Nesta segunda-feira (10), celebramos com alegria os 62 anos da nossa amada Guabiruba. Para tornar esta data ainda mais especial, dedicamos uma edição comemorativa para contar a história daqueles que fazem parte da alma da nossa comunidade: as pessoas que aqui vivem há décadas, e que testemunharam a transformação e o crescimento que nos trouxeram até aqui.
Durante a semana de aniversário, publicaremos relatos emocionantes de cinco pessoas que representam a essência de Guabiruba. São histórias de gerações que viveram e trabalharam aqui, enfrentando desafios e celebrando conquistas. Através de suas memórias, pelo olhar da repórter Vanessa Fagundes, eles contam como era a vida em Guabiruba quando ainda “era tudo mato”.
[Roque Dirschnabel] De geração em geração
Uma, duas, três… mais de seis décadas dedicadas à família. De olhos e cabelos claros e de uma simpatia ímpar, esse é Roque Dirschnabel. Morador de Guabiruba, o advogado e pesquisador histórico é neto do primeiro prefeito do município, Henrique Dirschnabel (1900-1982). Filho de comerciante e político, seu pai é Envino Dirschnabel, eleito vereador mais votado em 1963.
Motivado pelas boas lembranças de quando era apenas um menino, Roque lembra com carinho que durante a infância costumava ficar todos os dias no comércio da família e adorava escutar as histórias das pessoas mais velhas que frequentavam o local.
E foi inspirado pelas histórias que escutou durante a infância, que Roque, ao longo da vida e até os dias atuais, estuda sobre o passado, no desejo de conhecer cada vez mais e de também criar novas memórias. Entusiasmado pelo conhecimento da história, Dirschnabel é envolvido com as causas da sociedade guabirubense. Por conta disso, hoje, ele se dedica à Associação Catarinense de Intercâmbio e Cultura (ACIC), em que é sócio-fundador, e à Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina – Seccional de Guabiruba, onde atua como presidente.
“Meus pais eram políticos e eu acabei me envolvendo também. Conforme fui crescendo fui gostando cada vez mais de história, com assuntos de interesse para a comunidade, participando de diferentes associações e dessa forma construindo também uma família”, disse com orgulho.
Hoje, casado e com três filhas, Roque ainda segue os passos dos seus pais e avós, dando sequência ao legado da família no comércio do município. Relembrando as boas memórias que o passado deixou, Roque recordou com felicidade um momento marcante de sua infância, que teve com a sua família, o qual demarca, segundo ele, o crescimento da cidade de Guabiruba.
“Isso aconteceu bem aqui na esquina entre a rua 10 de Junho e a rua José Dirschnabel. Era tudo muito diferente, com uma estrada que era de chão e bem menor do que hoje em dia. Era por volta da década de 70 quando eu e meu avô estávamos em pé, ali conversando bem na esquina onde era a loja dele. E naquela época, era muito difícil de ver alguém que não conhecíamos, afinal era uma cidade pequena e de poucos moradores. Porém, nesse dia passou uma pessoa desconhecida e nós comentamos entre a gente: olha, uma pessoa de fora. E isso é um fato que eu nunca esqueço, pois jamais acontecia. Então poder acompanhar e ver como a migração faz Guabiruba ser quem é hoje, faz ela crescer vertiginosamente e ser pujante, é algo que me marcou muito, pois naquela época não era assim”, recordou ele emocionado.
Entre uma das pesquisas sobre a história do município feitas por Roque, ele conta que até a década de 70, Guabiruba era dominada pela agricultura, e que, a partir de então, começaram a surgir na cidade as primeiras indústrias. Dali em diante, grandes transformações aconteceram e cada vez mais a tecnologia foi ganhando espaço, trazendo assim muitos benefícios, mas também algumas perdas, segundo Dirschnabel.
“Desde quando as indústrias começaram a se instalar na cidade, a partir da década de 70, com o passar dos anos as tecnologias nos trouxeram grandes benefícios, assim como para a nossa vida pessoal. No entanto, eu espero que esse lado virtual não nos deixe de lado, que nós possamos continuar tendo contato real com outros seres humanos e com a natureza. Antigamente, a vida não era tão corrida como hoje. Atualmente, temos compromissos todos os dias, muitas atribuições e quando isso acontece eu sinto que nós nos distanciamos muito daquela época, daquele tempo e isso está acontecendo a todo momento. Antes tínhamos mais tempo para conversar com os amigos com a família e hoje em dia isso não existe, porque está tudo muito corrido. Isso é um fato notório”, declarou.
A preocupação do senhor de olhos azuis, de cabelos grisalhos, que ainda mora no mesmo local desde a infância e busca preservar a todo momento as raízes da família e de Guabiruba, se entende quando, com sorrisos largos e olhos brilhantes, ele recorda de uma das atividades que mais gostava de fazer com o pai: visitar os clientes da loja.
“Quando eu era criança, nós íamos para o interior de Guabiruba levar os produtos e visitar os clientes da loja do meu pai. Lá, em casas de madeira muito simples, nós ficávamos por horas conversando. Muitas das residências tinham fogão a lenha, sempre preparando alguma comida, uma polenta ou então uma galinha ensopada e normalmente éramos convidados para fazer a refeição e eles ficavam muito felizes por estarem nos recebendo. Naquela época, era comum isso acontecer. Digo que esse sim era um momento de convívio com a realidade e com a natureza. Por isso que hoje, tudo traz saudades e nos fazem refletir sobre como se está vivendo.”
Como forma de deixar a memória da família Dirschnabel ainda mais viva, Roque decidiu preservar a casa em que cresceu e possui tantas recordações boas da infância. Localizada no coração da cidade, cada canto da “Casa Amarela” está passando por uma restauração. Lá, cada cômodo da casa, faz aquele senhor, de 67 anos, relembrar dos momentos vividos e voltar a ser criança.
Reportagem: Vanessa Fagundes