“Após isso [o suicídio], você percebe sim que [a pessoa] deu muitos sinais. A gente que não nota. Eu não notei. Não deu pra ser grata a ela, por tudo que ela me fez”. Essas são algumas palavras de Suzana Paulino Costa, que perdeu um familiar para o suicídio.
Mesmo após quatro anos do ocorrido, Suzana ainda lembra nitidamente a luta contra a depressão que travou seu familiar. “Já teve depressão, tratou, mas voltou. Pra mim não, [ela] nunca comentou que queria tirar a própria vida. Todos fazem algo diferente antes de cometer isso. [Me senti] péssima, a gente sente que não conseguiu ajudar”, afirma.
Em setembro, é comum as redes sociais se encherem de cartazes amarelos em promoção à vida, isso porque a campanha Setembro Amarelo busca prevenir o suicídio, promover a saúde mental e lembrar às pessoas que, por mais difícil que esteja suportar a carga mental, o suicídio não é a solução.
A psicóloga Ticiane Cristiana Schlindwein, que também é Conselheira Tutelar em Guabiruba, traz importantes dados sobre o suicídio em todo o país e a relevância da campanha Setembro Amarelo. “Todos os anos ocorrem cerca de dez mil suicídios no Brasil e mais de 1 milhão no mundo todo. Por causa da falta de informação sobre o comportamento suicida, desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria organiza o Setembro Amarelo, mês escolhido por conter o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, dia 10/09”, destaca a profissional.
De acordo com a psicóloga, o suicídio pode ser definido como o ato realizado de forma consciente pela pessoa com a intenção de levar a sua morte. Além disso, existem os comportamentos suicidas que são os pensamentos, planos e tentativas de suicídio. Pesquisas mostram que 17% dos brasileiros já pensaram, em algum momento, em tirar sua vida. “Quando falamos no suicídio não devemos ver apenas o ato de forma isolada e sim todo o contexto em que essa pessoa vivia, sua história de vida, seus medos, seus traumas. Existe a relação entre fatores psicológicos, biológicos, culturais e sociais. Por isso é importante não minimizar os problemas de outras pessoas, pois pode parecer que a situação é fácil de resolver, mas pode ser muito difícil para a pessoa do seu lado”, enfatiza Taciane.
E há quem diga que o problema é a geração atual, considerada por muitos como “nutella”, que não enfrentou grandes problemas na vida, mas ainda assim sofrem com sua própria existência. Ticiane Schlindwein desmistifica esse pensamento, salientando que é preciso atenção dobrada em quem demonstra algum nível de sofrimento constante.
“O suicídio está presente há séculos na história da humanidade, porém ainda possui muitos estigmas, mitos, tabus e preconceitos que o envolvem, dificultando a discussão e o manejo profissional sobre o assunto. Isso faz com que a pessoa que tenha algum pensamento suicida fique com medo de falar sobre o assunto por conta dos julgamentos que irá receber”, comenta a psicóloga.
Ticiane ressalta que o número de suicídio entre jovens vem crescendo de forma alarmante. “Outro índice que chama a atenção é o de suicídio entre jovens, sendo uma das três principais causas de morte de pessoas que têm de 15 a 44 anos de idade. As motivações são complexas e podem incluir humor depressivo, abuso de substâncias, problemas emocionais, familiares e sociais, histórico familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência, além de abuso físico e sexual na infância. Falar sobre suicídio é importante para desmistificar os tabus que rondam o tema, além de mostrar para quem precisa de ajuda que existe uma outra alternativa”, finaliza Ticiane.
Ajuda gratuita
Existem inúmeras opções de ajuda psicológica e psiquiátrica para quem busca resolver problemas emocionais, pensamentos autodestrutivos ou apenas conversar com alguém que esteja disposto a te ouvir atentamente, tudo isso de forma gratuita.
Uma das opções é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) de Guabiruba. Keitty Moraes Borges é uma das responsáveis pelo atendimento no Centro. Durante esse mês, as ações irão apoiar ainda mais os colaboradores das Unidades Básicas de Saúde (UBS), já que eles são a porta de entrada dos serviços, principalmente durante a pandemia.
“Trabalharemos com ações simbólicas como a entrega de mensagens de apoio e incentivo, que fazem com que o colaborador sinta que tem com quem contar, caso precise”, explica Keitty. A pandemia do novo Coronavírus não causou apenas problemas pulmonares, o número de atendimentos no CAPS I aumentou significativamente, por conta da solidão que o isolamento social impõe a muitas pessoas. “Já era esperado que os atendimentos aumentassem por conta da Covid-19, já que hoje vivemos um momento de insegurança e solidão, devido ao isolamento social, estresse econômico entre outros aspectos que influenciam e geram sintomas negativos”, explica Keitty.
Ainda assim, o Centro está de portas abertas para atender quem precisa de ajuda. O atendimento é de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. Para dúvidas, a comunidade pode ligar para o número 3308-3168. Keitty reforça a necessidade dos familiares estarem atentos aos sinais.
“É importante identificar que o amigo ou o familiar não está bem e oferecer ajuda, apoiar, ouvir, sem julgamentos ou críticas. O carinho das pessoas próximas é fundamental nesse momento. Caso perceba que sua ajuda não está sendo suficiente, procure ajuda profissional como o CAPS ou as Unidades Básicas de Saúde”, enfatiza Keitty.
O Centro de Valorização à Vida (CVV) também presta apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. O atendimento por telefone pode ser pelo número 188 ou através do site www.cvv.org.br/.