Muitos foram os motivos para desistir. Muitas foram as dores da mulher que hoje sorri de emoção ao contar sua história e demonstrar sua fé. Uma mulher forte, sinônimo de guerreira, que a cada fatalidade, vestiu-se com a armadura de fé, coragem e determinação. Não deixou-se abalar pelos desprazeres da vida. Na perseverança, ela encontrou uma válvula de escape para o sofrimento e hoje afirma com convicção: “A arte me salvou.”
Ao chegar em sua residência, não se pode deixar de botar reparo. A rua era estreita e de chão batido. Chegando ao seu fim, depois de 100 metros, podia-se ver um belo jardim com gramas e plantas. Entre as árvores, tinha um chalé de madeira em formato triangular. Era a casa dela. O lar da artista. Em seu interior, uma decoração combinada entre o rústico e o clássico. Pinturas em diversas superfícies. Quadros, vasos, armários. Tudo era pura arte. Arte feita por ela.
Trajetória
Desde pequena, Brunildes Fuckner teve a arte correndo em seu sangue. Ela conta que quando ia para a roça ajudar o pai, ao invés de plantar, colher e limpar, ela fazia artesanatos com folhas, gravetos e argila que colhia na beira do rio. Com sete anos aprendeu a fazer crochê e também começou a manusear a máquina de costura da mãe para fazer roupinhas para as bonecas. Um dia, quando foi à Brusque visitar uma amiga, descobriu o tricô e ficou encantada. Chegando em casa pediu ao pai para fazer agulhas de tricô com bambu e então começou a tricotar. Estas características, dentre outras, podem a definir como uma mulher autodidata.
Natural do Lageado Baixo, Brunildes conta que a descoberta da paixão pela arte aconteceu a partir de um trabalho de escola do filho. Ela tinha que ajudá-lo a produzir um cacho-de-uvas com garrafa, bolinhas de gude e massa epóxi. “Foi a partir daí que eu comecei a gostar mesmo de artesanato.” Na época, Brunildes morava em Paranaguá, no Paraná, e decidiu investir em um curso caro. “Tu nunca vais conseguir esse dinheiro de volta fazendo essas coisinhas”, disse o marido. Tal frase instigou Brunildes a ser perseverante e mostrar que ele estava equivocado. “Como e quando eu não sei. Mas eu vou te devolver cada centavo.” Tempos depois, em 1982, Brunildes estava fornecendo seu artesanato para 38 lojas, desde Brusque até São Paulo. Construiu uma fábrica e por 13 anos, prosperou do seu trabalho. “Eu construí um atelier, um sobrado e ainda paguei a faculdade dos meus filhos só com o dinheiro do artesanato”, conta.
Por ter um bom coração, Brunildes não se contentava em apenas vender o seu talento. Ela também trabalhou de forma voluntária em uma clínica psiquiátrica. Dentre traços e quadros, a artista tratou pacientes dos mais diversos traumas apenas ensinando a se expressarem por meio da arte. Um caso que ela destaca é de um paciente traumatizado pela multidão. Após alguns trabalhos, ele recebeu alta da clínica sendo tratado somente por Brunildes. “A última conversa que tive com ele foi quando recebi o convite de formatura. Ele estava se formando em jornalismo em Curitiba e até morava em uma república. Para quem não saía do quarto, isso foi possível acontecer com quatro quadros sem nenhuma medicação”, enfatiza.
Naquele tempo, Brunildes não sabia o que estava à sua espera. Um divórcio, depressão, quatro tipos de câncer, 11 dias em coma, a perda de um filho e do segundo marido e um incêndio no atelier não foram páreos para sua perseverança e fé em Deus. Foram várias as vezes que pensou em desistir, porém, só pensou. “Não desistir da arte me deixou em pé.” Numa consulta com seu médico, a artesã recebeu o conselho que, possivelmente, pôde tê-la salvo de mais um câncer. “A única coisa que vai te ajudar é descansar em um lugar tranquilo, sossegado e com alimentação saudável”, disse o médico. Brunildes já morou em 25 cidades em cinco estados diferentes. Mas, por motivos de saúde, decidiu voltar para sua casa em forma de chalé no Lageado Baixo.
Arte
Além de produzir 70 tipos de artesanato, Brunildes Fuckner também pinta quadros. Suas inspirações vão de Rembrandt a, seu colega, Silvio Mattos. Ela afirma que, até hoje, já coleciona aproximadamente 800 quadros em seu currículo. 50 deles foram vendidos para clientes dos Estados Unidos. Ela também já ministrou vários cursos e palestras. Porém, os grandes feitos que Brunildes ressalta são a exposição de artes recicláveis que fez na rede Globo e a restauração de um quadro do pintor francês impressionista Claude Monet. Na época em que trabalhava em uma loja de restaurações, Brunildes recebeu um quadro leiloado para restaurá-lo. “Eu mal podia acreditar que tinha que trabalhar em um Monet original!”
Hoje, aos 70 anos, Brunildes afirma estar feliz com seu trabalho. Ela gosta de tudo que é belo e bem feito. Do simples ao sofisticado, do rústico ao clássico, do antigo ao moderno. Mas sente-se realmente realizada com a pintura em tela espatulada. Apesar de ter tido uma vida intensa, ela demonstra gratidão por cada dia vivido. “De manhã, ao invés de chorar pelas minhas perdas, eu agradeço. Hoje eu vivo uma vida tranquila fazendo o que eu gosto. Sou agradecida a Deus por tudo, então eu sou feliz.”
Atualmente, a artista aceita encomendas de telas e artesanato, além de propostas para ministrar cursos dos mais variados tipos de artesanato e pinturas. Seu contato é o fone/WhatsApp 47 9 9998-2430.
Inspiração
“Percebemos com o exemplo da artista Brunildes o amor pela arte e o quão poderosa ela pode ser na vida de uma pessoa, sendo para além de uma renda extra. A arte cura! É gratificante trazermos à conhecimento da população guabirubense trabalhos como este, pois é também papel da gestão cultural municipal servir de vitrine para a classe artística. Que ela ainda possa inspirar muito mais pessoas com a sua história de vida e a de sua arte”, ressalta Jenifer Schlindwein.
A superintendente da Fundação Cultural ainda destaca que o fomulário https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScKABBgFMl_agU5cJEAj6uBq_4uOJuL4pjL2jylde1YiiUj_g/viewform está sempre aberto para o cadastro de novos artistas. “O intuito do documento é reunir dados sobre a realidade cultural do município, por meio da identificação, registro e mapeamento dos diversos artistas, produtores, técnicos, usuários, profissionais, bem como grupos, entidades e equipamentos culturais existentes, além de servir de instrumento para busca de informações culturais e a divulgação da produção cultural local.”
Para esclarecimentos ou sugestões pelo fone/WhatsApp da Fundação Cultural: 47 3308-3114. Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 12h e de 13h30 às 17h.