Ela sempre morou na rua São Pedro, perto da divisa com Brusque, e nasceu em 29 de junho, Dia de São Pedro, na segunda-feira após a festa do padroeiro, quando seu pai João Vili Dietrich limpava o salão após a festa da comunidade.
O envolvimento da família com a igreja fez Vanessa Dietrich Carminati, 33 anos, também colaborar com a religião, seja sendo coroinha quando pequena, seja mais tarde atuando no Conselho da Pastoral da Comunidade (CPC).
“Por cultura e ensinamentos dos meus pais, eu e minha família somos pessoas que acreditam que devemos nos envolver na comunidade. Esse convívio comunitário faz muito bem, pois se todos contribuíssem com algo teríamos uma sociedade melhor”, afirma Vanessa, que estudou do pré ao Ensino Médio na escola Professor Carlos Maffezzolli, no bairro São Pedro, e concluiu o Ensino Superior em Processos Gerenciais pela Uninter. “Sou guabirubense de sangue e de paixão”, declara.
A filha de João Vili e Rosalia teve apenas um local de trabalho: a Fábrica de Vasos Dietrich. A história da fábrica, iniciada com o avô, passada para o pai, chegou na filha, que hoje, com o esposo Emiliano Carminati, administra a loja do negócio familiar.
Vanessa é mãe de Bruno (7 anos) e de Laís Maria (1 ano e 7 meses) e possui um irmão, Horst Dietrich. Ela assumiu, neste ano, a presidência do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e é tesoureira da Associação Visite Guabiruba (AVIGUA).
Guabiruba Zeitung: Quais os desafios em assumir um negócio familiar?
Vanessa Dietrich Carminati: Nasci “aqui dentro” da fábrica de Vasos. Nunca trabalhei em outro lugar, desde criança estive junto com meus pais, vendo-os, trabalhando aqui para tirar nosso sustento. Lembro muito bem quando fiz minha carteira de trabalho (com 16 anos) e meu pai me registrou aqui. Desde lá ajudei, sempre com incentivo do meu pai. Eram tempos mais difíceis em relação à tecnologia. Tinha muito trabalho manual, muito mais que hoje. As coisas foram acontecendo e em 2006 meu pai deixou a Loja pronta, sempre com a intenção de que eu cuidasse dela e ele da produção da fábrica. Sempre me considerei uma funcionária dele com autonomia para fazer da forma que achava melhor. Mas, em 2012, mais ou menos, fizemos um acordo em relação aos valores do estoque dos produtos e temos dividido como a Loja sendo minha e do meu marido, e a fábrica do pai. Mas trabalhamos totalmente juntos e posso dizer que trabalhar em família têm vantagens, principalmente ao lado de casa, estamos todos juntos sempre e o esforço de cada um faz bem a todos. E claro há as desvantagens: trabalhamos muito, diariamente, as pequenas discordâncias que ocorrem normalmente numa família também acontecem na administração. Mas claro que poder continuar o negócio da família, que iniciou com meus avós, é muito gratificante.
GZ: Quais lembranças você possui no Artesanato Dietrich?
VDC: Como falei, brincava muito aqui dentro da fábrica. Tinha um balanço de pneu, onde me balançava por horas. Quando penso nisso, se fecho meus olhos, lembro bem o frio na barriga que dava. Hoje ainda é assim, meu pai fez um balanço desses para meus filhos e agora o frio na barriga que tenho é quando vejo a altura que eles balançam (risos).
GZ: Como foi o processo de olhar para a loja com um viés turístico?
VDC: Também foi acontecendo aos poucos, pois há anos recebemos visitas de escolas para conhecer o processo de produção e quando estudam tipos de solos. Começamos a participar da Avigua e a conversar com os outros parceiros da associação nos fez enxergar esse lado do turismo. Com o estudo e planejamento turístico feito pelo Sebrae no município em 2017, fomos incentivados à pensar mais com carinho nessa opção. Hoje até nossos clientes gostam dessa opção, de receber as pessoas não só com a porta da frente aberta, mas também com um convite para conhecer toda nossa fábrica.
GZ: Vocês possuem um memorial dentro da loja, como surgiu a ideia de manter viva a história e como tem funcionado a visitação?
VDC: Pensando em receber melhor essas visitas, percebemos a necessidade de ter um espaço para contar nossa história. Esse espaço chama-se Memorial da Fábrica de Vasos Willy João Dietrich (em homenagem ao meu avô e fundador da fábrica). Ele foi concretizado através do Fundo Municipal de Cultura. Participamos do edital com todo o projeto já idealizado. E quando fomos pensando e conversando sobre toda nossa história vimos que não dava mais para voltar atrás, afinal, lá temos um pedaço de tudo que somos hoje. O Memorial pode ser visitado nos horários de atendimento da loja, de segunda à sexta das 8h às 12h e das 13h30 às 18h30 e aos sábados das 8h às 12h. Ano passado praticamente não recebemos visita, nós mesmos não sabíamos como agir em relação à pandemia. Mas até o momento temos mais de 500 pessoas que assinaram o livro de visitas, isso desde à inauguração em 21 de outubro de 2018.
GZ: Recentemente a loja passou por uma reforma e o memorial ficou mais visível aos clientes. Como você avalia as mudanças?
VDC: Ficou muito bom, é o que nossos clientes dizem. A reforma foi pensada para dar mais espaço no interior da loja. E acabou deixando realmente o Memorial mais visível. Fez as pessoas “perderem a vergonha de entrar”, o que é muito bom pois o Memorial foi feito realmente para deixar nossa história conhecida, firmando ainda mais nossa empresa como “a fábrica de vasos”.
GZ: Como a pandemia da Covid-19 afetou o ramo que você atua e o setor do turismo?
VDC: Tirando o lockdown, que afetou a todos, não podemos reclamar da pandemia, pois o tempo em casa fez as pessoas cuidarem mais de seus jardins, vasos e plantas, fazendo a gente vender bem, principalmente depois de maio. Em relação ao turismo, sabemos que as trilhas, cachoeiras e ciclofaixas de Guabiruba estão bem movimentadas, o que é muito bom para o município. Nós quase não recebemos visitas em 2020, porém 2021 promete ser um ano bom. Nossa renda ainda não gira em torno do turismo, mas estamos dispostos a incentivar para que nossa cidade esteja no roteiro de muitos turistas.
GZ: Como presidente do Conselho Municipal de Turismo, quais são os desafios da entidade em 2021?
VDC: Temos uma expectativa boa para os próximos anos. Foi realizado um bom trabalho pela gestão e pelo nosso amigo Andrei Muller, secretário de Turismo. Temos muito a somar, somos privilegiados pelos ótimos atrativos naturais, cultura rica e boa parte dos munícipes é hospitaleiro.
GZ: Que outros aspectos você gostaria de destacar?
VDC: Apenas dizer que o trabalho toma grande parte de nossas horas e de nossas vidas, com isso, trabalhar com o que nos faz bem é fazer somar horas boas. Toda fábrica tem a sua história, e a nossa está exposta para quem quiser conhecer, e muita gente que conhece a história da Fábrica de Vasos conhece também a história da nossa vida e da nossa família. Para mim isso é muito bom e faz com que trabalhemos com ainda mais carinho. Também preciso agradecer todo incentivo que recebemos nos últimos anos, inclusive da impressa, bem como desse jornal.
Visitação do Memorial da Fábrica de Vasos Willy João Dietrich
O Memorial pode ser visitado nos horários de atendimento da loja, de segunda à sexta das 8h às 12h e das 13h30 às 18h30. Já aos sábados das 8h às 12h.