Há pouco mais de um ano, a rotina foi alterada com a chegada da pandemia da Covid-19. A dinâmica social de cada um e da cidade mudou. As festas de igreja, eventos de entidades, reunião de amigos e muitos outros lazeres foram interrompidos. O contato social com o outro começou a ser mais forte pelo meio virtual e o abraço e outras formas afetivas de interação ficaram comprometidas. O contágio físico da doença andou junto com o contágio mental de informações verdadeiras e falsas sobre a Covid-19.
Especialistas da mente afirmam que diante de um cenário mais estressante, cada um reage diferente. E a saúde mental, que já era uma preocupação, começou a ficar mais comprometida. Muitas pessoas infectadas também tiveram o sistema psicológico abatido e parte da humanidade começou a ficar mais triste. E você, como tem se sentido?
O Guabiruba Zeitung entrevistou as psicólogas de Guabiruba Sara Almeida Cuba e Stefanie Debatin para saber se a pandemia tem interferido na saúde mental das pessoas por elas atendidas.
Ansiedade e Síndrome do Pânico
Conforme Stefanie, a queixa de ansiedade aumentou tanto nas pacientes que já atendia, quanto nas novas. “O medo de que aconteçam coisas ruins aparece muito nos relatos. Inclusive, percebi um aumento na procura por atendimentos por conta da pandemia. Acredito que seja por se tratar de um período muito incerto e sem previsão de término. Estávamos acostumados a viver de uma forma e a pandemia nos obrigou a mudar. Muitas pessoas também perderam entes queridos ou estão com medo de que isso aconteça, isso acaba afetando a saúde mental drasticamente. É uma realidade que ninguém esperava”, pontua Stefanie.
Visão semelhante é compartilhada pela psicóloga Sara. Ela frisa que a pandemia aumentou os fatores considerados estressores e diminuiu os considerados protetores da saúde mental, como o convívio e contato próximo entre as pessoas. Fatores esses que podem ser precursores no desenvolvimento de inúmeras doenças psicológicas. “Aumentou muito a procura principalmente as queixas de ansiedade e pânico. Antes da pandemia eu conseguia conciliar os atendimentos com outros projetos na área organizacional, hoje devido a demanda precisei me dedicar exclusivamente a clínica”, frisa Sara.
De acordo com ela, a pandemia tem como característica a imprevisibilidade. “Começando por não temos como saber se as medidas de segurança que seguimos serão suficientes para evitar o contágio, passando pela incerteza se estamos contaminados ou não, se teremos sintomas, se seremos internados, se sobreviveremos. A quarentena também produz incertezas em relação ao futuro profissional e financeiro, podendo representar ameaça iminente à sobrevivência de pessoas em condições sociais menos favorecidas; e tudo isso tende a elevar muito a ansiedade”, esclarece Sara, afirmando que o agravamento na saúde mental se deve também a dificuldades relacionadas ao luto por mortes de entes queridos em um curto espaço de tempo, juntamente à dificuldade para realizar os rituais de despedida, dificultando a experiência de luto e impedindo a adequada ressignificação das perdas, aumentando o estresse. “Além disso o convívio prolongado dentro de casa aumentou o risco de desajustes na dinâmica familiar. Somam-se a isso as reduções de renda e o desemprego, que pioram ainda mais a tensão sobre as famílias”, afirma.
Stefanie atende somente mulheres e as principais situações que chegam até ela são ansiedade e baixa autoestima. “Também aparecem outros como depressão e transtornos alimentares. Em nível mundial, entre os transtornos mais frequentes estão a ansiedade e a depressão, que ganharam ainda mais força com a pandemia”, destaca a profissional.
Guabiruba Zeitung: Qual a diferença entre tristeza e depressão
Sara Almeida Cunha: A tristeza é uma emoção normal e necessária, que pode durar algumas horas ou até alguns dias. Mesmo triste você ainda consegue fazer as tarefas simples do dia a dia; e geralmente ela e causada por algum acontecimento específico. Já a depressão, sem o tratamento certo, pode durar meses ou anos. O sentimento ruim não passa e afeta vários aspectos da vida: saúde, trabalho, relacionamentos, família e vida social. Em casos mais sérios, pessoas com depressão podem até pensar em suicídio. Não existe um único fator responsável por desencadeá-la, mas sim vários fatores que podem aumentar seu risco, por exemplo: a deficiência na produção de algumas substâncias pelo cérebro, herança genética, aspectos da personalidade (baixa autoestima ou pessimismo) e fatores ambientais (como exposição à violência, à negligência ou à pobreza). Ela apresenta diversos sinais e sintomas, como não ter interesse ou o prazer em atividades que antes eram divertidas; perder ou ganhar peso sem ter feito alterações na dieta; ter problemas com sono (dormir pouco ou dormir demais); ter explosões de raiva, mesmo por motivos bobos; estar sempre cansado, com pouca energia ou lento; sentir dificuldade para se concentrar ou para tomar decisões; ter sentimento de culpa ou de inutilidade.
GZ: Mais mulheres do que homens tem doenças psicológicas?
Stefanie Debatin: O número de diagnósticos costuma ser maior em mulheres por conta de uma série de questões culturais e biológicas envolvidas. Já entre homens a taxa de diagnóstico é menor, pois estes apresentam maior resistência em procurar atendimento profissional e expressar seus sentimentos. Por exemplo, a depressão é mais recorrente em mulheres, porém a taxa de suicídio é maior entre os homens justamente pelos pontos citados anteriormente. Por fim, fica difícil saber ao certo se realmente a incidência é maior nas mulheres ou se isso se dá somente pela falta de diagnóstico em homens.
GZ: Como proteger a mente dos problemas psicológicos?
Sara Almeida Cunha: Tente sempre estar conectado a sua família e amigos. É possível manter a distância sem perder o afeto ao usar recursos de aplicativos e telefone. Use estratégias de enfrentamento que possam te ajudar: garanta seu descanso, coma alimentos saudáveis, pratique atividade física, invista em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente; se estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos, invista e estimule ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário); reenquadre os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia; evite o uso do tabaco, álcool ou outras drogas, pois elas tendem a aumentar a ansiedade e busque fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde e evite assistir muitos jornais e por muito tempo.
GZ: Quando é hora de procurar ajuda?
Stefanie Debatin: não há uma regra exata para isso. A pessoa pode procurar ajuda quando já está em sofrimento ou para “manter a casa em ordem”. No geral, é interessante buscar ajuda quando não se consegue mais lidar sozinho com uma situação que lhe causa angústia e sofrimento. Situações traumáticas, emoções intensas que prejudicam o cotidiano, desânimo e cansaço constantes, afastamento social e dificuldades nos relacionamentos são alguns dos exemplos que merecem atenção especial o quanto antes. Procurar ajuda de um profissional qualificado é sempre a melhor opção.
Parabéns pela abordagem do tema. A Psicóloga Sara é uma excelente profissional. Super recomendo.
Parabéns pela abordagem do tema. A Dra Sara Cuba é uma excelente profissional. Super recomendo.
Muito importante trazer profissionais competentes para falar de saúde mental. Minha irmã teve a sorte de ser paciente da psicóloga Sara e desde então se transformou e passou a viver com alegria.