Por: Grazielle Guimarães
Aos 45 anos de idade, Marcelo do Nascimento coleciona histórias de encenações e apresentações artísticas, inicialmente na comunidade São Pedro e agora, em toda Guabiruba, que recebe turistas para prestigiar o espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre.
Na Associação Artística Cultural São Pedro (AACSP), Marcelo começou jovem como um dos soldados que colaborava com as injustiças cometidas contra Jesus Cristo. Agora, preside a entidade por seis anos, trabalhando junto com uma equipe de mais de 330 pessoas que dão vida ao espetáculo.
Filho de Pedro Hilário do Nascimento e Erna Cecília Nascimento, é casado com Solange Aparecida Silveira Nascimento. O professor de matemática nas Escolas Professor Carlos Maffezzolli e Professor João Boos, Marcelo do Nascimento mora no bairro São Pedro é o entrevistado do Guabiruba Zeitung desta semana.
Guabiruba Zeitung: Como iniciou sua história na Associação Artística Cultural São Pedro?
Marcelo Nascimento: Em 1986 eu participava de um grupo de jovens da comunidade São Pedro, o CEJOPE, ouvi falar sobre as dramatizações que ocorriam na semana litúrgica da Páscoa, encenando o Evangelho. Começamos fazendo por dia, na quinta-feira o lava pés, na sexta-feira a Santa Ceia, condenação e crucificação e no domingo, a gente fazia a ressurreição de Cristo. Meu primeiro papel foi como soldado e desde então continuei participando todos os anos.
O evento começou com a participação de cerca de 30 pessoas. Em nenhum momento pensamos que tomaria o tamanho que o espetáculo tem hoje. O Paixão e Morte foi crescendo e outras comunidades começaram a fazer parte, acolhendo melhor o Evangelho e resolvemos fazer um teatro cada vez maior.
Passamos então para a escadaria da igreja, depois levamos ao salão da comunidade São Pedro onde encenávamos todo o Evangelho até chegar a Santa Ceia, e depois íamos para a escadaria encenando a crucificação e morte. Só no domingo é que fazíamos a ressurreição.
GZ: Como é ver a grandiosidade do espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre?
MN: Hoje, cerca de 450 pessoas estão envolvidas no espetáculo, 330 no palco, encenando e as outras envolvidas na produção do figurino, contra regra entre outras funções. Há três espetáculos nós decidimos chamar um ator de renome para peça. Na época, a diretoria viu que o espetáculo chegou a uma grandeza tamanha, que as pessoas esperavam algo mais, algo novo, e isso viria de um ator de renome, que seria um presente não apenas para o público, como para todos os outros atores envolvidos, como forma de dizer que eles são tão bons quanto o ator renomado.
Me criei vendo o Francisco Cuoco na TV, por exemplo, nunca me imaginei atuando ao lado dele. Vendo ele não apenas batendo fotos como trabalhando conosco.
GZ: O que chama a atenção é que o ator famoso não apresenta o papel principal de Jesus, por exemplo.
MN: Não é o nosso objetivo por justamente não querer desmerecer o trabalho dos nossos atores locais. Quando o Francisco Cuoco veio aqui uma frase dele me marcou muito, ele disse que não esperava aos 80 anos ser presenteado com uma participação ao ar livre, eu completei afirmando; “E onde você poderia juntar 300 atores debaixo de chuva?”. Nossos atores não deixaram de ensaiar porque choveu. Naquele ano, de oito ensaios seis foram com chuva. É algo que nos envolve tanto que no ano que não tem nos faz falta, por exemplo. Em 2020 não teremos espetáculo pois ele ocorre um ano sim outro não.
GZ: Qual espetáculo você achou ser mais emocionante?
MN: O do ano passado foi um dos mais emocionantes, talvez porque tivemos Jesus narrando sua própria história, também foi um dos teatros que a gente aproximou mais a comunidade com as entradas de Jesus e do ator renomado, o Luciano Szafir, pelo público e não no palco. Entregamos também as palmas para que o público pudesse participar da encenação do domingo de ramos, então as pessoas se sentiram parte da apresentação.
GZ: O que você espera do desenvolvimento artístico e cultural de Guabiruba nos próximos anos?
MN: Falando um pouco sobre o espetáculo, é sempre uma preocupação nossa já pensar no próximo, tanto é que já estamos redigindo o texto do próximo espetáculo, até fevereiro ele deve estar pronto, porque em abril iniciamos efetivamente os trabalhos de escolha dos personagens e posteriormente os ensaios. Nós sempre pensamos no que fazer para brindar o público um ano antes.
Outro ponto é que Guabiruba tem crescido muito no âmbito cultural. Nós não tínhamos praticamente nada neste sentido na cidade, nossa associação inclusive era pequena compondo apenas a comunidade do bairro São Pedro e hoje nós temos pessoas inclusive de Brusque participando ativamente do espetáculo.
No sentido cultural, Guabiruba cresceu demais, com inúmeras associações culturais como o Pelznickel, o Maibaum, grupos folclóricos alemão e italiano que fazem parte da associação, além do museu italiano. Além disso temos uma boa parceria com a Fundação Cultural e o apoio da Prisma Cultural.
GZ: Ano que vem teremos a eleição para o próximo governo guabirubense, o que você espera dos novos eleitos?
MN: Espero o que a comunidade geral sempre espera, que eles busquem fazer o máximo possível pelo município, parem um pouco com questões partidárias e trabalhem mais pelo bem de Guabiruba, pelas comunidades, ver as reais necessidades de cada bairro, não deixando de lado o setor cultural, porque o nome de Guabiruba tem se destacado muito bem em toda região e até nacionalmente, por isso, esperamos a continuidade do apoio deles neste sentido.
GZ: Você tem pretensões políticas?
MN: Já fui convidado para me candidatar a vereador, mas não tenho interesse. Meus amigos comentaram até que seria fácil eu ganhar pois sou bem quisto em todas as comunidades, e é exatamente por isso que eu não penso em participar desta forma da política, porque eu quero continuar bem quisto por todas as comunidades.
Sabemos que prometer e realizar são coisas bem diferentes, já tive amigos que quiseram e tinham a intenção de melhorar algo e, no fim, não conseguiram fazer nem 10% do que sonharam e se frustraram com a política.
Olho: “ já tive amigos que quiseram e tinham a intenção de melhorar algo e, no fim, não conseguiram fazer nem 10% do que sonharam e se frustraram com a política”