“Eu não consigo me olhar no espelho”. Esse é o relato da maioria das meninas que são acolhidas na casa missionária Nossa Jerusalém, situada em Guabiruba. Com um histórico de dependência química, prostituição, alcoolismo e vivência nas ruas e até problemas psiquiátricos, as mulheres que chegam na instituição não se reconhecem mais como seres humanos, perdendo quase que completamente suas dignidades.
O casal Kátia e Márcio Mendes transformaram o local que antes era uma casa de prostituição em um abrigo para mulheres que precisam de um lar e auxílio para se ressocializar à comunidade e suas famílias. O Jornal Guabiruba Zeitung privou o endereço da Casa Missionária para a preservação das abrigadas e das pessoas que trabalham no local. Desde a abertura, 45 mulheres já passaram por ali e foram reintegradas as suas famílias, ao mercado de trabalho e a uma religião.
A maioria das meninas abrigadas vieram de cidades como Brusque, Balneário Camboriú, Itajaí, Chapecó e outros municípios catarinenses, porém nasceram em diferentes estados brasileiros. Kátia está em Guabiruba há 23 anos e a casa ficou como herança dos filhos, por parte do pai deles. “Há quatro anos o local, que até então era uma boate, foi fechado, porque eu conheci Jesus Cristo e fui transformada, mudando completamente de vida. Eu tinha uma filha dependente química, que faleceu há sete anos (aos 20 anos de idade) e decidi criar um local que abrigasse mulheres, pois há muitas casas que cuidam de homens com dependência química, mas há pouquíssimas para mulheres. Quando eu cuidava da minha filha eu desejei ter uma casa assim para ajudá-la”, ressalta a fundadora.
O local não é uma clínica de reabilitação para dependentes químicos e sim uma Casa Missionária Cristã. “Nosso objetivo é devolver a dignidade das meninas, acolhendo com amor cristão e instruindo em um novo caminho de vida à partir da palavra de Deus. Ajudando-as a desenvolver um caráter cristão, através dos frutos do Espírito Santo que são o amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio, e através destes princípios bíblicos nós ajudamos estas mulheres a reconhecerem suas fraquezas e limitações em qualquer área de suas vidas, tendo do domínio sobre elas”, explica Márcio, também fundador do local.
Márcio precisou de ajuda e encontrou na casa missionária TMAPP (casa masculina com visão cristã que acolhe dependentes químicos e moradores de rua), lá ele recebeu a mesma ajuda que hoje oferece às mulheres que procuram a Casa Missionária Nossa Jerusalém. “Foi ali que eu encontrei exemplos de pessoas para seguir, novos amigos e um novo sentido para a vida”, relembra Márcio.
Durante sua estadia no TMAPP, ele desejou ter uma instituição missionária e conheceu Kátia, através da história de vida dela os dois decidiram fundar uma casa para mulheres.
Rotina
Atualmente, cinco mulheres vivem na Casa Missionária, cada uma dorme em uma suíte e além de cuidar dos seus próprios espaços pessoais, precisam colaborar com as atividades rotineiras do local. “Nós realizamos um rodízio de atividades para que uma valorize o trabalho da outra. Então às 6h45 quem está na cozinha acorda para fazer o café e às 7h15 chama as outras meninas”, ressalta Kátia.
As moradoras da casa são responsáveis pelas refeições, que são quatro por dia, e limpeza do local. Durante o dia, há quatro horários destinados ao estudo da Bíblia.
Ação voluntária
Ao perguntar como a casa se sustenta, a resposta vem quase no automático. “Deus nos sustenta”, afirma Márcio com propriedade. As mulheres residem na casa gratuitamente e apenas as famílias que podem contribuem de forma voluntária.
Hoje, das cinco mulheres, apenas a família de uma ajuda com cerca de R$ 200 por mês. As igrejas e pessoas parceiras que conhecem o local contribuem esporadicamente com alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal.
As mulheres não têm tempo determinado para estarem na casa, assim que decidirem voltar para suas famílias ou abandonar o local, elas podem. Se não conseguirem se reintegrar a suas famílias, os próprios missionários ajudam as meninas a encontrarem um trabalho e após o período de experiência alugarem suas próprias casas.
“A família é muito importante no processo, por isso que buscamos reintegrar as meninas ao seio familiar e convencer as pessoas de que elas merecem mais uma chance. Se não é possível nós nos tornamos a família delas e acompanhamos todo o processo até que estejam bem e seguras o suficiente para caminharem com suas próprias pernas”, salienta Kátia.
As pessoas que desejam conhecer a casa Nossa Jerusalém devem entrar em contato através do WhatsApp da Kátia (47) 997393567 ou Márcio (47) 99696-7071. Uma das principais necessidades são produtos de higiene pessoal mais utilizados por mulheres como absorventes, por exemplo, além de sabonetes, creme-dental, shampoo e condicionador. O número pode ser usado também para indicar meninas que estejam em situação de rua e precisam de ajuda.
Educação
Outra forma possível de ajudar a casa missionária é oferecendo aulas voluntárias de português, matemática e matérias relacionadas ao Ensino Médio, bem como ensinando atividades profissionalizantes, como costura, trabalhos manuais, pintura, culinária entre outros, visto que além de ser uma atividade ocupacional pode ajudar as meninas quando estiverem aptas a voltar ao mercado de trabalho e à sociedade, facilitando o emprego e a conclusão dos estudos.
Por: Grazielle Guimarães / jornalismo@guabirubazeitung.com.br