Esta entrevista integra a série Vidas e Vozes de Mulheres na Pandemia.
Carmen Regina Ebele: Quem é você? Qual o seu nome, idade, estado civil? Tem filhos? Onde mora, qual sua profissão? Alguma outra informação que descreve você?
Sou Franciane Schaefer Fischer, filha de Arlindo e Eliana Schaefer, e tenho 41 anos. Sou casada há 19 anos com Ivan Elias Fischer. Temos dois filhos: Yasmin Fischer e Orlando Fischer Neto. Moro na Rua Rodolfo Schaefer, bairro Imigrantes, em Guabiruba. Sou auxiliar de enfermagem e trabalho como atendente na Farmácia Farma-Plus. Sou uma pessoa dedicada à minha família, gosto de ler e escrever. Participo, com meu esposo, de diversas atividades em nossa comunidade, entre elas catequese matrimonial, Grupo de Emaús e Acampamento, Associação Artística Cultural São Pedro, no teatro da Páscoa, Paixão e Morte de um Homem Livre, e da tradicional Sociedade do Pelznickel. Posso dizer que a Sociedade do Pelznickel foi um presente para toda a nossa cidade, pois regatar e não deixar esta tradição tão linda acabar trouxe muita alegria e lindas lembranças às pessoas. Jamais imaginei que um dia iria acordar e ver que a casa e o local onde eu nasci se tornou também a casa do Pelznickel, por onde já se passaram mais de 15 mil pessoas. Este ano seria o nono ano em que o evento aconteceria, e dentre estes anos várias foram as funções nas quais participei.
CRE: Conte sobre sua rotina em casa.
FSF: A minha rotina diária, em casa, é acordar pela manhã, durante a semana, pelas 6h, fazer minha oração, agradecendo pela minha vida, pela vida da minha família. Depois tomo meu café e vou ao trabalho até às 11h30, às vezes preparo o almoço, quartas-feiras é almoço na minha mãe, e outras vezes buscamos marmita. Ao meio-dia costumamos almoçar juntos, em família, fazemos nossa oração para agradecer o alimento de todos os dias. À tarde me dedico aos afazeres da casa e também às atividades dos filhos, como os estudos, curso de dança, música e inglês, entre outras atividades que eles têm. Também tiro um tempinho para cuidar das plantas e do jardim aqui de casa, e às vezes vou na casa da minha mãe ou da minha sogra. Faço pilates duas vezes por semana á noite. Também preparo o jantar e sempre estou inventando algo a fazer na casa ou com os filhos. Às vezes leio um livro ou dou uma olhada em algo na internet. E para terminar faço minhas orações e vou descansar para me preparar para o outro dia.
CRE: As atividades pessoais e profissionais das pessoas da sua família foram afetadas pela pandemia?
FSF: Sim, nas atividades pessoais as crianças passaram a ficar em casa, sem ir à escola. Dos cursos que eles faziam, alguns continuaram online e outros foram cancelados, então não tínhamos mais o compromisso de levar e buscar eles, pois agora estavam conosco em casa. Nossas atividades com a comunidade também foram canceladas, então as reuniões diminuíram. As missas, que participávamos sempre na Igreja, começamos a acompanhar online pelo Facebook ou Youtube. Ao mercado, ficamos quase cinco meses sem ir. Nós enviávamos a lista de compras pelo WhatsApp e depois só passávamos para pagar e buscar a compra. Os únicos lugares que frequentávamos eram a casa dos nossos pais e o nosso trabalho. No trabalho tivemos que reduzir a carga horária e no momento estamos voltando aos poucos ao normal.
CRE: Este período do ano é marcado na cidade de Guabiruba pela presença do Pelznickel e pela visitação das famílias na PelznickelPlatz. Como integrante e voz ativa nas atividades desse evento, conte-nos sobre como a pandemia afetou essa tradição tão esperada pela população.
FSF: Estamos nos aproximando do Natal. Este é o período em que a Sociedade do Pelznickel se preparava para a abertura da casa. É difícil falar que neste ano os portões da casa não serão abertos. Um evento que é feito com tanto amor pela sociedade, e que é visitado por tantas famílias e por tantas crianças. Quem já passou por lá sabe do que estou falando. Cada detalhe é feito sempre com muito carinho. Desde as cartinhas que as crianças escrevem a São Nicolau até a aldeia dos Pelznickel, que é o local mais esperado pelos que ali passam. Este ano será diferente. Não sentiremos o cheirinho do cachorro-quente ao chegar na Platz, e o silêncio vai tomar conta. O varal das cartinhas estará vazio, a cozinha da oma e do Sackmann estará sem aquele fogo no fogão à lenha, e não veremos a fumaça saindo pela chaminé. Na casa da Cristkindl não haverá doces e o presépio estará nas lembranças de nossos corações. Estamos vivendo uma pandemia, mas a sociedade continua com a mesma vontade de manter a tradição, e por isso pensou numa maneira diferente de levar um pouco desta alegria e deste amor que é vivido, lá dentro da casa, até as famílias. Já foi um ano de tantas perdas que a Sociedade não poderia deixar este ano passar em branco, então, preparem-se porque, de uma maneira diferente, os Pelznickel estão chegando!
CRE: Você gostaria de partilhar alguma experiência ou uma cena marcante durante os eventos do Pelznickel?
