Foto: Grazielle Guimarães

Em 1989, após ganhar seu primeiro filho, Lúcia Maria Kormann, 60 anos, deixou seu trabalho na Fiação e Tecelagem São José, onde atuou por oito anos, e decidiu se dedicar à maternidade. Quando seu primogênito tinha sete anos, ela começou a trabalhar na Escola de Educação Básica Professor João Boos, como faxineira e merendeira, funções que desempenhou paralelamente por 30 anos e permanece atuando como faxineira no mesmo educandário até hoje, completando 31 anos de serviço no local.

“Na época, as únicas mulheres que trabalhavam eram eu à tarde e outra pela manhã. Eu começava a fazer a merenda às 13h, primeiro a das crianças do primário e depois dos demais. Antes de sair, às 19h, eu deixava a merenda pronta para os alunos da noite e a secretária servia para os estudantes da noite, pois naquela época não tinha merendeira no período noturno”, relembra Lúcia.

Hoje, mãe de três filhos e avó de três netos, a guabirubense conta as dificuldades em desempenhar as duas funções e ainda comandar uma casa. “Era bem corrido, pois eu tinha que fazer a faxina, tinha que deixar pronta duas refeições para o dia e apenas uns cinco meses depois é que contrataram uma merendeira para a noite”, conta.

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Lúcia comenta que a diferença da quantidade de alunos entre aquela época em que começou a trabalhar e atualmente era pequena, mas com o passar dos anos as relações de trabalho foram mudando. “Eu continuei atuando na Escola, porque eu gosto muito. Eu sempre dizia: ‘quando eu me aposentar eu vou ficar em casa’, mas é um local que eu me sinto muito bem. Acabo lidando com os alunos, os professores, é muito gostoso. E na época em que eu comecei era mais complicado pela quantidade de serviço, pois a gente cuidava da faxina, da cozinha e das merendas, que não podiam atrasar e era só eu. Hoje, se por acaso eu me atrasar na faxina, posso terminar em outro momento, mas as refeições não, tinham que ser pontuais”, enfatiza.

Lúcia destaca ainda que, na época, as refeições eram mais simples. “Fazíamos uma panela de sopa, feijão com arroz e carne tudo junto, com uma verdurinha separado, macarronada. Antes de ser terceirizado não era tão complicado, hoje eles fazem um buffet”, conta. A merenda do educandário é feita por uma empresa terceirizada há cerca de dez anos, na época da mudança, Lúcia ainda não era aposentada e continuou atuando apenas como faxineira da Escola.

Com o passar do tempo, a guabirubense pôde ver diferentes gerações frequentando o mesmo colégio. “Muitos alunos chegam e falam; ‘poxa, meu pai disse que quando ele estudava aqui a senhora já trabalhava no colégio e hoje continuas trabalhando´. Eles ficam impressionados, é engraçado”, revela.

Ausência do marido

No domingo, 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Lucia Kormann é uma dessas mulheres que representam bem a data. Há 16 anos, ela perdeu o esposo, Nivaldo Kormann, um momento difícil para ela e seus três filhos. O trabalho foi uma alternativa para se distrair e continuar a vida. “No início até pensei em ficar em casa para cuidar dos filhos. Mas aí chegou a saudade, o desânimo, e eu pensei que naquele momento eu não poderia ficar em casa, porque, se eu ficasse, eu entraria no fundo do poço, porque não teria a convivência com as pessoas”.

Neste momento, o apoio da família e a flexibilidade nos horários do trabalho foram fundamentais. “Nessa época o meu mais novo [Marco Antônio] tinha 11 anos, o Sano [Cristiano, atual vereador] tinha 20 anos e a Joce [Joceane] tinha 18, então eles me ajudaram muito para que conseguisse continuar a trabalhar, dar conta de tudo e estar junto”, relembra Lúcia.

Hoje, a família tem uma relação bem próxima onde todos os dias se reúnem para tomar café da tarde juntos. “Eu comecei a fazer dois horários no colégio para que eu pudesse continuar a ter esse horário livre. Começo às 13h e vou até às 18h, depois faço um intervalo e volto às 20h e trabalho mais duas horas à noite, pois agora sou responsável também por fechar a escola”, explica Lúcia.

Gostar do que faz 

A guabirubense deixa um recado para quem está ingressando agora no mercado de trabalho. “É que eu gosto de tudo. Eu gosto do que eu faço, gosto da limpeza e gosto muito de estar lá com os alunos e professores. A gente tem que gostar do que faz. É claro que muitas pessoas têm que entrar num emprego que não era o que elas queriam, sendo assim não tem como permanecer 31 anos num lugar. A gente tem que gostar do lugar que a gente está. Não devemos ficar num trabalho por ficar e fazendo as coisas sem vontade”, finaliza.

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