O médico infectologista Ricardo Alexandre Freitas realizou uma webconferência, na tarde de quarta-feira, 18, sobre o coronavírus (Covid-19). O secretário de Saúde de Brusque, Humberto Fornari entre outros profissionais estavam presentes na reunião. O Guabiruba Zeitung separou as principais perguntas que conduziram a reunião, para esclarecer alguns fatos sobre as últimas medidas no estado para a contenção e prevenção do novo Coronavírus.
Durante a transmissão ao vivo, o médico enfatizou a importância da população respeitar a orientação de ficar em casa, bem como a maneira com que o vírus se propaga.
GZ: Afinal, o que é o novo Coronavírus e como é transmitido?
RF: O Coronavírus é um vírus que nós, médicos infectologistas, já conhecemos muito bem, mas que ele sofreu uma mutação no final do ano passado, na China, criando essa subespécie chamada Covid-19. Ele é um vírus de transmissão por meio de contato essencialmente. Embora seja uma doença que a gente classifique como respiratória, a transmissão é por contato com saliva, com material que foi tocado em contato com as nossas mãos em relação ao nosso rosto, então a gente tem que ter bastante cuidado com a questão do contato.
É um vírus, que não é letal, nem tão agressivo como outros que a gente já conhece, mas ele tem uma propagação bastante fácil e bastante rápida. Eu digo que isso parece um tsunami, se a gente comparar com o Sarampo por exemplo, o Covid-19 transmite muito mais. O Sarampo já existe há muito tempo e a doença se diluiu ao longo dos anos, fazendo com que a gente consiga trabalhar os casos de Sarampo que porventura apareça, e nós temos a vacina.
GZ: Há mesmo necessidade de ficar em casa e evitar lugares com aglomero?
RF: O Governo tomou estas atitudes drásticas, como isolamento social, justamente para que as pessoas fiquem confinadas em casa, e saiam somente para o que for estritamente necessário. O que a gente quer com isso é diminuir a transmissão. Nós sabemos que uma pessoa contaminada, em 10 a 15 dias ela pode chegar a contaminar quase mil pessoas, isso se ela estiver caminhando pela rua e fazendo as coisas normalmente. Se ela estiver confinada na sua residência ela passa para quatro pessoas.
O que a gente quer nesse momento é que as pessoas realmente tenham cuidado e aquelas que não precisarem estar circulando pela cidade, que fiquem em casa, especialmente em casa, evitando o contato com outras pessoas, porque a gente sabe que a onda vem. Só que essa onda que a gente quer que seja uma marola e que essa marola dure pouco tempo, a gente não quer que seja um tsunami que dure longos dias e cause o colapso do sistema de saúde do município e do estado.
GZ: Você acha realmente necessário o fechamento do comércio e suspensão dos transportes públicos?
RF: O isolamento social é uma decisão que vem sendo notada desde a China até a Itália e a gente tá aprendendo com eles que sim, isolamento social é importante para diminuir a mortalidade da doença. O que significa diminuir o número de casos de pessoas contaminadas, diminuindo assim o número de mortalidade das pessoas. A mortalidade do coronavírus para pessoas acima de 80 anos beira os 20%. Em Brusque, há uma comunidade de idosos considerável e a possibilidade de morte de todos que adquirem a doença seria inaceitável do ponto de vista social e sanitário. A gente tem que tomar alguma atitude, uma delas é o isolamento social, porque aquele que não precisa tá caminhando na rua, nesse momento, tem que ficar confinado em casa, por uma questão simples, estamos salvando vidas. O que eu quero dizer para você é o seguinte: nós temos que imaginar o pior cenário possível para que a gente tenha no final de duas a três semanas, o melhor cenário possível.
GZ: A vacina contra H1N1 protege ou previne o Coronavírus?
RF: A vacina que o governo deve liberar no próximo dia 23 protege apenas contra o H1N1, da família do Influenza. Ela não tem absolutamente nenhum efeito sobre o Covid-19. O que a gente quer é erradicar o H1N1 para focar totalmente no combate ao Coronavírus.
GZ: Qual a orientação para o uso de máscara em profissionais e pacientes?
RF: A máscara é um Equipamento de Proteção Individual (EPI), extremamente importante, mas pouco valorizado e utilizado. Quem tem que usar máscara cirúrgica é o doente respiratório. É preciso que esteja bastante claro isso. Por uma questão de saúde pública, porque se o doente respiratório estiver usando a máscara ele vai impedir que outras pessoas peguem a doença.
Pessoas sadias não precisam usar a máscara. A doença não é de transmissão respiratória, ninguém vai pegar o vírus apenas respirando o ar da cidade. Ele vai estar na tua mão em algum momento, e se eu levo essa mão contaminada aos olhos, nariz ou boca eu posso sim pegar o vírus. Então o vírus se transmite por contato. De nada adianta você usar a máscara e coçar o olho. Porém, pessoas que atuam em hospitais e centros médicos é recomendado que usem a máscara, por estarem com contato próximo à pessoas que estão doentes ou possivelmente contaminadas.
GZ: Quais medidas estão sendo tomadas para que haja leitos suficientes na região?
RF: Nós estamos conversado com todos os hospitais para que se tenha uma reserva técnica de leitos de UTI para casos específicos de Covid-19, nós suspendemos as cirurgias eletivas para que a gente possa ter salas cirúrgicas com respirador para atender a comunidade. O governo federal está liberando uma verba para aquisição de respiradores, nós estamos nos capacitando para receber esta verba. O Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) tomou medidas para que este processo seja o mais ágil possível, para atender casos decorrentes do Covid-19, então é isso que estamos fazendo, é isso que a gente sabe que está sendo feito, e é o que a gente pode fazer no momento.
Obviamente que se o movimento dessa doença aumentar, o Governo vai tomar outras atitudes. O número de leitos com o cancelamento das cirurgias eletivas para salas disponíveis para pacientes de Civid-19, através da reserva técnica. O Sisreg vai ter uma atuação mais preponderante para que isso seja mais ágil na liberação e os hospitais possam adquirir mais respiradores.