Quando criança, por volta dos sete anos de idade, Charles Fantini Faria, hoje com 45 anos, brincava com as coisas de sua avó quando encontrou a foto de um homem muito semelhante a ele. O menino questionou sobre quem era aquele homem e embora a avó tenha tentado desconversar, um segredo começava a aparecer naquele momento. Charles descobriu que não era filho biológico de Aducí Faria, homem que lhe registrou e criou. A fotografia foi um marco na vida de Charles, aposentado e morador do bairro Imigrantes, que há 25 anos procura pelo homem que viu na imagem.

A trama de Charles começou em 1971 quando sua mãe, Maria Fantini Faria, hoje com 63 anos, conhecida como Lourdes, saiu de Brusque com destino a São Paulo. O seu objetivo e o da amiga Nina, que a acompanhava, era trabalhar como arrumadeira do Hotel Jacupiranga. Um anúncio no rádio sobre o recrutamento de jovens para trabalhar no local  incentivou as amigas a largarem Brusque.

“Eu fugi sem avisar ninguém, nem pedi demissão do meu trabalho da época. Eu e a Nina só esperamos a minha mãe sair para trabalhar e fomos. A gente foi por uma agência de empregos chamada Canadá”, relata.

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Lurdes relembra que conheceu o pai biológico de Charles quando morava na Frei Caneca, próxima a uma casa que era ocupada pela Polícia Militar. “Eu acho que ele tinha um cargo acima dos policiais, mas ele morava nesta casa. Ele tinha um carro Simca verde e branco. Nos conhecemos quando ele passou por mim com o carro, deu a volta e passou novamente. Ali começamos a nos relacionar”, conta.

O que chama a atenção na história é que na fotografia encontrada por Charles, quando ainda era criança, havia uma dedicatória escrita, “mãe, esse é Devanildo de Castro Riqueira, meu namorado, em uma viagem que fizemos a Aparecida”. Segundo Charles, na foto, que ficou com ele até ser assaltado em Balneário Camboriú, o homem está em frente ao Simca verde e branco, estacionado próximo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, que fica em São Paulo. Porém, Lourdes afirma que o nome do pai biológico de Charles é Luiz e que ela não lembra o sobrenome. E que, o namoro dos dois durou cerca de três anos, até que ela soube que estava grávida. Segundo ela, a relação era marcada por idas e vindas e muito atrito devido ao ciúmes. “Ele era muito agressivo, não comigo, mas todos tinham medo dele. Ele vivia armado, eu tinha muito medo. Além disso ele era muito ciumento”, conta.

Mesmo com o medo que sentia do pai biológico de Charles, Lourdes decidiu contar que estava grávida, porém, no dia em que foi falar ao namorado sobre a gravidez, descobriu que ele já tinha um filho, de aproximadamente oito anos na época. “Eu pensei, se eu contar estarei morta, vou fugir”, relembra.

Ela então voltou para Brusque sem contar ao então namorado que estava grávida. As únicas características que Lourdes lembra é que ele é moreno claro, com cerca de 1,70m de altura e hoje deve ter cerca de 72 anos de idade. Lourdes ressalta também que a semelhança de Charles e de seu pai biológico é assustadora. “São muito parecidos, quem conheceu o pai dele reconhece a semelhança dos dois”, garante.

O amor não tem DNA

Por anos Charles não pôde procurar pelo pai biológico, pois seus pais não concordavam com a procura. Em 1994 ele chegou a ir para São Paulo buscando conhecer o pai, foi até a Polícia Militar ao mesmo batalhão onde o pai trabalhava, mas não teve sucesso. Para não causar atritos na família, ele decidiu silenciar.

“É difícil você ter irmãos, perceber a semelhança entre eles e só você ser o diferente. Eu sempre notei essa diferença entre eu e minha família”. Charles completa, “eu sou grato ao meu pai que me criou, o espaço que ele tem em meu coração ninguém vai ocupar, mas eu preciso saber de onde eu vim”, salienta.

Pai de um casal, Charles conta que a vontade aumentou ainda mais quando uma prima dele precisou de transplante de medula óssea e ninguém da família era compatível. Mesmo encontrando um doador, a prima acabou falecendo.

“Vai que me dá algo assim e eu precise de algum irmão ou familiar por parte de pai. Tudo me faz querer conhecer ele. Mas eu temo que agora seja tarde”, afirma.

Após décadas sem poder tocar no assunto, Charles conta que recentemente seus pais concordaram que ele procurasse pelo pai biológico, por isso, decidiu voltar a pesquisar sobre seu passado.

“É um grande sonho que eu tenho, de poder conhecer meu pai biológico. Não sei se vou conseguir, tem sonhos que se realizam, outros não. Sempre me imaginei chegando no Santuário de Nossa Senhora Aparecida e dando de cara com ele, mas isso ainda não aconteceu”, revela.

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