais voluntários, pois está sobrecarregando a Salvelina. Em Brusque também, qualquer tipo de ajuda, atendimento às mães, na área administrativa, organização e limpeza, motorista na coleta de leite, etc. Não importa o tempo. Pode ser todos os dias, uma vez por semana ou por mês.

GZ: Tem algo a mais que deseja destacar?

ALT: A dificuldade é não ter dinheiro para pagar aluguel e todas as despesas. Por isso às vezes acordo com a ideia de desistir de tudo – cansa muito ficar correndo atrás de dinheiro. Se tivéssemos uma receita financeira mensal de R$ 15 mil, poderíamos contratar profissionais e manter a instituição aberta até as 22h e com sistema de rodízios de plantonistas, além dos voluntários. Nosso apelo é aos empresários ou profissionais liberais ou qualquer cidadão que queria ajudar mensalmente.

Para entrar em contato com a Anjos do Peito

Sede (horário comercial): 3351- 7786

Enfermeira Angelina:  9 9989-2642

Plantão: 9 8423-5266

E-mail: anjosdopeito@gmail.com

Guabiruba – Voluntária Salvelina Pedrini: 3351-0838 e 9 9209-5653

Quadro de voluntários em 2021

Voluntários que atuam no administrativo: serviços gerais /organização, motorista, coleta de leite: 4 pessoas (motorista Amanda Fain – 4 h/s; administrativo Luzelene Zimermann- 20 h/s; serv. Gerais; organização = coleta de leite domicílio – Laura Bresciani 40h/s)

Enfermeira: Angelina Lucia Tarter (24h)

Técnicas em Enfermagem- Ligia Pedrini e Bianca (também doula) – atendem na sede, domicílio, hospital e faz coleta de leite

Luzia Knaul- atendimento domiciliar

Salvelina Pedrini- mora em Guabiruba, mas por ter uma motocicleta Biz da Anjos do peito, atende também as mães de Brusque, quando solicitada e se tiver disponibilidade.

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