Um funcionário morreu aqui no mercado, mas vamos tocar a vida

Artigo de opinião da estudante de Jornalismo Gabrieli Giani Kohler

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Em 14 de agosto, o Brasil lotou a internet com a polêmica do funcionário morto no Carrefour. Ele era um representante e estava repondo os produtos na gôndola quando infartou. Os funcionários rapidamente tentaram acudi-lo, mas perceberam que estava morto. Chamaram o Instituto Médico Legal, que demorou cerca de 4 horas para aparecer. Enquanto isso, o mercado se manteve aberto com o homem morto no chão coberto por guarda-sóis.

Lembrando que esta não é a primeira vez que o Carrefour entra na mira de protestos. Em 2018 a empresa também protagonizou o escândalo do assassinato de um cachorro que circulava pelo local. Um dos seguranças do mercado matou o cão com uma barra de ferro e a internet não perdoou. No mesmo ano, outro supermercado da rede foi acusado de racismo. Um cliente negro e deficiente físico abriu uma lata de cerveja dentro da unidade e explicou, ao ser abordado por funcionários, que pagaria pelo produto no caixa. Acontece que antes de terminar foi derrubado com um mata-leão pelo segurança.

Como já cantavam os Titãs: “Homem primata, capitalismo selvagem”. Com isso me pergunto até onde chega o descaso com a vida priorizando o dinheiro. Um funcionário morre em serviço e a empresa o trata como uma garrafa quebrada esperando ser retirada do local. E há quem diga que no outro dia puseram os guarda-sóis para venda em promoção.

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Se isso acontecesse no seu estabelecimento você o manteria aberto? Não é preciso fazer uma pesquisa para saber que a maioria concorda em fechá-lo. A questão é que se tratando de empresas maiores (na maioria delas) o descaso e a soberba as regem e somos vistos apenas como números de trabalho. “Lá se vai um funcionário. Contrata outro, tem muita gente brigando por uma vaga como essa”, “Fechar o estabelecimento? Claro que não. As pessoas não têm nada a ver com ele. Não somos coveiros e a economia não pode parar. O cara morreu, mas vamos tocar a vida”.

Após o acontecido, o Carrefour emitiu uma nota de pesar pedindo desculpas pela forma inadequada com que tratou a morte do promotor e disse revisar as normas de conduta da empresa implementando a obrigatoriedade de fechamento das lojas para fatalidades como essa. Que bom que foi tomada essa decisão revolucionária, ninguém nunca pensou nisso antes. O fato é que a vida está valendo cada vez menos e os absurdos acontecendo cada vez mais, enquanto este será apenas mais um caso.

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