A música faz parte da vida de Sidinei Ernane Baron, 36 anos. A cultura guabirubense também. O morador do bairro São Pedro é músico licenciado pela FURB, de Blumenau, e pós-graduação em educação musical em múltiplos espaços pela mesma universidade. Passou pela Escola João Jensen no jardim da infância e depois pela Escola Professor Carlos Maffezzolli.
O filho de Roseane e José Carlos Baron iniciou a trajetória musical na Igreja Católica, nas missas na comunidade São Pedro em 1996. Em 2001, ainda aluno do ensino médio, fundou e foi regente do atual Coral Infanto-juvenil São Pedro, criado dentro da escola Carlos Maffezzolli. No ano seguinte, fundou a Fanfarra da mesma escola, atuando no local até 2007 quando, já formado, passou a ser professor de Artes nas Escolas Padre Germano Brandt e Professora Anna Othilia Schlindwein.
É fundador e primeiro regente dos grupos musicais: Coral Infanto-juvenil São Pedro (2001), Fanfarra da Escola Carlos Maffezzolli (2001), Banda de Percussão Das Lebenslied (2008), Glockenchor Das Lebenslied (2013), Coral Infanto-juvenil São Vendelino, Lageado baixo (2013), Coral Infanto-juvenil Anjos de Deus, Aymoré (2016) e Coral adulto São Pedro (2019). É o regente dos grupos elencados e ainda do Coral Cristo Rei Infanto-juvenil, Grupo Amigos de Canto Alemão de Brusque e Grupo Alemão Em Canto. Regeu ainda o Coral Giuseppe Verdi de Botuverá de 2014 a 2018 e a Banda alemã da Escola Georgina Carvalho Ramos da Luz, da qual também foi fundador em 2015.
Em 2010, Sidinei foi diretor de Cultura da então Secretaria de Educação, Esporte e Cultura. “De 2010 à 2012 fomentamos e criamos as oficinas artísticas e por meio da criação do Conselho Municipal de Cultura criamos a Fundação Cultural de Guabiruba em 2012, ano que Guabiruba sediou o VII Campeonato Estadual de Bandas e Fanfarras”, lembra. Em 2012, Sidinei assumiu a Fundação Cultural de Guabiruba, sendo o primeiro superintendente.
O músico é casado com Jorgiana Aparecida Batschauer, com quem tem três filhas: Julia, Alicia e Lisa. É membro imortal da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina – Seccional de Guabiruba, ocupando a cadeira n° 6, cujo patrono é o maestro Heinz Geyer.
Em 2017 lançou o livro Melodien von Guabiruba com 41 músicas folclóricas alemãs de Guabiruba contendo as letras, partituras, tradução para o português e pequena descrição das canções.
Em 2019 produziu o CD Des Lebens Sonnenschein ist Singen und Fröhlichsein do Grupo amigos de canto alemão, CD que contém 12 canções do folclore alemão interpretadas por instrumentistas locais e cantadas pelo conjunto.
Em 2020 foi contemplado com o Prêmio Aldir Blanc que permitiu a execução do projeto Alemão em canto – Símbolos do Natal.
Guabiruba Zeitung: Como foi a descoberta do seu talento musical?
Sidinei Ernane Baron: A música sempre foi muito presente na minha vida, tanto na vida familiar quanto na comunidade. Já na infância me encantava, lembro que durante as brincadeiras costumava cantar e fazer instrumentos musicais com latas, potes e outros materiais. Também ficava fascinado quando alguém tocava algum instrumento musical, como por exemplo, meu bisavô Alfredo Dietrich. Lembro dele tocando domingo de manhã na varanda de sua casa.
Ao participar das missas, os cantos, a participação da comunidade ao cantar, os corais e os órgãos ou harmônios me deixavam deslumbrado e me levavam para o céu com sua beleza e harmonia. Desta forma, sempre quis ser músico, já na mais tenra infância.
Mais tarde, durante minha adolescência, aprendi a tocar teclado com o Osmar Baron e com ele participava de missas em diversas capelas. Meus pais me deram todo o suporte necessário para conseguir seguir nesta profissão e graças a este empenho deles, em 2003 iniciei meus estudos na faculdade.
GZ: Em que projetos culturais você trabalha no momento?
