Crédito: Grazielle Guimarães/Guabiruba Zeitung

Por: Grazielle Guimarães 

Prefeito de Guabiruba por três vezes, hoje, Orides Kormann, 66 anos, vive uma vida tranquila de aposentado. Cuida dos animais de seu sítio, casa, família e marca presença em eventos da cidade que, segundo ele, são em quase todos os fins de semana.

Filho de Harry Kormann e Renata Schumacker Kormann, uma família de cinco irmãos, Orides continua presente nos bastidores políticos guabirubense e revela que acompanha, mesmo que de longe, a atuação pública do município. Conheceu sua esposa, Angelika B. Kormann, na Alemanha e com ela teve três filhas: Eloise, Elisiane e Elisa. É avô de um neto e de duas netas. 

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Encarou as eleições municipais por seis vezes: venceu três e perdeu três. Como ele mesmo diz, foi persistente e empatado nas vitórias e derrotas eleitorais.

Guabiruba Zeitung: Por onde anda o Orides Kormann?
Orides Kormann: Depois de muitas lutas, nesse exato momento, estou aposentado. Claro que sempre tem alguma coisa para fazer, criação de animais, hortas, trabalho sempre tem né?! Acompanho as festas da cidade, são diversos convites, e a política sempre está presente, não consigo me desligar. Também seria injusto com o povo que me apoiou tanto eu abandoná-lo agora, então, estou sempre participando.

GZ: Como iniciou sua trajetória política?
OK: Fui candidato pela primeira vez em 1988. Eu tinha saído de Guabiruba, ficando sete anos na Alemanha, pois estava muito difícil morar na cidade. Eu estudava pela manhã, trabalhava à tarde, ajudava meu pai na roça e entendi que precisava mudar de vida. E quando eu voltei da Alemanha, Guabiruba estava igual ou pior de quando saí.

Eram cinco ou seis empresários que mandavam em tudo. Decidiam qual seria o prefeito que no fim não apitava em nada. Então, comecei a me envolver na política, trabalhava em Blumenau e voltava para Guabiruba nos fins de semana. No dia da convenção do MDB [Movimento Democrático Brasileiro] não tinha ninguém para ser candidato a prefeito, então me levantei e disse que me candidataria. As pessoas me falaram, “Você? Tais doido? Ninguém te conhece. Eu disse “conhece sim e quem não me conhece vai conhecer”. Me candidatei e perdi a eleição.

Em 1992 eu voltei a ser candidato e ganhamos com folga. Para resumir, eu fui candidato seis vezes. Ganhei três e perdi três, fui persistente.

O hoje PP [Partido Progressista] e antigamente PDS [Partido Democrático Social] estava há quase 30 anos no poder. Eram donos de Guabiruba. Então jamais podiam admitir que um cara que veio de fora, como eu, fosse prefeito sem a autorização deles. Nós mudamos essas ideias, porque quando a gente fica um tempo fora a gente volta com ideias diferentes.

Na época em que fui candidato, eu trabalhava na Schlesser, então eu vinha de ônibus com a galera, e a gente conversava e ali começamos a mexer com Guabiruba.

GZ: Você pretende ser prefeito novamente?
OK: Dentro do meu partido eu sou candidato a ser candidato. Porque é necessário preparar mais pessoas, então, é preciso esperar até o ano que vem, nas convenções. Analisar quem está mais preparado e em quem são as pessoas que os demais acreditam que está na hora de se candidatar. O meu partido não vai ficar na mão, eu vou sempre ajudar na forma do possível e se for preciso eu serei candidato sim.

GZ: O senhor pretende entrar na política a nível estadual ou nacional?
OK: Não. Há seis anos eu tive convite, mas não é o meu caminho. Eu quero ajudar Guabiruba e não tenho pretensão nenhuma a nível estadual.

GZ: Alguns processos surgiram após sua saída do Executivo. Como o senhor os avalia?
OK: Não foram alguns, foram muitos. Em Brusque eu não tive condenação, pois a justiça da cidade conhece o trabalho da gente, acompanha nosso dia a dia. Um dos processos eu fui inocentado em Brusque e condenado em Florianópolis, mas ainda estou recorrendo. Existiram essas denúncias por parte da Câmara de Vereadores. Tenho algumas condenações mas sou apto a ser candidato. Tenho as certidões da justiça eleitoral, que inclusive tirei na semana passada. 

Assumimos a prefeitura pela segunda vez em 1996, depois novamente em 2005 até 2012. Quando assumimos a Prefeitura pela terceira vez, o Executivo estava virado em um chapéu velho. Para tocar o município, fazer licitação é demorado, cerca de 90 dias ou até mais. Então, o que eu fiz, comprei alguns itens sem licitação para não parar o maquinário. 

