Jenifer Schlindwein

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Conhecida por interpretar a tradicional personagem guabirubense Dona Trude, a atriz Jenifer Schlindwein é a entrevistada desta semana. No bate-papo com o Guabiruba Zeitung ela fala sobre a cultura local e os principais desafios como superintendente da Fundação Cultural de Guabiruba, cargo que assumiu na última semana. Confira:

Você assumiu recentemente o cargo de superintendente da Fundação Cultural de Guabiruba. Quais os principais desafios para a sua gestão neste momento? 

Primeiramente me sinto muito grata pela confiança em meu trabalho e por poder estar contribuindo efetivamente com a cultura da cidade aonde cresci e me proporcionou os primeiros passos na caminhada artística. Com certeza o maior desafio é criarmos estratégias e conciliar ações no setor cultural em meio à uma pandemia, tendo em vista que a comunidade solicita o retorno das atividades e a classe trabalhadora artística também sofre em relação ao fomento e oportunidades viáveis de trabalho. Cada vez mais o município de Guabiruba cresce e com ele a demanda cultural, portanto outro desafio que conseguimos visualizar em um futuro breve é a necessidade de uma estrutura organizacional maior e a infraestrutura adequada para abarcar eventos, ações, atividades, inclusão dos colaboradores do setor e demais responsabilidades da pasta. Desafios sempre são bem-vindos ao meu ver, demonstram que estamos em evolução constante e assim podemos partir de fato para a construção de soluções que sejam de valia para além da permanência no cargo.

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O que esperar da cultura de Guabiruba em curto e médio prazo? 

Acredito que a palavra chave para as expectativas de todos em relação à Fundação Cultural e a Cultura em si é PARTICIPAÇÃO. Queremos integrar e democratizar as mais diversas manifestações culturais que existem em nosso município, criando um calendário diverso e interessante ao público e comunidade. Com a antiga gestão da Paula, muitas etapas já foram concluídas como o Plano Municipal de Cultura de Guabiruba e agora teremos em curto prazo o Plano Municipal de Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de Guabiruba, além do lançamento em breve do Edital de Trajetórias Culturais para a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Outra meta é descentralizarmos mais as oficinas na sede da Fundação, levando cada vez mais cultura aos bairros de Guabiruba. Vale salientar que metas temos inúmeras em nosso quadro de ações, porém é preciso mapear e verificar a viabilidade da execução, para assim concluir e dispor à comunidade o que é por direito: o acesso à Cultura. Outros exemplos de temas que temos em vista: A Orquestra Municipal de Guabiruba, Patrimônio e Acervo Histórico, Museu Municipal, a Bilbioteca Pública Pref. Henrique Dirschnabel, quem sabe também um auditório nas dependências da Fundação, entre outros tópicos. Vontade de ver e fazer tudo isto acontecer existe de sobra da nossa parte como gestão!

Como você avalia a cultura da cidade. O que pode melhorar? 

Creio que a comunicação será um ponto bastante trabalhado neste período, para que possamos de fato adentrar nas comunidades e na classe artística como um ponto de encontro para planos, ações, diálogos, metas. Particularmente existe uma frase que ecoa na minha mente: “Não sabia que existia a Fundação Cultural” ou “Eu não vi nada sobre determinado evento”. O trabalho cultural existe, ele só precisa ir de encontro à sociedade através da comunicação. Além de que realmente cada vez mais existe uma pressão para obtermos na cidade um espaço adequado para a realização dos mais diversos eventos culturais. Guabiruba é referência para muitos municípios, quiçá com população maior à nossa, portanto é de responsabilidade das gestões que sucedem garantir uma crescente e avanço nos aspectos artísticos e culturais. Todos temos orgulho da Cultura que juntos construímos!

Qual expressão cultural é a marca de Guabiruba? 

Somos um povo festeiro e animado, gostamos principalmente de atrações musicais, gastronômicas e que envolvem o voluntariado e a família num todo. Outras áreas necessitam de foco para também entrarem num patamar de preferências culturais da população, modalidades como por exemplo o próprio teatro, a dança e as artes visuais. Percebemos uma cultura enraizada quando ela se torna referência para além de nossas fronteiras e isso nós podemos perceber que acontece atualmente com o Pelznickel (e todo o nosso folclore). 

