Quando dona Maria e seu Paulino Ponticelli se conheceram os dois eram pequenos, nascidos no bairro Lageado Alto, em Guabiruba. Os encontros eram semanais, na igreja Imaculada Conceição e por anos não passaram disso até que, junto com a juventude, o amor e interesse um pelo outro afloraram. O namoro começou nos intervalos dos compromissos religiosos, que eram semanais.
“Para ir a minha casa a gente precisava passar por uma gruta, próxima à igreja, mas ele morria de medo de passar ali, então muitas vezes ele não me acompanhou até em casa, por causa disso”, conta Maria ao relembrar o início do namoro. Hoje os dois comemoram 70 anos de casados. “São 70 anos de casados e foram 48 anos morando com a sogra”, relembra Maria com bom humor, no auge dos seus 86 anos.
Paulino, hoje com 91 anos de idade, confirma que realmente tinha medo de passar pela gruta, quando pergunto se o medo era maior que o amor, ele responde: “medo é uma coisa séria, até hoje não consigo passar por ali. Tinha medo mesmo”, brinca ele, que mostra com orgulho o quadro com a foto de casamento dos dois.
Na saúde e na doença
Com bom humor o casal relembra os desafios que passaram juntos, pois com 70 anos de união muitos problemas foram superados. Maria conta a “quase morte” do marido. Após uma queda, ele ficou completamente inconsciente por cerca de 20 dias.“Ele caiu de um banco que ficava próximo a janela da cozinha, no momento em que ouvi o barulho achei que ele tinha caído da janela”, relembra.
Ela conta com detalhes o dia em que seu esposo acordou do coma, no Hospital Azambuja, em Brusque. “Eu não saia do lado dele, com medo que ele acordasse e tentasse sair, mas chegou um momento em que eu estava com muita vontade de ir ao banheiro, e sai bem rapidinho. Mas quando eu voltei, em menos de cinco minutos, ele já não estava mais. Eu me desesperei, pois na parte de trás do quarto tinha um rio, achei que ele poderia cair lá”.
Todos do hospital começaram a procurar pelos quartos, mas ele não estava em nenhum, quando verificaram na parte de trás do Hospital, ele estava encostado na mureta, olhando o rio. Foi quando Maria perguntou: “o que estás fazendo aí?”. Ele, com a calma de quem havia acordado de uma soneca no meio de uma tarde de domingo, respondeu: “ah, eu vim olhar o rio”. Os dois se divertem ao lembrar a cena.
Paciência e persistência para a longevidade da vida a dois.
A união resultou em dez filhos, cinco meninas e cinco meninos. Hoje o casal tem 26 netos, 25 bisnetos e um tataraneto, todos moram em Guabiruba, com exceção de um dos netos. Após 70 anos casados, eles ainda demonstram cumplicidade e alegria ao dividirem a maior parte da vida juntos. O segredo para tantos anos de união em paz, Maria responde pelos dois.
“Em primeiro lugar muita fé em Deus e Nossa Senhora, que me ajudaram a ter paciência e persistência. Mesmo casada eu ajudava na casa dos meus pais e trabalhava ainda mais na minha casa, como minha sogra morava com a gente, ela era muito exigente, e eu tinha que me virar no serviço de casa, na roça e nos tratos com os animais. Não era fácil. Quem não tem paciência nem adianta tentar casar, não vai dar certo”, acredita Maria.
Sobre a melhor parte do matrimônio, os dois manifestam a alegria de casar os filhos e de receberem netos e bisnetos nos dias festivos. “Eu tenho dez dedos nas mãos, os dez são importantes. Se você arrancar um dos dedos das mãos vai doer e jorrar sangue igual, assim pra mim são os meus filhos, todos são especiais, todos eu sinto falta, todos eu quero que estejam por perto”, finaliza a matriarca da família.