SEB: A pandemia da Covid-19 está limitando a execução dos projetos. Alguns estão voltando com suas atividades presenciais, respeitando as normas de distanciamento e higiene. É o caso dos corais infantis, juvenis e adultos das capelas de Guabiruba. Já no grupo Alemão em canto, optamos por ensaios virtuais, correspondendo ao modo de trabalhar de 2020 em que o grupo gravou diversas canções em vídeos collabs compartilhadas no Youtube do grupo.
Nestes grupos corais, me dedico atualmente aos ensaios e preparação dos arranjos. Logo iniciarão os trabalhos com a Banda e Glockenchor Das Lebenslied. Para estes grupos estou preparando o repertório e materiais para ensino musical dos alunos.
Estou produzindo um texto sobre a música folclórica alemã de Guabiruba que irá compor o livro da ALEG (Academia de Letras de Guabiruba).
GZ: Na sua visão, qualquer pessoa pode desenvolver habilidades musicais?
SEB: Todos podem experimentar a música em algum nível. Faço uma comparação: todo mundo gosta e pode jogar futebol, certo? Mas, é preciso treinar. Da mesma forma, todo mundo pode ter alguma experiência musical, com dedicação! Uns possuem mais habilidades, outros menos, mas como no futebol, teremos jogadores profissionais, já outros que só batem uma bolinha durante a semana. Assim também na música, alguns são músicos, maestros e professores, outros optam por cantar num coral semanalmente ou praticar um instrumento que gosta.
GZ: O que motivou a construção de uma casa enxaimel?
SEB: A cultura local sempre me chamou atenção, desde a música até a culinária, o idioma e a arquitetura. E a arquitetura que lembra a cultura alemã sem dúvidas é a técnica enxaimel. O enxaimel com sua simplicidade e rusticidade me fizeram optar por construir uma casa nessa técnica. Além de preservarmos a cultura e a memória de nossos antepassados, a vida numa casa enxaimel é modesta e isto nos faz sermos desapegados. Já o seu aconchego nos propicia ainda mais que tenhamos bons momentos com a família.
O processo de construção se deu em três etapas: a primeira foi a escolha do tamanho e divisões internas da casa. Por ser enxaimel, houve peculiaridades, como por exemplo, dentro do possível colocar as paredes onde houvesse barrotes (torras de madeira colocadas de metro em metro que sustentam o assoalho do sótão e o telhado).
A segunda etapa foi a fabricação do enxaimel na fábrica em Blumenau, cada parede foi montada individualmente e cada peça foi marcada com números romanos, característica do enxaimel para que depois na montagem cada peça pudesse ser encontrada e colocada no seu local correto. Após esta montagem do esqueleto da casa, preencheu-se os vãos com tijolos maciços e massa feita com areia e cal, conforme o costume dos nossos antepassados aqui da região.
GZ: Como tem sido as suas atividades com a pandemia da Covid-19?
SEB: Durante a pandemia, todas as minhas atividades foram transferidas para a forma online. Reuniões virtuais, vídeos collabs, mensagens via aplicativo social foram as formas que encontramos para mantermos nossas atividades coletivas de alguma maneira.
Os efeitos não são tão satisfatórios como nos encontros presenciais, mas em alguns pontos conseguimos resultados que nem imaginávamos. Como por exemplo, as sonoridades de se juntar diversos vídeos gravados individualmente por cada integrante em sua casa ou ainda a possibilidade de ouvir cada integrante cantar individualmente e aconselhar correções em particular.
GZ: Guabiruba é um celeiro de talentos artísticos e culturais. Ao que você atribui isso?
SEB: O povo de Guabiruba é criativo e empreendedor, isto já está na sua natureza. A consequência disto são os inúmeros grupos culturais, pessoas engajadas na arte e cultura, eventos grandiosos como a Paixão de um Homem livre e Pelznickelplatz. É muito bonito ver o engajamento das pessoas para que as coisas aconteçam e esse espírito de colaboração, de pertencimento, onde todos colaboram para o bem do município e as atividades culturais são características bem distintas de Guabiruba.
GZ: Pretende que suas filhas sigam seus passos na área artística?
SEB: Ficaria orgulhoso de ver minhas filhas me acompanhando, mas esta é uma decisão que cada uma delas deverá tomar no seu devido tempo. Deus irá guiá-las e o melhor exemplo que espero poder dar é o da bondade e do amor, que elas poderão seguir em qualquer área que decidirem atuar.