Você é atriz de teatro. De que forma Guabiruba te inspirou a seguir esta profissão? 

Me tornei atriz como profissão por encantamento e paixão, por realmente amar o que desempenho e não medir esforços para tal atividade. Costumo dizer que penso em teatro 24h por dia e isso me fez tomar algumas decisões contrárias na minha vida pra chegar até aqui. Guabiruba é um polo têxtil e por natureza condiz que o jovem ao entrar no mercado de trabalho seja inserido no formato CLT, porém como diz a letra do Dazaranha “O meu compromisso com a minha natureza é de não ser igual” e isto obviamente na época chocou a minha família, por realmente desconhecerem de pessoas que vivem e sobrevivem da arte integralmente. Por escolha sempre estive conectada com a cidade fazendo projetos na área, participando do Conselho Municipal de Cultura, no próprio Teatro “Paixão e Morte de Um Homem Livre”, aulas na Fundação com o antigo professor Marcelo Carminatti, peças teatrais através do Fundo Municipal de Apoio à Cultura, a criação da personagem de humor “Dona Trude”, dentre outras oportunidades de reverberar o meu trabalho em Guabiruba e região. Cito aqui publicamente o meu agradecimento especial ao meu pai Eduardo Schlindwein, do qual considero ser herdeira do bom humor e talento para tal arte e ao músico e maestro Sidi Baron que me convidou à trabalhar com ele na criação da Fundação Cultural em 2011.

A pandemia de Covid-19 afetou diversas áreas, algumas de maneira muito profunda, como o setor de eventos. Quais aprendizados você acredita que ficam deste cenário para quem trabalha com cultura e para a sociedade de modo geral? 

Eu acredito que o aprendizado no setor cultural é constante, temos períodos difíceis em diversos momentos da história e me perdoem por ser tão realista e fria, mas virão muitos outros para enfrentarmos. E agora, coloco aqui a minha consideração e solidariedade à classe trabalhadora do setor artístico e de eventos, pois vi diversos colegas artistas sobrevivendo à pandemia com pouco retorno financeiro e literalmente escolhendo qual conta a pagar. Não sou a favor de romantizar o “perrengue” que o artista no Brasil passa e muito menos ignorar a desvalorização do produto/serviço artístico, nem todo músico vai ser estourado no país inteiro, nem todo ator que trabalhar na televisão e nem todo autor será best seller, mas a reflexão que fica: ele é menos digno de valorização e notoriedade? Admiro demais o setor cultural na sua complexidade e sou fã de inúmeros profissionais que cruzei até o momento por desempenharem com grandeza e propósito a sua arte e pesquisa. A pandemia só nos acendeu um alerta para olharmos ao lado e enxergarmos os profissionais que estão diariamente compondo uma história digna com a arte e a cultura, salvando a sanidade mental de muitos, a vida entristecida de tantos outros e tecendo qualidade de vida no local em que vivemos. 

Como é ser artista na região? 

É um misto de sensações (risos). Mas creio ser uma entrega muito pessoal em poder contribuir com o cenário teatral da região, pois SC ainda não é um polo forte e reconhecido nacionalmente nesta área das artes. Eu desenvolvo meu trabalho como artista sempre pensando nas conexões e encontros que o teatro me proporciona e isso é muito valoroso pra mim, pois há esta ênfase no fazer teatral de que somos sempre em coletivo, nunca um só. Levo isto para outras esferas, como agora por exemplo dentro da Fundação Cultural, sempre remetendo à um time, equipe, comunidade artística, etc. Por outro lado, o público da região ainda não está habituado a consumir arte e isso dificulta bastante na questão de venda do nosso produto, seja ele ingresso, suvenir, publicidade ou apresentações. Mas com fé de que aos poucos vamos mudando essa realidade.