FSF: Todos os anos vivemos novas experiências, mas sempre têm aquelas cenas e histórias que marcam mais. Uma delas, que não vou esquecer, é a visitação do sr. Ervino Fischer, de quase 100 anos, que veio prestigiar a casa em cadeira de rodas, e saiu de lá muito feliz e emocionado por ter nos visitado e recordado da sua infância. Outra história foi a do menino cego que pediu para tocar o Pelznickel e o Pelznickel se emocionou. Sem falar nos pedidos diversos que as crianças fazem. Um deles, que foi partilhado conosco, foi de uma criança que pediu para que os pais não se separassem. E temos outra história muito bonita também da dona Luzi Weege, de 85 anos, que é de Blumenau, e que faz parte da sociedade. Ela veio visitar a casa junto com a filha, e gostou tanto que hoje ela faz parte fazendo o papel de oma dentro da casa. Uma pessoa que transmite muita alegria e paz, um exemplo para todos nós.
CRE: Cite medos e alegrias vivenciados na quarentena. Do que sente falta? Que sentimento você tem frente à pandemia?
FSF: Os medos vivenciados foram muitos. Um deles foi o de se contaminar, trazendo o vírus para nossa família. Tivemos o medo econômico, não sabíamos como ficaria a questão do trabalho e a situação financeira. Mas também tivemos muitas alegrias, nos unimos mais em oração aqui em casa, aproveitamos mais o que temos, a nossa casa, o nosso lugar. Aproveitamos muito um local de festa que temos, que é a baiuca, onde acontece a casa do Pelznickel, e ao lado, a casa da minha mãe. Posso dizer que lá foi o nosso refúgio neste tempo. Curtimos a natureza, acendíamos o fogo no fogão a lenha onde a gente sentava bem pertinho para se aquecer, fritamos muita banana com pão caseiro, tomamos aquele café com leite bem gostoso com a nossa família, com nossos filhos, mães e tios. Foram momentos muito agradáveis e felizes. E do que eu mais sinto falta é de viver esta tranquilidade que tínhamos, de não precisar se preocupar com máscaras e álcool gel, de poder abraçar as pessoas sem ter essa sensação de poder estar se contaminando. Sinto falta de ir a algum lugar e não ter essas preocupações. E o sentimento que eu tenho diante da pandemia é que devemos viver um dia de cada vez e estarmos cientes de que tudo é muito incerto, mas com fé e pensamentos positivos, devemos seguir em frente.
CRE: Qual a sensação de trabalhar no serviço de saúde e em meio a pessoas que podem estar contaminadas pelo Novo Corona vírus?
FSF: No início, deu muito medo, pois tudo era incerto. Foram meses tomando cuidados radicais aqui em casa, pois eu não queria transmitir o vírus a ninguém e nem para minha família, já que quase todos os dias eu atendia pessoas que estavam contaminadas pelo vírus. Tive momentos em que me senti triste, onde eu vi pessoas adoecendo, às vezes famílias inteiras e queridos amigos. Teve dias em que eu senti revolta pelas pessoas que não estavam tomando os devidos cuidados. Mas quando escolhi esta profissão na área de enfermagem e decidi trabalhar nesta área de saúde eu fiz um juramento de dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade. Essa pandemia foi um desafio, mas eu sentia a todo momento que Deus estava comigo. Tanto que no decorrer destes dias veio uma pessoa, lá na farmácia, que trouxe os lencinhos brancos de Nossa Senhora para distribuirmos, e junto vinha uma oração para fazermos todos dias. Confesso que naquele dia eu fiz a oração, coloquei os lencinhos entre as minhas máscaras e também nas da minha família e a partir dali entreguei tudo a Nossa Senhora e a Deus, e assim o medo foi passando e meu coração se tranquilizando. Claro que os cuidados ainda continuam, mas aos poucos aprendemos a conviver com toda esta situação. Já sabemos todos os cuidados que devemos tomar e é assim que devemos seguir em frente.
CRE: O que você descobriu sobre você nessa pandemia?
FSF: Descobri que precisava cuidar mais de mim, e consegui. Relembrei que podemos ser felizes com as pequenas coisas da vida.
CRE: O que a pandemia vai deixar nas nossas memórias?
FSF: Acredito que a pandemia deixará grandes marcas em nossa memória: a marca do medo, incerteza, da falta de controle sobre as coisas da vida, mas também deixará marcas boas, aquelas que vivemos em família, que podemos ser felizes em qualquer situação que nos for apresentada, da solidariedade e do amor ao próximo.
CRE: Em meio a tantas incertezas, mudanças, desafios que a pandemia nos impõe, você tem dicas, sugestões ou alternativas para as mulheres se manterem bem nesse novo estilo de vida?
FSF: Acredito que se aceitarmos a situação atípica que vivemos fica mais fácil. Vejo que precisamos aprender a viver em meio ao caos, precisamos cuidar da nossa mente cultivando bons pensamentos. Devemos nos aceitar do jeito que somos e nos sentirmos bonitas não só pela parte externa, mas pela beleza interior. Outro aspecto que penso ser importante é, mesmo com o isolamento social, não deixarmos de ter contato com amigos e familiares. É bom partilharmos nossos sentimentos, nossas dificuldades com alguém mesmo que seja por telefone ou online, precisamos mesmo distantes estarmos unidos de alguma forma.
CRE: Compartilhe uma frase, pensamento ou um verso de poema que tem significado especial para você!
FSF: Gosto muito dos girassóis e da mensagem que eles trazem: “Sobre os girassóis. Eles procuram a luz do sol. O que eu não sabia é que em dias nublados eles viram uns para os outros, buscando a energia de cada um. Não ficam murchinhos, nem de cabeça baixa. Olham uns para os outros. É a natureza nos ensinando. Se não tem sol todos os dias, temos uns aos outros. Que sejamos girassóis o ano todo na vida de alguém”.
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