Foto: David T. Silva

 

Entre personagens de roupa branca, barba de velho ou gamiova, uma coisa é certa: dar vida à PelznickelPlatz é um trabalho de muitas mãos. A preparação começa meses antes e cada membro da Sociedade do Pelznickel representa um pedaço importante do processo, desde a manutenção do espaço, até os cuidados na cozinha. Nessa lista está Marino Fischer, de 35 anos, que desempenha um papel fundamental. É ele quem inspeciona as roupas, orienta novos integrantes, e cuida da segurança e bem-estar dos Pelznickels nos eventos de Natal.

Criado na rua São Pedro, Marino, assim como muitos vizinhos, teve a infância marcada pela figura do Papai Noel do Mato, um personagem interpretado por diversas pessoas da família. Ele também entrou cedo para a sociedade e fez o primeiro traje aos 16 anos, com a ajuda do pai que já tinha experiência. Antes disso, até os 15 anos, Marino admite que sentia calafrios ao pensar na criatura.“Quando eu estava vestido e fiquei cara a cara com outro Pelznickel pela primeira vez, foi complicado, mas eu pensei ‘eu sou Pelznickel agora, não posso ter medo’, e continuei. Mas foi engraçado”, lembra. Mesmo com a vivência em comum, tem algo que o difere dos colegas de bairro: enquanto a maioria aperfeiçoou o mesmo figurino, Marino escolheu criar versões distintas ao longo do tempo. 

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Ele explica que a rotina como Pelznickel é puxada, são horas e horas movimentando-se com roupas pesadas, então as mudanças aconteceram para amenizar o desconforto. “Já fiz uma roupa que só o capacete pesava oito kg, era sufocante. Teve outra, de pêlo de animal, que eu usei no sol e quando a gente colocou o termômetro, tava 42º. Não tinha condições de manter, aí eu fui adaptando”, diz ele. Hoje, Marino usa um macacão de tecido mais leve, similar à camuflagem dos atiradores de elite, em que pendura trapos e barba de velho. Segundo ele, o traje pesa, no máximo, cinco kg, mas ainda é difícil usá-lo no verão. “Nos desfiles, o sol é de rachar. Se juntar com a casa que são quatro horas por dia, direto naquele calor, no final a pessoa tá morta, tá exausta! Até emagrece, sem mentira. O pessoal que faz, é guerreiro”, justifica.

A preocupação de Marino com o bem-estar estende-se a todos os Pelznickels. Ele faz parte da diretoria da sociedade, e é responsável por organizar os integrantes que encarnam o personagem. “Estamos com 58 Pelznickels agora, o grupo suporta 60. A gente mantém esse número por causa da interação na casa. Se colocar 22 Pelznickels no mesmo dia, é muita coisa, não tem espaço para se mexer, então a gente divide em escala”, afirma. 

Marino também é o encarregado pela iniciação dos membros novos. Ele conta que todos passam por um ano de experiência e são avaliados, geralmente, em janeiro. “Quem está sendo avaliado, vai participar da PelznickelPlatz, vai ajudar nos desfiles em outras cidades, vai ser chamado pras reuniões, tudo igual. A gente precisa ver o engajamento da pessoa e se o grupo achar que é bom, convidamos para entrar. Hoje, a fila de espera para entrar a sociedade, é grande.”

Como Pelznickel, na PelznickelPlatz, Marino revela que gosta de manter-se trabalhando. “Vou lá, coloco lenha no fogo, bato o sino, pego madeira, puxo água… Eu quero que as pessoas vejam que o Pelznickel trabalha”, defende. Para ele, a ideia reforça aos visitantes que é uma casa e existem moradores ali. Quanto aos desfiles, ele fica mais atrás e não interage tanto com as pessoas, mas se é criança, sempre pergunta sobre bom comportamento.“O meu personagem é mais calado, mas das crianças eu cobro muito a educação. Pergunto se tá rezando, se tá indo bem na escola, se respeita os pais e os irmãos, se escova os dentes, se reúne os brinquedos, tudo”, fala. 

Marino vê o Pelznickel como uma influência positiva na própria criação, por isso faz o mesmo com a criação do filho. “Eu dou educação. Na minha visão, essa é a essência do Pelznickel. É utilizar a cultura para educação”.

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