Recentemente a Fundação Cultural recebeu diversas obras, na fachada e nas portas. Você acredita que trazer a arte para perto das pessoas é um caminho para a valorização cultural? 

Com toda certeza que sim! É de responsabilidade da Fundação promover o acesso e fomentar a arte local, portanto do que adianta aplicarmos isso somente nos textos e na fala e não na prática? Queremos implementar cada vez mais a identificação, fruição e propagação das obras ao nosso redor e de quem for frequentar estes ambientes, levando a arte ao encontro do ser. Este é um primeiro caminho, já que não possuímos ainda locais próprios para exposições, museus, apresentações, o cidadão tem um impacto no seu dia ao se deparar com uma obra de arte, ele não será mais o mesmo. Construção de hábitos, a partir do contato e da estesia que pode te proporcionar você começa a validar e considerar para si outras formas de ver a arte e a cultura, passando a ser natural para o seu dia-a-dia, sua vida. Basta uma oportunidade de aproximação e você verá o quanto lhe fará bem consumir arte! Sobre o grafite feito pelo artista Wilson Neném, esta ideia já vinha sendo pensada anteriormente com a antiga gestora Paula e só ganhou ainda mais força e motivação de fazer acontecer com a nossa gestão em 2021. Agora um exercício para refletirmos: quando viajamos para outros locais ou recebemos em nossas casas familiares de outros lugares, o que procuramos oferecer ou buscar como atrativo? Pontos turísticos e culturais que o local nos oferece.

Na sua opinião, o guabirubense tem orgulho da cultura local? 

Sim. Tenho como exemplo desde muito pequena ao ver as pessoas do meu bairro por exemplo, se unindo para determinados eventos, mulheres e homens não medindo esforços para deixar aquela cuca de festa a mais saborosa possível ou aquele churrasco, pessoas com a fabricação artesanal de cerveja atrás de casa, desfiles impecáveis e divertidíssimos, pessoas que colecionam e mantém itens históricos em perfeita preservação, entre outros exemplos muito simples que comprovam a apreciação por natureza da cultura local. A música, os dialetos, a culinária, as festas típicas, as tradições, as lendas locais, tudo isso é riqueza que a cidade possui consigo e feita por pessoas que se foram, que estão aqui e que virão: CULTURA SE CONSTRÓI E NÃO SE APAGA!

Quais ações o Poder Público pode viabilizar para fomentar ainda mais o setor cultural local? 

Vamos iniciar essa falando expondo que até o momento eu vejo uma crescente na valorização da cultura a partir do poder público. Este ano a Fundação Cultural de Guabiruba completa 10 anos de criação e faremos um selo comemorativo com demais ações para tal marco, sendo assim neste período todo de existência nos tornamos referência em diversos âmbitos: eventos, novos artistas surgindo na cidade, a ampliação da sede, comunicação com o próprio setor, etc. Daqui pra frente, na continuação desta história, pretendemos fortalecer ainda mais conforme as metas do Plano Municipal de Cultura, com um local mais adequado para apresentações por exemplo, se faz cada vez mais necessário. Outra meta é o aumento na aquisição orçamentária da Fundação Cultural, esta é uma das mais importantes ações, pois sem orçamento viável não conseguimos realizar novas metas.

Outras informações que julgar pertinentes.

Sigam a Fundação Cultural de Guabiruba nas redes sociais e acompanhem, fica o meu apelo para que a comunidade esteja a par das ações e frequentem a Biblioteca Pública Municipal Pref. Henrique Dirschnabel, a Fundação Cultural e os eventos que proporcionamos à todos. Agradeço ao jornal Guabiruba Zeitung pelo espaço e uso da palavra e agradeço publicamente a todas as pessoas que até o momento atual contribuíram de forma pública ou anônima para a construção da cultura de Guabiruba, estamos juntos. Agradeço também ao meu colega e profissional, Elivelton Reichert, que vem com a mesma proposta de somar para a cultura da cidade como assessor cultural e artista. No mais, sigo à disposição e pronta para fazer acontecer o melhor cenário que puder e estiver ao nosso alcance para o setor! Viva a arte, viva a cultura!

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