Assim como Guabiruba se desenvolve e prospera a cada ano, a Mini Cidade de Francisco SchaeferFrancisco Schaefer também cresceu e ganhou estações, trilhos e muitos trens. No vai e vem da ferrovia, eles transportam a alegria do idealizador e dos visitantes, que independente da idade, distribuem sorrisos enquanto “passeiam” pelos lugares em miniatura.
“Eu comprei os primeiros trenzinhos e os trilhos de uma empresa de Campinas (SP) e fiz essa parte há três anos. Todos os trens funcionam em um comando principal. Ali eu coordeno a velocidade, se ele vai para frente ou para trás. É fácil de montar, mas eles são bem sensíveis. Se tiver algo no trilho já descarrilha”, conta ele, que iniciou a montagem da ferrovia superior em maio deste ano.
“O próximo passo é instalar os trilhos. Na parte de baixo eu não coloquei, mas na superior vou instalar uma cortiça sob o trilho para nivelar. Os trens novos eu ainda tenho que comprar”, diz.
A cidade
Na primeira parte é possível observar o centro da Mini Cidade, onde 54 carrinhos se movimentam ao mesmo tempo pelas ruas, que dão acesso ao comércio local. Ao longo da plataforma de madeira, montada em uma altura acessível para as crianças, diversas peças chamam atenção.
Uma delas é a casa enxaimel, inspirada na residência que faz parte da paisagem e da história do município, no bairro Guabiruba Sul. E para quem acha que os tijolinhos são uma ilustração em papel adesivo, se engana, seu Chico pintou cada um deles com pincel.
Outro imóvel que enche os olhos é o castelo Neuschwanstein – palácio alemão construído na segunda metade do século XIX, no sudoeste Baviera. Um bonequinho que gira sobre a água também se destaca.
Mas é o conjunto da obra, que torna a experiência de conhecer a Mini Cidade idealizada pelo seu Chico e seu irmão Arlindo Schaefer, há 25 anos, ainda mais especial. Cada detalhe encanta pelo capricho e cuidado com que foi produzido.
Alguns imóveis são fruto da imaginação do aposentado, mas a maioria é a miniatura fiel de um local de Guabiruba. E claro, que a população guabirubense também é retratada com bonequinhos espalhados por todos os lados, dando vida a imaginação dos espectadores.
Como o casal de Blumenau, Tamara Cardoso e Maicon Roberto Poli de Aguiar, que queria fazer um passeio diferente durante a pandemia e pesquisou Guabiruba na Internet.
“A gente queria fazer um turismo mais simples, sem muita movimentação. Então entrei no site da Prefeitura e vi as opções. Um dos lugares da nossa lista era a Mini Cidade”, destaca ele, que é professor de história.
Aguiar comenta que adora trens e ficou impressionado com a estrutura montada na Mini Cidade. “O capricho com que ele faz as peças é muito significativo. É algo curioso para crianças e adultos”, avalia. O casal também visitou os Morros São José e Santo Antônio, além do centro do município.
A construção
Seu Chico conta que costumava fazer presépios caseiros para os vizinhos visitarem na época do Natal e quando parou era sempre cobrado pelos amigos para retornar, pois todos gostavam muito. Então, junto com o irmão Arlindo Schaefer, que era marceneiro, planejou por cerca de dois anos a construção de uma mini cidade, já que não queria mais fazer presépios.
“Até que um dia eu cheguei pra ele e disse: chega de teoria, vamos colocar em prática”, recorda ele, que trabalhou por 31 anos em uma fábrica de elástico. Tanto que parte de duas trançadeiras (máquina de fazer elástico) ele transformou em atrações na Mini Cidade, uma delas é uma pista de skate.
Sem nunca ter visto uma maquete antes, seu Chico teve a ideia de utilizar correia de bicicleta para fazer os carrinhos rodarem sobre uma plataforma. Os carrinhos, eles compraram na Festa de Azambuja, em Brusque, por R$ 1,50 cada. Os primeiros carrinhos já foram substituídos por novos, pois estavam com os pneus gastos.
“Colocamos tudo em cima de uma mesa e começamos. A gente queria controlar a velocidade, porque direto do motor os carrinhos iriam andar muito rápido. Aí montamos as correntes e conseguimos. Do jeito que fizemos há 25 anos está hoje”, comemora.
No total, na primeira parte da maquete foram utilizadas 13 correntes de bicicleta e 32 engrenagens roda livre. “Nós íamos fazer um estágio só para os carrinhos, mas o meu irmão sugeriu fazer mais. Então fizemos três velocidades”, explica.
A iluminação também recebeu atenção dos irmãos. “No presépio antigo eu colocava um arame e uma baga de rosário, para dizer que era luz. Desmanchei alguns rosários por causa disso. Mas na Mini Cidade eu queria uma iluminação pra valer. Pedi ajuda do meu sobrinho, que trabalhava em uma empresa de peças de carro. Usei luz de painel de fusca controlado com 12 volts. O bocal do poste eu fiz com a boca de garrafa pet”, detalha.
Manutenção
Além de criar as peças, Chico também realiza a manutenção. As plataformas de madeira são resistentes, para que ele possa caminhar sobre a cidade. Tanto para consertar o que não esteja funcionando, quanto para construir novas atrações.
“Agora que estou fazendo a segunda via do trenzinho, faço tudo por cima. Às vezes, preciso tirar todas as peças e amontoar em um canto para trabalhar em outro”, comenta.
Turismo
Seu Chico conta que tanto ele quanto o irmão nunca pensaram que a Mini Cidade seria um ponto turístico de Guabiruba. Arlindo morreu há 11 anos e não chegou a ver o sucesso do empreendimento planejado por eles.
Como mora sozinho, o aposentado utilizou a própria casa para expor sua obra aos visitantes. A primeira parte foi na sala, depois, em 2012, desativou um quarto.
Para deixar a estrutura como está hoje, em 2017 recebeu R$ 12 mil de verba do Fundo Municipal de Cultura. Investiu o mesmo valor e construiu a parte da frente, com rampa na entrada. “Esse dinheiro foi um incentivo pra eu fazer”, afirma.
Seu Chico conta que gosta de todas as peças que criou, mas tem um carinho especial pelos trens, que nunca tinha visto. Ele fica muito feliz com a reação das pessoas. “Eu gosto muito que as pessoas venham ver. É pra isso que está aqui”, explica ele, que nunca quis cobrar ingresso para visitação.
Para visitar
A mini cidade pode ser visitada durante todo o ano e não somente nos seis dias da Pelznickel Platz, que é realizada no mesmo terreno. Seu Chico explica que se a porta estiver fechada é só chamar que ele atende. “Não consigo ficar direto aqui, deixo fechado por segurança”, explica.
Para visitação não é cobrado ingresso. Quem quiser, contribui espontaneamente.