Nesta segunda-feira (10), celebramos com alegria os 62 anos da nossa amada Guabiruba. Para tornar esta data ainda mais especial, dedicamos uma edição comemorativa para contar a história daqueles que fazem parte da alma da nossa comunidade: as pessoas que aqui vivem há décadas, e que testemunharam a transformação e o crescimento que nos trouxeram até aqui.
Durante a semana de aniversário, publicaremos relatos emocionantes de cinco pessoas que representam a essência de Guabiruba. São histórias de gerações que viveram e trabalharam aqui, enfrentando desafios e celebrando conquistas. Através de suas memórias, pelo olhar da repórter Vanessa Fagundes, eles contam como era a vida em Guabiruba quando ainda “era tudo mato”.
[Lúcia Becker] Dificuldades x Simplicidade
De um olhar atencioso e uma bondade cativante, a moradora do bairro Aimoré ainda conserva memórias de sua infância na silenciosa e pacífica Guabiruba da década de 1940. Aos quase 80 anos, Lúcia Becker, guarda na memória situações que viveu quando ainda era apenas uma criança.
Com uma memória recheada de histórias, algumas boas e outras nem tanto, a guabirubense, que aos seis anos foi morar com os pais no bairro São Pedro, conta dos momentos difíceis que sofreu no passado. Com os olhos lacrimejados, Lúcia se recorda da infância de forma triste e difícil. Ela conta que, assim como os irmãos, acordava antes mesmo de o sol nascer para lidar com as tarefas do que hoje chama de “vida adulta”.
“Era muito duro no meu tempo de infância. Nós nem tínhamos tempo para estudar, só para trabalhar. Estávamos a todo momento na roça. Lembro que tinha sete anos e estava lá, todos os dias, tirando leite da vaca e plantando para ter o que comer”, aponta ela emocionada.
Os anos foram passando e a vida de Lúcia foi ficando cada vez mais cansativa, dura e difícil. Prestes a completar 21 anos, casou-se no dia 31 de janeiro de 1965 e foi morar na casa da sogra. Dormindo na sala, o casal permaneceu lá por pouco mais de um ano quando conseguiu construir seu próprio cantinho para formar sua própria família.
“Às vezes eu sento aqui na minha cadeira de balanço e acabo chorando me lembrando desses momentos assim. Nem gosto muito de falar nisso na verdade. Quando me casei eu saía de manhã cedinho carregando tudo nas costas: aipim, taiá, e lenha e então subia e descia, subia e descia os morros aqui tudo. E para criar as crianças, não existia energia elétrica, muito menos fogão a gás, apenas a lenha. Então eu trabalhava na roça de manhã, voltava para casa por volta das onze horas para dar alguma coisa para as crianças comerem, voltava para o trabalho na roça e ainda, no fim do dia, quando voltava para casa, tinha que picar trato a mão, tirar leite das três vacas que tínhamos, mesmo cansada sem quase conseguir levantar os braços”, declarou ele comovida.
Apesar das dificuldades, de ter que dar conta do lar e dos filhos, de ser dona de casa, esposa e mãe, o sorriso voltou a brilhar no rosto da guabirubense quando foi questionada sobre o que ela sentia saudade dos velhos tempos.
“O momento mais feliz era quando estávamos todos reunidos, juntos. Quando estava a mãe, o pai, a sogra, o marido fazendo as tarefas juntos ou então conversando um pouco. Isso era o que me deixava feliz, fazia eu ter um dia melhor, era divertido e hoje me faz sentir saudade desses momentos, apesar de poucos”, recorda ela entre risadas.
Reportagem: Vanessa Fagundes