O artista Douglas Leoni realizou, na última semana, a pintura do mural “Povo de Dentro” na sede da Fundação Cultural de Guabiruba. A obra fez parte da programação da I Semana de Artes Visuais do município.
Em setembro, o artista teve uma obra sua apagada na Fundação Cultural de Brusque. A situação gerou polêmica, já que a ação foi realizada sem prévio aviso ao artista e foi considerada um ato de censura. Na ocasião, a Prefeitura de Brusque se manifestou informando que a pintura foi apagada por conta de reparos hidráulicos no local, bem como, o edital que contemplou a obra não previa tempo de exposição.
Para o artista, o convite de Guabiruba lhe trouxe esperança. “Ao receber o convite fiquei muito feliz e sensibilizado. Vemos a arte e a cultura, em diversas partes do país serem atacadas, artistas e obras censuradas. A misteriosa remoção do mural do Povo de Dentro foi um ato de violência. E a Fundação Cultural de Guabiruba, diferente de muitos outros espaços culturais, age com acolhimento. O convite de Guabiruba gera esperança. Essa ação é uma resposta amorosa, poética e alegre contra toda e qualquer forma de censura ou violência”, avalia.
O artista conta que já realizou na cidade trabalhos com performances teatrais e teatro empresa. “O mural do Povo de Dentro é o primeiro trabalho visual que desenvolvo na cidade, sendo também minha primeira parceria com a Fundação Cultural de Guabiruba. O convite foi feito pela própria superintendente, Jenifer Schlindwein, que após o ocorrido em Brusque, colocou o espaço da Fundação à disposição”, conta.
Leoni destaca a atuação de Guabiruba no que se refere a valorização da arte e cultura. “Guabiruba, se continuar nesse ritmo, vai se tornar uma referência na área cultural. Quando a Fundação abre suas portas para artistas de diferentes linguagens e técnicas, ela está ao mesmo tempo celebrando a diversidade artística e concretizando o espaço como um local de fomento cultural e fruição da arte. Não precisamos de obras removidas ou apagadas, mas sim de um aprofundado debate em torno das políticas públicas de cultura. Precisamos de mais incentivo aos artistas e a arte local. E, muitas vezes, esse incentivo acontece com uma ação simples e potente como essa aqui em Guabiruba”, avalia.
Sobre a obra “Povo de Dentro”, o artista diz que ela celebra o coletivo. “A pandemia provou o quanto precisamos ser mais coletivos. Somos multidão, praça pública. O eu só existe, pois existe o nós. Logo, a obra retrata esses olhares coletivos. Também revela, através dos olhares, o estado emocional de cada ser. Não somos apenas corpo. E arte não é meramente técnica. Arte é sentimento, comunicação, expressão do ser humano. O Povo de Dentro vai seguir povoando”, destaca.
O artista conta que fará dois novos murais do Povo de Dentro ainda este ano. “Os próximos projetos são a continuidade da confecção de murais, e, em dezembro, vou realizar um bazar com obras do Povo de Dentro. Para 2022, muitas coisas estão sendo planejadas, como uma nova exposição do Povo de Dentro e a minha volta aos palcos. Enfim, todo esse acontecimento promoveu muitos debates e levou parte da classe artística a pensar e repensar suas práticas e ações. Penso que também amadureci com tudo isso. Estou revisitando minha obra, pesquisando as possibilidades. Muitas coisas boas estão por vir”, conclui.
O convite
De acordo com a superintendente, Jenifer Schlindwein, a Fundação Cultural de Guabiruba e o Conselho Municipal de Cultura da cidade, assim que souberam do ocorrido com a obra e o artista em Brusque, prontamente trouxeram para a pauta de discussões temas relacionados à valorização da arte local.
“Foi unanimidade o interesse de integrar a vinda do artista para a I Semana de Artes Visuais de Guabiruba, como ação de apoio e acalento ao artista. A fundação tem como objetivo claro, conforme lei municipal de criação e Plano Municipal de Cultura, o fomento das mais diversas linguagens artísticas, sem adentrar no mérito de julgamento da arte ou do artista. A arte por si só é arte. Vivemos em um momento delicado para o setor artístico, do qual existe uma polarização que não permite diálogo e muito menos construção de informação. Portanto, beira lugares sinuosos como a censura, a marginalização da arte, desvalorização artística, entre outros exemplos”, avalia.
Jenifer explica que o trabalho de Douglas Leoni em Guabiruba foi remunerado com recursos do Fundo Municipal de Cultura, deliberado pelo próprio Conselho de Cultura e destinado para tais finalidades.
“O resultado está agora em nossa sede, para todos que possam passar e conhecer mais o trabalho e pesquisa do artista. Ficamos felizes com a ação, resultando também em uma roda de conversa ao final da obra, com uma das turmas do colégio estadual prof. João Boos, sempre muito parceiros”, ressalta.
“No caminho da intolerância ou do desafeto entre os seus, a cultura pode se esvair e ao contrário, ela é soma, aprendizado, informação, reflexão, questionamento, educação, e sentimento. Sempre vem para cumprir com seu propósito na sociedade. Que possamos aprender a conversar/debater construtivamente quando se trata de arte!”, completa a superintendente.