Conversar com Hertha Alfarth é como folhear os livros de pintura que ela colore. Aos 85 anos, a aposentada é muitas mulheres em uma.
É filha quando lembra dos pais e de sua infância, esposa quando recorda do marido e da vida que construíram juntos. É irmã, mãe, avó, sogra, amiga e costureira. Já foi babá e faxineira. Também é medalhista dos Jogos Comunitários – ninguém ganha dela em um jogo de trilha. Foi coroada rainha na Gincana da Melhor Idade de Guabiruba e recebeu faixa de miss simpatia. Este título, aliás, com faixa ou sem ninguém tira dela. Dona Hertha é a simpatia em pessoa!
Assim como os desenhos pintados por ela surpreendem com novas combinações de cores, que preenchem perfeitamente as linhas que formam flores, mandalas e grandes jardins, a aposentada surpreende com alegria e senso de humor, em cada história que conta.
Passamos parte de uma tarde quente conversando na sala da casa em que vive com a filha Angelita, no centro de Guabiruba. “Grandes porcaria morar no centro”, diz ela, quando a irmã Anna Maria, a mais nova entre 14 irmãos, diz que já nasceu na área central.
Dona Hertha vem de uma família grande, criada no bairro Aymoré. Sua mãe gestou 14 filhos – 10 mulheres e 4 homens -, sendo que quatro herdeiros morreram antes de nascer. Incluindo ela, cinco ainda estão neste mundo para contar essa história.
E quanta história!
Enquanto conversa, ela passa a mão no curativo acima do olho direito. Tem outro na mão e no cotovelo, todos resultados de um tombo que caiu pela manhã na salinha onde guarda a máquina de costura. Depois do tombo foi socorrida pelo neto. “Sara de novo, né!?”, argumenta ela, dizendo que está tudo bem, mesmo sentindo dor. Alguém sugere uma benzedeira e ela logo diz “essa não tenho fé”, mas faz planos de ir noutra em que confia.
Sua mãe também benzia, já ela é bastante requisitada para fazer xarope para tosse, de guaco com mel. Sempre tem alguém que precisa. “O mel agora está caro, então emendo com açúcar”, conta.
Dona Hertha acorda cedo, mas levanta da cama por volta das 7h. Costuma dormir tarde. Assiste Big Brother e já não é mais fã do Silvio Santos, que agora ficou chato. Todos os dias faz dois pães, lava roupas e costura.
O capricho com os tecidos e linhas é o mesmo dos livros de pintura. Mostra com orgulho os aventais e toucas que costurou. Conta que ganhou R$ 70 com a venda de alguns itens e se surpreende quando a filha diz que, na verdade, foram R$ 300. Com o dinheiro que ganha, não compra “nada especial”, diz ela.
A costureira gosta de viajar. Passou o carnaval na praia com a irmã e já planeja mais oito dias na casa do irmão. O segredo dela para viver bem é não ficar parada. Diz isso enquanto mexe os dedos sob o curativo. “Tem que mexer para não atrofiar”, explica.
Quando era criança, Hertha brincava com cataventos que fazia com folhas de laranjeira. Não ganhava presentes. Sapato? Só na primeira comunhão. Os pais trabalhavam na roça e para sustentar a família vez ou outra matavam uma vaca ou um porco. “A gente comia taiá com melado e a mãe fazia pão de milho”, recorda, como quem sente o gosto nas palavras.
Dona Hertha estudou até o quarto ano. Lembra de esconder os tamancos de couro e madeira na estrada e percorrer o caminho descalça. Aos 13 anos, foi morar em Blumenau para trabalhar como babá. Lá se casou aos 19 anos e aos 20 teve o primeiro filho. Depois teve duas meninas. Esta união também lhe deu cinco netos e cinco bisnetos.
No ano em que foi criada a Oktoberfest ela voltou a morar em Guabiruba, com a família. Trabalhou alguns anos limpando a igreja. Tem várias histórias desse tempo, inclusive de um dia da mulher em que o padre presenteou todas as colaboradoras, menos ela, que perdoou quando ele morreu, mas nunca esqueceu a desfeita.
Nesta data, gosta de ser lembrada, nem que seja com uma flor quando vai ao mercado! Já nos Jogos Comunitários deste ano, ela ainda não se decidiu pela participação. “Ninguém ganha. É chato!”, conta ela, que já ganhou sete troféus e diversas medalhas.
Os melhores momentos de sua história, a costureira recorda com fotografias. Tem lembranças das festas, das danças, das conversas e das vitórias. Tem álbum até dos aniversários que ela não gosta de comemorar. “O que eu tenho de foto dá pra olhar quase o dia todo”, afirma ela.
Nos registros fotográficos, nos desenhos que colore, nas peças que costura e nas palavras que contam sua história, há algo em comum: a alegria que Dona Hertha espalha por onde passa. Pura inspiração!
Coisa mais linda!! Bela e merecida homenagem!! Essa mulher é realmente inspiração pra nós! Sua Alegria de Viver é com toda certeza a sua maior virtude! Pois onde ela está contagia à todos!! Que Deus a abençoe e conserve sempre assim!!!
Dona Hertha, uma pessoa maravilhosa, com um auto astral invejável … Foi nossa Fadinha do Lar , que me ajudou com carinho e muita responsabilidade, a criar os meus filhos, que a chamavam carinhosamente de”Tata”…
Fazia parte da nossa família e tínhamos o maior respeito!!! Para ela, nada era difícil ou incômodo demais!!! Se prontificava para nos ajudar sempre!!!
Gratidão
Essa é minha tia sempre de alto astral sempre sorrindo e brincando um exemplo de mulher PARABÉNS TIA