A religiosidade, a educação e a disciplina sempre foram consideradas fundamentais para o povo guabirubense, tanto que a primeira igreja e uma das primeiras escolas da então Colônia Itajahy-Brusque (à qual pertencia até o ano de 1962, quando foi emancipada), foram instaladas em Guabiruba, numa iniciativa dos próprios imigrantes.
No início, a vida de igreja acontecia no círculo familiar. Segundo o Padre Eder Celva (2013), a referência religiosa material era fundamental para a vida dos imigrantes inseridos num contexto exclusivamente agrário, com uma visão sacral de ver as coisas e o mundo. Embora a construção de igrejas fosse de responsabilidade do Governo Imperial, em Guabiruba não se cogitou esperar por auxílio público e, poucos meses após a chegada dos imigrantes, a primeira capela foi edificada. Ao se referir ao assunto, Oswaldo Cabral (1958) informa que o primeiro templo católico da Colônia Itajahy-Brusque foi o da então Guabiruba do Norte, edificada em junho de 1861, no centro de Guabiruba. Ainda em meio à mata, os colonizadores fixaram um tosco cruzeiro, que logo se transformou em ermida (pequena igreja em lugar ermo), encosta acima, próximo à confluência do rio Pomerânia com o rio Guabiruba.
De acordo com as pesquisas de Roque Luiz Dirschnabel (2018), a primeira capela foi construída no centro, nas terras de Franz Jakob Klein onde, posteriormente, Johann (João) Kormann tinha um pequeno comércio de escambo, mais tarde herdado por Theodoro Belli (casado com Paulina Kormann). Denominada Mariahilfskapelle (Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro), foi construída de espiques (caules) de palmito. O piso da capela era de chão batido e a cobertura de palha. Também existem registros da construção de uma pequena capela na localidade de Guabiruba do Norte Alta no ano de 1862, denominada Capela de Santo Afonso, onde atualmente existe um cemitério.
Na Stadtplatz (sede da colônia, atual centro de Brusque), a primeira capela só foi erigida no ano de 1866, cinco anos depois da primeira capela ter sido erguida em Guabiruba, e tão somente porque houve investimentos privados.
A importância da disciplina e da educação para o guabirubense
A família, a escola e a igreja se complementam e constituem os principais pilares da sociedade. No entanto, nos primórdios da colonização no Sul do Brasil, raramente o Governo se preocupava com a questão da educação – tão importante para os imigrantes germânicos, que já tinham aprendido em sua terra de origem sobre a força da educação e da disciplina para o desenvolvimento de uma sociedade.
Ainda segundo as pesquisas de Dirschnabel (2018), no tempo em que os imigrantes chegaram, o Padre Alberto Francisco Maximilliano Gattone apostolava em Blumenau e Gaspar quando foi chamado pelo Barão von Schneeburg, Diretor da Colônia, para atender ao crescente número de famílias católicas da Colônia Itajahy-Brusque. Face a ausência de professores qualificados, o Pe. Gattone estimulou alguns colonos para que ensinassem as primeiras letras em suas comunidades. Frederico Nützel, Carlos Scharf, Francisco Weitgenant, Beniamino Suem, João Jensen, Karl Boos e, logo depois, João Boos, sendo colonizadores mais esclarecidos, assumiram a nobre função de ensinar. A primeira escola paroquial de Guabiruba começou a funcionar ainda em 1862, nas imediações da primeira capela – Mariahilfskapelle, e com isso vem a ser, de fato, a primeira escola da Colônia Itajahy-Brusque. A escola tinha como professor o sacristão Frederico Nützel que, antes de atuar como professor, já ministrava a catequese e escolarizava as crianças e os jovens, sob a coordenação do Pe. Gattone.
No Álbum do Centenário de Brusque (1960) encontramos diversas informações sobre a questão educacional em Brusque, à qual Guabiruba pertencia. Walter F. Piazza comenta, no referido livro, que em 1864 foi autorizada a criação de uma escola de instrução primária para o sexo masculino na Colônia Itajahy-Brusque, com salário do professor pago pelo governo. Mas essa escola, instalada no centro da Colônia, não atendia as comunidades do interior da Colônia. No entanto, como visto acima, Guabiruba já tinha sua própria escola desde 1862, ainda antes que a primeira fosse instalada na Stadtplatz – sede da colônia -, numa iniciativa da Igreja Católica, e em 1º de fevereiro de 1868, começou a funcionar uma escola particular na localidade de Guabiruba do Norte Alta (bairro Aymoré). Atualmente a escola é denominada Padre Germano Brandt e, de acordo com Dirschnabel (2018), Karl Boos (o “velho”, não confundir com Carlos Boos) foi o professor na comunidade católica e ensinava as primeiras letras numa casa particular. A comunidade da igreja luterana de Sternthal, também vinculada ao bairro Aymoré, teve uma pequena escola, sendo seu primeiro professor o “velho” imigrante Bartz.
Conforme Piazza, em 1880 foi fundada a primeira escola particular alemã em Guabiruba do Norte. Dirschnabel complementa esclarecendo que a referida escola se localizava próximo da atual instalação da Casa das Irmãs, na rua 10 de junho, no Centro, onde lecionou o Sr. Carlos Scharf. Esta escola foi fechada durante a Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, foi substituída pela atual escola Prof. João Boos, construída na rua Brusque. Piazza (1960) também escreve que, em 1885, foi fundada no bairro Alsácia a primeira escola particular, em língua alemã, que funcionava duas vezes por semana. No ano seguinte, em 1886, foi criada a escola particular de Guabiruba do Sul. E só muitos anos depois é que essas escolas passaram aos cuidados do Governo, que criou outras escolas.
Já se passaram 158 anos desde que o primeiro grupo de imigrantes originários de Baden chegou. Guabiruba se desenvolveu e, em 2018, tanto escolas como templos religiosos, especialmente os católicos, existem em todos os bairros da cidade. Seu povo pouco se miscigenou e conseguiu preservar seus valores, tradições, expressões étnicas, religiosidade e cultura, sendo bastante perceptível que, no inconsciente coletivo do povo guabirubense, existe um elemento que continua agindo de forma destacada sobre o inconsciente humano evidenciado na manifestação do seu folclore: o Pelznickel.