“Ser mãe de um filho especial é padecer no paraíso”, lembra Marcia daquela frase popular. Uma mulher forte e mãe de três filhas que mostra o certo e o errado e zela pelo certo, mesmo que isso custe a lágrima de quem tanto ama. Mãe apaixonada, luta pelos seus amores com todas as forças. Por saber a sua verdade, releva todo e qualquer resquício do preconceito externo. Mulher que mudou a sua vida, seu tempo e seu pensamento pela causa mais bela de todas. Uma mãe que teve de fazer a escolha mais difícil que uma mãe pode fazer.
A pequena Mariana sofria de mal convulsivo. Aos seis anos teve uma convulsão que durou quatro horas. Márcia e o marido Sidinei aguardavam ansiosamente pela alta da filha, como já havia acontecido anteriormente. Mas dessa vez a situação era mais complicada. “Sua filha está entrando em óbito”, disse o médico. “Vão para casa e comecem a organizar o funeral”. Não há mãe que se aguente em pé ao ouvir tais palavras. O chão desabou, a visão ficou turva, o coração acelerou e Márcia não queria acreditar que aquilo fosse verdade. Logo com a sua menina, que era alegre e saudável.
“A medicação que nós temos é aplicada diretamente no coração. Ela pode salvar a menina ou acelerar o óbito, basta vocês autorizarem”, disse o médico. A escolha que nenhuma mãe quer fazer. O aperto do qual nenhuma família quer passar. Márcia e o marido autorizaram a medicação e foram para casa descansar, depois de horas de agonia. Mais tarde, souberam que o remédio fez efeito e o chão veio ao encontro dos pés de Marcia novamente.
Tempos difíceis para a família Albuquerque Almeida. Depois daquele episódio, Mariana teve de ficar internada no hospital. A convulsão foi tão forte que ocasionou paralisia cerebral. O médico alertou que a partir daquele dia, ela não mais iria andar, falar e enxergar. Em parte, estava enganado. Aos poucos, a visão de Mariana voltava e ela conseguia responder aos exames sensoriais. Um passo a mais para a comunicação com a família.
Desde o acontecido, os anos de Marcia e Mariana foram de tratamentos e acompanhamentos, sempre na esperança de qualquer vestígio de progresso. Qualquer movimento, qualquer gesto, qualquer olhar faziam os dias melhores para aquela mãe tão dedicada.
Em Guabiruba
Há nove anos a família decidiu mudar de vida. Saíram de Sorocaba, em São Paulo, Marcia, Mariana, e as outras duas filhas Luana e Juliana. Encontraram no Centro de Guabiruba um bom lugar para morar. O pai, que até então estava trabalhando em Sorocaba, chegou mais tarde. “Viemos em busca de uma melhor qualidade e sabíamos que o sul poderia nos proporcionar. Agora não troco por nada”, garante Marcia. Desde que chegaram em Guabiruba, Mariana não apresentou mais nenhum quadro de piora. “Ela ficou mais calma, interage mais com a gente, ficou mais feliz”.
Mariana hoje é uma moça de 22 anos e continua com o tratamento na Apae. “As mulheres da Apae sempre falam que ela melhorou bastante nos exercícios e atividades”, orgulha-se a mãe.
Como nem tudo são rosas, Marcia encontrou desafios em Santa Catarina. Questionada sobre as dificuldades, ela pontua a acessibilidade. Mariana é cadeirante e a família usa o transporte coletivo. “Em São Paulo havia mais ônibus acessíveis. Hoje na região até tem, mas ainda são poucos”. Estabelecimentos também são pontuados por Marcia. Falta de rampas e elevadores fazem que as escolhas da família sejam mais seletivas. “Sempre temos que pesquisar para escolher um estabelecimento que tenha acessibilidade”.
Marcia alega que não sentiu preconceitos aqui. “O olhar das pessoas é algo normal quando elas veem uma pessoa cadeirante”, observa a mãe. “Se quiserem olhar diferente, elas que olhem! Só o que importa é eu e minha filha ali”, destaca. “Eu jamais trocaria minha filha por ela ser deficiente. Eu aprendi a amar ela assim do jeitinho que ela é”, revela.
Mariana possui duas irmãs mais novas: Luana, de 19 anos, e Juliana, de 18. Elas sempre acolheram e ajudaram a irmã. “Por mais que a Mariana não fale, ela ouve e interage do jeito dela. Então é sempre muito importante não nos queixarmos na frente dela”, diz Marcia. “Eu ensinei às minhas filhas de que se a Mariana pudesse, com certeza ela faria tudo por conta própria. Mas ela não consegue. Então é dever nosso, como família, estarmos a postos para cuidar sempre com muito amor”.
Ser mãe
“Ser mãe de uma criança especial, para mim, é se sentir especial todo dia. Cada olhar da Mariana diz tudo. Diz eu te amo, diz eu agradeço. E ser mãe das três então, é só alegria. Sou grata em tê-las como filhas, nunca me incomodaram. Elas sempre ajudam no que podem. Cada uma no seu jeito, pois nenhum filho é igual ao outro”, relata Marcia, que há um ano não trabalha fora, é dona de casa e se dedica em função da filha.
“Não devemos dar ouvidos ao preconceito. Nossos filhos são anjos na nossa vida e é para eles que devemos dar a nossa atenção. A cada dia que passa tiramos uma pedra do caminho, por isso devemos sempre ter fé, esperança e devemos dar todo amor e carinho para nossos filhos”.
Por ter uma filha com paralisia, Marcia afirma que todo dia é uma alegria. Mesmo nos dias ruins, só o sorriso de bom dia da filha já a deixa mais animada. “Com a Mariana não tem tempo ruim”. Desde o início da paralisia, cada dia é um ensinamento de paciência e de esforço para compreender a mensagem que ela quer transmitir. “Ela me ensina mais do que eu a ela”, diz.
Em resumo, ter a filha viva e por perto vale mais do que qualquer coisa oferecida para uma mãe. “A Mariana é a minha alegria”.