Por volta das 9 horas da manhã de um sábado ensolarado, uma voz ecoou por entre as ruas tranquilas de Guabiruba. Um apito, seguido por gritos de “Lobo, lobo, lobo!”. Era o chamado da chefe escoteira Aline Azevedo. E lá iam eles, crianças e adolescentes, correndo, com olhar de empolgação, para mais um encontro do Grupo Escoteiro Dragões da Montanha.
Assim começaram as atividades. Uniformizados, os jovens se alinharam rapidamente à frente da chefe Aline, cada um em sua formação: os menorzinhos nas “matilhas”, os maiores nas “patrulhas”. Nomes que fazem parte da estrutura do escotismo. As matilhas reúnem os pequenos do ramo dos Lobinhos, crianças de 6 anos e meio até 10 anos. As patrulhas são a divisão dos Escoteiros, para jovens dos 11 aos 14. Mais do que agrupamentos, são laços, células de amizade, organização e cooperação.
O primeiro ato foi o hasteamento da bandeira nacional. Um momento que, mesmo para os menores, carrega um peso silencioso. Em posição de respeito, todos os demais observavam enquanto dois jovens voluntários erguiam a bandeira, ao som do vento e dos pássaros. Um ritual simples, mas carregado de significado. Assim começou mais uma manhã no Dragões da Montanha.

Um grupo que quase deixou de existir
O grupo atua em Guabiruba desde 2022. Mas, por pouco, essa história não ficou no passado. Foi preciso coragem e uma pitada de teimosia para recomeçar. Quem conta essa reviravolta de bastidores é o presidente do grupo, Irineu Azevedo, conhecido com carinho como “Chefe Neeu”.
Aos 57 anos, o escotista gaúcho de Pelotas celebra, em 2025, 50 anos de promessa escoteira. É difícil falar de Neeu e não ver o brilho nos olhos ao contar sobre o movimento. Escotismo, para ele, é sinônimo de vida.

“A beleza natural de Guabiruba nos encantou. É uma cidade ímpar em relação a isso. Quando chegamos aqui, procuramos o grupo escoteiro, mas infelizmente eles estavam no apagar das luzes, encerrando as atividades. Estava com o último acampamento marcado, seria a última atividade do grupo”, lembra ele.
Foi ouvindo essa notícia que ele e a esposa Aline, também chefe escoteira, tomaram a decisão que mudaria tudo. “Quando tivemos essa informação, tomamos novamente a decisão de ficar à frente de um grupo escoteiro e tocar pra frente. Fomos nesse acampamento em Botuverá, onde foi anunciado que seguiríamos com o projeto do Dragões da Montanha.”
A retomada só foi possível graças ao apoio das famílias e à criação de um núcleo estratégico: os “Guardiões do Dragão da Montanha”.

“Com um grupo de pais que não queriam o encerramento das atividades, criamos esse núcleo para buscar apoio”, conta o chefe Neeu. “Até então as reuniões eram na escola Carlos Maffezzolli. Mas o escoteiro gosta de natureza, gosta de sol, de chuva. Então, conseguimos esse local para nossa sede, por meio de alguns apoiadores. Hoje temos uma sede para poder realizar as atividades”.
A sede hoje funciona em um espaço alugado, em meio à natureza exuberante de Guabiruba, e se mantém graças ao apoio de empresas da região, que se tornaram verdadeiros pilares do projeto. A lista de apoiadores inclui: Agropecuária 10 de Junho, Athlon, Auto Clave Guabiruba, Doce Encanto, Eduarda Schweigert, GBA Têxtil, Gráfica Arco Íris, Gráfica Nova Impressão, Índio Caçador, Neeu Azevedo Marketing, Restaurante Divino Sabor, Rocha Outlet, Supermercados Carol, Tecnobike e Vidraçaria Guabirubense.
“Cada um ajudou de alguma forma. É uma união da comunidade para manter acesa essa chama entre os jovens da cidade”, conta.
Educação para a vida
Segundo o chefe Neeu, o escotismo vai muito além de acampamentos e fogueiras. “O principal objetivo do movimento escoteiro é a educação. Não é aquela educação escolar, mas um complemento. São atividades afetivas, de caráter, de socialização. Isso é o principal.”
Ele segue: “Acampamentos, aventuras, esses são atrativos para os jovens, mas que, por trás, sempre têm alguma coisa relacionada à educação para eles”.

