Phelipe dos Santos Souza

Médico fala sobre Covid-19 e orienta população sobre cuidados básicos que evitam a transmissão

0
384

Professor do curso de Medicina do Centro Universitário de Brusque (Unifebe) e da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Phelipe dos Santos Souza, 32 anos, possui residência médica em Clínica Médica pelo Hospital Santo Antônio (Blumenau/SC) e residência médica em Alergia e Imunologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (HCFMRP – USP). É mestre em Saúde e Gestão do Trabalho e médico alergista e imunologista da Clinmedi Itajaí e do Núcleo de Atendimento da Praia Brava – Unimed Litoral.

O médico é nosso entrevistado sobre o principal assunto que vem atormentando o mundo no momento: Covid-19.

Guabiruba Zeitung: Santa Catarina vem experimentando um retorno gradativo das atividades do comércio. Isso pode criar a falsa impressão de que o pior da pandemia já passou. Porém, o número de infectados pelo novo coronavírus em Guabiruba e Brusque passou de 18 para 42 entre 11 e 26 de abril. Você acredita que a população tem consciência de que o risco de contágio hoje é maior?

- Publicidade i -

Phelipe dos Santos Souza: Temos observado um real aumento nos números de infectados com as mais diversas manifestações clínicas, o que invariavelmente nos deixa mais expostos ao contágio. Frente ao movimentos populacional nas ruas, estabelecimentos e não adesão a orientação do uso das máscaras individuais e o distanciamento, acredito que população infelizmente não tenha plena convicção da gravidade do potencial de disseminação desta doença ou pior, que uma parcela não esteja convencida de que a COVID-19 exista, o que culmina por deixar os mais vulneráveis expostos ao Sars-CoV-2 (vírus da COVID-19).

GZ: O governo estadual estabeleceu uma série de determinações para que os estabelecimentos comerciais voltassem a funcionar, tais como uso de máscara, marcações de distanciamento entre as pessoas, disponibilizar álcool em gel na entrada. Cumprindo essas determinações, as pessoas estarão seguras?

PSS: A adesão rigorosa a estas medidas é capaz de reduzir, em parte, a suscetibilidade para infecção pela COVID-19, porém, ainda estamos muito expostos. Estas medidas são para viabilizar a circulação das pessoas em situações necessárias, como os profissionais dos serviços essenciais. Algumas destas medidas, que inclusive já fazem parte das normas e rotinas de biossegurança dos profissionais de saúde, estão sujeitas a falhas, mesmos nos mínimos processos, sendo responsáveis pelas contaminações e acidentes biológicos. Os órgãos governamentais ligados com a assistência à saúde devem instruir cada vez mais a população para lidar com as máscaras, higienização das mãos e rotinas de distanciamento pessoal, para estarem de fato mais seguras.

GZ: Muitas pessoas são vistas nas ruas praticando caminhada ou corrida sem o uso de máscara. Ao ar livre e em ambientes de baixa aglomeração, o uso de máscara também é essencial?

PSS: Dada a permanência de partículas em suspensão no ar por horas, seja com o Sars-CoV-2 ou com outros vírus, a utilização correta de máscaras em ambiente fora de domicílio, na atual conjuntura, é uma medida para prevenção individual contra a COVID-19 e demais infecções respiratórias virais.

GZ: Embora a atividade física seja importante para a saúde, isso justifica a reabertura de academias e salas de musculação? A prática de atividades físicas em ambientes abertos não seria mais indicada devido ao menor risco de contágio?

PSS: De modo geral, os ambientes devem preparar-se para receber gradativamente as pessoas, conforme o aumento da circulação social. Porém, é de extrema importância, que todos estejam atentos e evitem frequentar ambientes com altas aglomerações, até que a situação com a COVID-19 esteja de fato controlada. Neste momento, talvez o mais indicado seria incentivar a prática saudável de atividades físicas nos ambientes abertos, mas ainda com conscientização, organização e fiscalização para evitar aglomerações.

GZ: Há vários casos de adultos jovens e saudáveis, inclusive atletas profissionais, que tiveram de procurar cuidados hospitalares para tratar dos sintomas da Covid-19. Mas a maior parte desse perfil da população terá sintomas leves ou será assintomático. Essa diferença é por conta do sistema imunológico de cada indivíduo?

PSS: A resposta do sistema imunológico é muito individual, por isso tem-se pacientes de todas as faixas etárias com as mais diversas manifestações da COVID-19. No entanto, sabemos que pessoas mais saudáveis tem um melhor funcionamento do sistema imunológico e principalmente uma melhor adaptação durante as infecções, ao mesmo tempo, conforme envelhecemos, nosso sistema imune também envelhece, nos deixando mais vulneráveis.

GZ: Muitas empresas farmacêuticas têm aproveitado esse momento de pandemia para vender multivitamínicos e minerais que prometem aumentar a imunidade dos pacientes. Esses produtos funcionam? Quais são as recomendações mais eficazes para melhorar o sistema imune? Quais alimentos auxiliam nesse processo?

PSS: Não há nenhum consenso científico que defina a concretamente a ação de um determinado alimento para melhorar o sistema imune. Sabe-se que rotinas saudáveis no dia a dia são as melhores medidas para a imunidade, que incluem: sono de qualidade, prática de atividades físicas, consumo de vegetais (frutas, verduras), castanhas, peixes, leite e derivados, reduzir o estresse, manter exposição regular a luz solar e beber água em quantidade adequada. São hábitos que todos deveriam adaptar.

GZ: Se por um lado o número de infectados cresce, cresce também o número de pacientes que venceram a doença. É correto dizer que esses pacientes estão imunes ao vírus?

PSS: Os estudos sobre a imunidade definitiva contra o vírus da COVID-19 ainda não são completamente claros, por se tratar de uma doença muito nova, com uma característica muito agressiva contra o organismo e sistema imune. Há indícios sim de uma imunidade parcialmente protetora, mas com necessidade de atualização frequente, igual como ocorre contra o H1N1, vírus da Gripe A, para o qual todos os anos temos atualizações vacinais.

GZ: Obesidade, hipertensão, diabetes, tabagismo: todos são comorbidades para a Covid-19 e também pra uma série de outras doenças. Depois que essa pandemia passar, você acredita que as pessoas valorizarão ainda mais hábitos de vida saudável?

PSS: Acredito que estamos diante de uma grande oportunidade de ressignificar nossos valores pessoais e hábitos de vida, principalmente aqueles ligados à saúde. Podemos perceber que nosso organismo, independentemente de quão avançadas sejam as tecnologias, ainda é sensível diante de um vírus tão pequeno. É importante que estejamos conscientes em cuidar melhor da nossa saúde e dos nossos hábitos cotidianos.

GZ: O que é ainda importante destacar sobre o tema? 

PSS.: Neste momento é muito importante que estejamos atentos às medidas de prevenção e cuidado no contato social, para prevenirmos o contágio com o vírus da COVID. Enquanto a situação não estiver totalmente controlada, utilizar máscaras ao sair de casa, higienização mais frequente das mãos e evitar as aglomerações. Tal qual já adquirirmos melhores hábitos de vida e cuidados com a saúde, para aproveitarmos melhores os nossos dias e a companhia daqueles que amamos.

Deixe uma resposta