Aos dois meses de vida foi diagnosticado quem viria a ser a grande mudança na vida da Flávia. Nasceu normal. Depois lhe puseram a sentença: tem Síndrome de Down. No início, um choque para a mãe e os familiares: “Por que comigo?” Muitas dúvidas, negações e inseguranças rondavam a família Wippel até finalmente compreender a bênção que Deus pôs a Flávia e ao marido José Carlos.
Conviver com um portador de down exige doses a mais de paciência, quilos de dedicação e outros tantos de sabedoria para estimular e ensinar. Se depender da Flávia, o comércio do afeto pode falir, porque o estoque da casa dela é forrado de carinho, amor e atenção.
Flávia deixou o emprego para se dedicar ao filho Carlos Miguel. Logo aos seis meses de idade, a moradora do bairro Aymoré matriculou o bebê na Apae. A maioria dos portadores de down possuem hipotonia, termo dado à musculatura enfraquecida. Por isso, Flávia não hesitou em levar o menino para a fisioterapia.
O Pediasuit, do qual Carlos participou, é um tratamento em um equipamento que promove ajuste biomecânico e auxilia na melhora de disfunções neurossensoriais motoras. Em poucas semanas, o pequeno já estava firme e forte e a mãe toda orgulhosa vibrando com a conquista.
A maternidade trouxe para Flávia o amor palpável. Toques, cheiros, abraços e beijos entre mãe e filho é a mais singela e pura forma de amar. Supera qualquer eu te amo nunca pronunciado pelo menino. Ele, que tem quatro anos, frequenta a escola primária e faz acompanhamentos na Apae com consultas de fonoaudiologia.
Flávia não sabe pontuar uma única alegria em ser mãe de um filho com Síndrome de Down. São diversas. A vida dele é uma alegria. “Desde que nasceu, ele nos ensina todos os dias a sermos pessoas melhores, mais respeitosas e compreensivas”. Sem soltar uma palavra, o pequeno Carlos Miguel transforma a família ao seu redor com sorrisos e gestos que conquistam a cada dia o coração da mãe.
Flávia conta que o filho adora a escola em que frequenta e sempre foi bem recebido. Algumas vezes passou por situações delicadas, como a de ouvir: “O que esse estranho está fazendo aqui?”, “Eu não te quero perto de mim.” Também ouviu que “pessoas como ele deveriam ficar só na Apae.” “Imagine a dor de uma mãe ao ouvir uma fala de ódio sobre o seu filho, por uma condição genética, por algo que ele não tem culpa. “Dói muito no coração de uma mãe”, lamenta Flávia.
Ser mãe para Flávia é ser dona de um amor que não possui limites. É ter a maior responsabilidade e chamar de divina. É ter consigo o poder de acalmar, o poder de confortar, o poder de orientar. Ser mãe para Flávia é conseguir estabilidade mesmo nos momentos instáveis. “E nós, mães de crianças especiais, conseguimos ter ainda mais forças para criar um mundo melhor para eles”.
A mamãe especial ganhou um segundo filho, o Gabriel, que agora tem sete meses. Gabriel não tem Down, mas também tem um lugar no coração da Flávia. “É amor em dose dupla”.
Quem entra nas redes sociais de Flávia pode acompanhar o amor pelo filho. A mãe não se deixa abalar e sempre fortalece o respeito que a sociedade deve ter com as pessoas deficientes.
Para as mães que estão na mesma situação, Flávia orienta: “Nunca desista de dar o melhor ao seu filho. Não tenha vergonha de seu filho por ter alguma dificuldade ou atraso ou por ser diferente, até porque somos todos diferentes. Devemos amar nossos filhos para que eles tenham um mundo com mais amor, por isso temos que começar com esse amor dentro de casa. Juntas somos mais fortes”, declara.
Tudo na vida tem um propósito. Seja Deus, seja o destino, que coloca em sintonia dois caminhos predestinados pelo amor. O amor mais puro do universo. Amor que acelera o coração no primeiro encontro das almas, no primeiro encontro dos corpos. Amor que transborda pelos olhos ao ver um sorriso, um gesto, um passinho, uma palavra. Seja mãe de um filho com algum transtorno ou não. Seja de barriga, seja de coração.
A todas as mães, um maravilhoso dia especial ao lado de seus filhos.