Conhecido como o homem da Bíblia, o aposentado Anselmo Dalbosco, transcreveu a sagrada escritura após a perda da esposa, Santina Stedile, em 2006, depois de 44 anos de casados.
“Eu senti muito a perda dela. Me abateu tanto que eu não sabia mais o que fazer. Mas eu sempre pensava que não deveria desanimar. Vieram me procurar para trabalhar, mas eu já tinha 70 anos”, comenta.
Ele conta que um dia teve a inspiração para fazer esse trabalho e pensando sobre o assunto se deu conta de que ainda não tinha ouvido falar que alguém tivesse transcrito os textos da Bíblia.
Anselmo contabilizou alguns números referente ao seu trabalho. Além dos 15 cadernos, em que estão as 4.820 folhas, ele produziu mais um como índice. Foram usadas 80 canetas. Ele conta que houve bastante contribuição dos amigos, que doaram cadernos e canetas, sabendo do trabalho que ele fazia à época.
Outra relação de números é acerca da própria Bíblia. Ele contabilizou 47 livros no antigo testamento e 26 no novo testamento, 1.451 capítulos e 35.984 versículos, e entre uma frase e outra, ele cita alguns deles como: “Não tenhais medo que eu estou convosco”, que relata estar escrito 365 vezes na obra. “Então pensei, se Ele está comigo, eu vou vencer. Eu passei por uma cirurgia, mas sempre superando, com o caderno e a Bíblia junto e foi um alívio”, comemora.
O material foi produzido em aproximadamente 1.600 horas e levou dois anos e dois meses para ser finalizado. Os volumes estão à sua vista, expostos no seu cantinho, como ele chama a ante sala do quarto, mas guardados em uma caixa de vidro doada por um vidraceiro para proteger o material do ataque de insetos. Ao lado da caixa, em uma garrafa pet, estão as canetas usadas no trabalho.
O homem da Bíblia conta que quase toda semana folheia cada volume para verificar a integridade do material.
“Com esse trabalho eu não recorri a teraputas. O mestre dos mestres é Jesus Cristo e com isso estou ainda hoje aqui”, destaca.
Há alguns anos, no mês de setembro, que é o mês da Bíblia para a religião católica, um padre o convidou para fazer a exposição do material na igreja matriz da cidade.
“Esse trabalho está no ar. E isso me ajuda, ainda me incentiva”, completa.
A família
Anselmo e a esposa tiveram três filhos, Lenir, Tarcísio e Gilmar. E também cinco netos: Ana Júlia, Liz Adriani, Diego, Bárbara e Gabriel. O avô conta que há alguns anos o neto Gabriel sinalizou o desejo de guardar os manuscritos feitos por ele.
Hoje, Anselmo mora na mesma casa com a filha Lenir, o genro Cristiano Lang e dois netos. “Eu tenho uma vida de anjo, tranquilo, não me preocupo com nada. Tenho o meu carro, só que agora ando pouco. A verdade é que tem muita doidice no trânsito. Vou ao mercado, à igreja, visitar um amigo ou outro. Tenho um paraíso na terra”, constata.
Entre outras palavras, ele diz ter um dom de Deus. “Eu não sei me irritar. E aprendi uma coisa: a socos e pontapés não se resolve nada”, complementa.
Para Anselmo, toda parte da Bíblia é importante, mas a parte que diz mais gostar é a que diz, “Amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei”.