Os materiais foram combustível, material escolar e hospitalar, sempre observando o melhor preço, nunca acima do valor da bomba, no caso, dos combustíveis. Eu poderia parar o município por 90 dias só que quem ia sofrer era a população. As pessoas não iam ter acesso a médico, os estudantes não teriam transporte para as escolas, inclusive nós reformamos os ônibus pois tinha alguns, que onde as crianças sentavam tinha madeira para não colocarem os pés no chão fora do veículo. Mas a promotoria achou que os vereadores estavam certos.

Mas, o que eu nunca vou entender é, porque os vereadores não denunciaram isso desde o começo, só fizeram isso depois de anos? Eles são pagos para acompanhar o dia a dia. Eles sabiam que os ônibus estavam ruins, que não tinha dinheiro no caixa da Prefeitura quando eu assumi, sabiam que o maquinário estava em péssimo estado, sabiam de tudo e deixaram. 

Depois, quando souberam que eu seria candidato novamente fizeram um pacote de denúncias e destas 70% foram arquivadas. Mas, referente aos processos que estou enfrentando, estou muito tranquilo. Eu sei que não fiz nada de errado. Se comprei sem licitação foi porque era necessário, se não, não teria feito.

É só fazer um levantamento da minha vida antes, durante e depois de eu ser prefeito. Hoje eu estou com meu capital reduzido abaixo dos 50% do que eu tinha. Se eu tivesse saído da prefeitura e as pessoas comentassem “poxa, tem um carrão, uma casa na praia, comprou um sítio”, tudo bem. Mas, pelo contrário, os sítios e terrenos que eu tinha eu vendi.

Os vereadores acharam que tinham que me ferrar, mas até o juiz entendeu que se tratava de politicagem. Porém, o promotor está há pouco tempo em Brusque e não conheceu nossa trajetória. 

Se eu assumisse uma prefeitura hoje, na mesma situação, eu faria o mesmo. Não deixaria o povo penar em momento nenhum. Se é pra sofrer que sofra eu e não o povo.

GZ: Como você avalia a atual gestão Matias e Zirke?
OK: Olha, eu vejo que eles estão tentando fazer da melhor maneira possível. Todo mundo tem dificuldades e quem assume a prefeitura quer fazer o melhor. Porque não seria justo alguém assumir e deixar o barco à deriva. Eu acho que é dever do prefeito atender a população, e talvez ter mais carinho pelo povo, os mais carentes, principalmente. Guabiruba vai muito bem, mas a gente vê que crianças, idosos, demoram até quatro ou cinco horas para serem atendidos no médico. 

Não posso reclamar da administração atual. Acompanho de longe e vejo que cada administração tem uma prioridade. Quando fui prefeito, a prioridade eram as creches, postos de saúde, pontes de concreto e pavimentação. E ninguém pagava pavimentação. Hoje a prefeitura está mais focada em pavimentação, é o momento, porque creche nós temos e postos de saúde também. É preciso fazer a pavimentação e as pontes de concreto. Temos muitas ruas sendo pavimentadas com as pontes de madeira.

GZ: Se pudesse dar um conselho para quem deseja entrar na política guabirubense, qual seria?
OK: São muitos, mas o principal é: se quer ser candidato, começa a visitar as pessoas. Começa a participar dos eventos, sentir o que o povo está sentindo. Se você visita uma família mais carente, você sente o que eles precisam e quais são as prioridades. Se você vai num evento também sabes quem é quem. Então, o primeiro passo é conhecer a população. O que acontece muito é que tem gente que chega no dia da convenção e se candidata. Mas peraí, em 45 dias de campanha você não vai se apresentar nem conhecer o povo e vice versa. 

Tem gente que se candidata a vereador e não conhece o seu povo, a cidade e seus bairros. Tu tens que conviver e isso não é de um dia para o outro. Isso leva de dois a quatro anos. Eu ouço muito das pessoas, “como é que você quer ser candidato se você não tem dinheiro?”. Realmente eu não tenho. Mas eu só posso ser candidato se eu tenho dinheiro? 

Tem vereador que diz “se eu não tiver R$ 100 mil eu não me candidato”. Qual é o interesse dele? Comprar a eleição? Agora as pessoas já estão comentando que tem empresários que elegem quem eles querem, então, que elejam, quem vai sofrer é o povo. 

GZ: Quais as lições o senhor tirou desses 12 anos como prefeito?
OK: A minha maior lição foi saber escutar o povo, aprender com o povo e sentir o que o povo sente. Até me arrepio quando falo isso. Estando diariamente com a população você enxerga as reais necessidades das pessoas. Mesmo num município bem desenvolvido como Guabiruba, ainda assim existem pessoas mais carentes que outras, e é necessário enfrentar essas situações com muito afinco.

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