Jair Garcia, 44 anos, é um dos proprietários da Malharia Garcia, localizada na rua Guabiruba Sul, próximo à rótula que dá acesso aos bairros Lageado Baixo e Planície Alta. Na terça-feira, 26, ele descia do refeitório, que fica no segundo piso da empresa, por volta das 17h30, quando viu um homem desconhecido próximo de um funcionário. Ele não estranhou, inicialmente, pois pensou ser um amigo do seu colaborador. O homem, com a mão embaixo da camisa, logo anunciou o assalto. “Achei que fosse brincadeira, porque cinco horas da tarde um assalto. Eu fiquei, assim, meio perdido”, relata Jair, que juntamente com o sobrinho Altair Garcia, de 33 anos, administra a empresa.
Quando viu outro funcionário vindo em sua direção acompanhado de um homem com uma arma em punho, ficou mais claro para o empresário que se tratava de um assalto. Os bandidos se aproximaram e renderam todos que estavam na empresa. “Colocaram nós deitados no chão. Quando todos estavam juntos, levaram para o segundo piso. Amarraram todo mundo lá em cima. Deitaram nós no chão e amarraram as mãos e os pés com cinta plástica, que trouxeram com eles”, conta Jair, que chegou a levar um tapa no pescoço por olhar demais para o rosto de um. “Não queriam que a gente olhasse para eles”, evidencia o empresário, ressaltando ainda que a agressão foi leve e que os assaltantes não foram violentos.
A ação dos bandidos durou cerca de 40 minutos. Nesse tempo, eles carregaram um caminhão baú com cerca de cinco toneladas de malha. Os proprietários acreditam que tinha de quatro a cinco envolvidos. “Primeiro chegaram dois de moto. Nós só vimos esses dois primeiros que abordaram nós. Um ficou conosco e outro ficava dando assistência. Ia até lá em cima e vinha até o caminhão. Tinha um na escada que perguntava: como tá aí? Quanto tempo vai demorar para acabar de carregar o caminhão?”, pontua Jair.
Advogado de bandidos chegou antes à delegacia do que vítimas
A empresa tem pouco mais de seis anos e é a primeira vez que é assaltada. O que pode ter encorajado os bandidos é a falta de câmeras de monitoramento e o portão da empresa estar quase sempre aberto, acreditam os proprietários, visto que não possuem problemas com ex-funcionários e compartilham de um bom relacionamento com as pessoas de seu convívio. “A partir do momento que você está rendido, não tem como reagir. O que for fazer, tem que ser antes. Investir em alarme, câmeras para tentar evitar. Se tivesse câmeras, talvez eles teriam receio porque o caminhão seria identificado mais rápido”, frisa Jair.
Altair, que tinha saído da empresa pouco antes do assalto, comenta que um ex-funcionário e a própria polícia passaram pelo local no momento do crime, mas não teriam como saber que se tratava de um assalto, porque caminhão parado carregando em horário de expediente é algo normal. “A empresa recebe caminhões até às 18h. Se eles ligam da tinturaria que irá atrasar, a gente acaba atendendo até às 19h”, explica.
Os bandidos estavam com máscaras normais utilizadas no combate a transmissão do novo coronavírus e não estavam encapuzados. Tio e sobrinho enalteceram o trabalho da Polícia Militar, que segundo eles, foi rápida e os acompanhou em Blumenau para reconhecimento dos autores do crime, além de ficar toda madrugada em função do assalto. “Quando chegamos na delegacia em Blumenau para reconhecer os dois que foram presos, já tinha o advogado deles lá. Ele chegou antes que nós”, comenta Jair.
Dois homens são presos em Blumenau
Os assaltantes teriam atraído o proprietário do caminhão baú contratando-o para realizar uma mudança, disse o dono do veículo, encontrado amarrado dentro do próprio caminhão branco abandonado pelos bandidos no bairro Progresso, em Blumenau.
Conforme a Polícia Militar, quando os policiais chegaram próximo do veículo, avistaram VW/Gol de cor vermelha sair do local em atitude suspeita. Os militares encontraram o veículo no condomínio Parque das Nascentes, também no bairro Progresso, há pouca distância de onde haviam baldeado a carga de malha do caminhão baú para outro caminhão. “No momento estavam saindo do veículo dois masculinos que ao serem abordados, verificou-se a existência de várias passagens criminais”, divulgou a polícia.
De acordo com as vítimas, os dois estavam lavando o veículo para esconder que o mesmo estava sujo de terra por ter passado pelo trajeto entre Guabiruba e Blumenau, via Gaspar Alto. Os policiais de Blumenau contaram para as vítimas que um deles havia saído da cadeia há poucos dias por conta da pandemia do novo coronavírus. Jair e Altair frisaram a importância da polícia no momento. “Só temos que agradecer o empenho dos policiais”, manifesta Jair.
O comandante da Polícia Militar em Guabiruba, Weverton Martins Brandão, confirma que um dos assaltantes saiu da prisão no dia 17 de abril, mas não tem a informação de que seria por causa do coronavírus. Também confirma que ambos tinham passagens policiais por crimes. “A partir do momento em que foi tomado conhecimento da ocorrência, a Polícia Militar de Guabiruba e região envidou toda a atenção para o caso, até por que não é uma ocorrência comum e foi tratada com toda prioridade, operação essa que se estendeu desde o final da tarde até madrugada adentro e culminou na prisão de dois autores”, frisa.