O movimento é dividido por faixas etárias, e cada uma trabalha uma habilidade fundamental na formação dos jovens:
Lobinho (6,5 a 10 anos): Aqui o objetivo é a socialização. Tudo é feito em grupo: lanche, brincadeiras, organização. “Eles andam em ‘matilhas’, que fazem tudo juntos. Na hora do lanche, todos fazem o lanche juntos. Na hora de cuidar da higiene pessoal, forma-se uma fila para utilizar o banheiro. Desenvolver atividades, tem que fazer todos juntos”, conta o chefe.
Escoteiro (11 a 14 anos): Nessa fase, entra a autonomia. “Quando eram lobinhos, os pais faziam o almoço, as refeições nos acampamentos. Quando viram escoteiros, eles precisam elaborar o cardápio, arrecadar fundos para o acampamento, ir ao mercado fazer as compras”, explica Neeu. “Ser escoteiro é viver uma aventura com um grupo de amigos. É acampar, fazer uma tirolesa”, complementa.
Sênior (15 a 17 anos): Aqui o desafio aumenta e os jovens vão em busca de superação. “Já entra um rapel numa ponte, jornadas mais longas, um pedal de 20km… já começa a desafiar os próprios limites”, destaca.
Pioneiros (18 a 21 anos): Esse é um momento de transição para a vida adulta. “É quando já estão entrando na faculdade, trabalhando, namorando… então, começam a se preparar para ser adultos. Fazem mutirões em prol da comunidade, como recuperação de praças, ajuda em escolas… Aqui termina a jornada como jovem escoteiro”.
Depois disso, se o desejo permanecer, o jovem pode se tornar escotista, os instrutores voluntários que recebem o título de “chefes escoteiros”.
Olhar de dentro
Isadora Albrecht participa do grupo há dois anos e é só sorrisos quando fala das atividades. “Eu gosto de me divertir aqui. Gosto dos acampamentos”, diz. Para ela, a maior lição é sobre respeito: “O que eu mais aprendo é a preservar a natureza e os animais”, diz, empolgada.

Alana Azevedo, filha do chefe Neeu, é do ramo sênior. Nos olhos dela, a história do movimento escoteiro se mistura com sua própria vida. Ela carrega no peito, com orgulho, a medalha de 10 anos dedicados ao escotismo.

“Entrei com 6 anos e meio como lobinha, lá em Pelotas. Meu pai queria que eu tivesse essa experiência e me colocou,” conta.
Quando a família mudou para Guabiruba, ela ficou inconformada com a situação do grupo local: “Como? O de Botuverá é gigante, o de Blumenau também. O de Brusque, nem se fala, é um dos maiores do estado. E Guabiruba está fechando? Não fazia sentido”.
Ela lembra que no começo da transição, o grupo era bem pequeno. “Tinha apenas dois escoteiros, dois jovens do ramo sênior e alguns lobinhos. O grupo está sendo divulgado agora, como na Festa da Integração, que ajudou demais. O grupo ainda é pequeno, mas está voltando”, diz, esperançosa.
Um convite à aventura
O Grupo Escoteiro Dragões da Montanha está com inscrições abertas, acolhendo jovens a partir de 6 anos e meio. Mais do que aceitar novos membros, o grupo estende um convite à descoberta, à natureza, à cooperação, à amizade.
O contato pode ser feito pelo número (47) 99173-6173 ou pelo Instagram @dragoesdamontanha131
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Parabéns pela iniciativa. Nossas crianças e adolescentes precisam de bons exemplos, trazendo-os ao mundo real, diminuindo assim o virtual. 👏🏻👏🏻👏🏻🤝🤝🤝🙏🏻🙏🏻🙏🏻