Wilson dos Santos Silva

Se você passou em frente a Fundação Cultural de Guabiruba nos últimos dias, com certeza a nova fachada pintada pelo artista plástico Wilson dos Santos Silva (Nenen) lhe chamou atenção. Na obra, ele retrata as lendas e personagens conhecidos do município, como o Dragão, Pelznickel, São Nicolau, Sacksman e a noiva da Pomerania. Além de pontos turísticos como o Morro São José e o Parapente. O objetivo é  resgatar memórias e histórias, além de despertar a curiosidade, tanto dos guabirubenses, quanto dos turistas. Nós conversamos com o artista, que atualmente mora em Botuverá. Abaixo você conhece um pouco da sua história e dos trabalhos que realiza. Confira:

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Zeitung: Recentemente você pintou uma obra na fachada da Fundação Cultural de Guabiruba? Como foi o convite e o processo criativo? 

Wilson dos Santos Silva: Recebi o convite da Fundação Cultural de Guabiruba, pela Paula Bohn e a Jenifer Schlindwein. Fui muito bem recebido e já bombardeado de informações sobre a cidade e também seus personagens folclóricos. Após algumas semanas eu comecei a pôr no papel o que tinha em mente. Felizmente, as meninas me nutriram com ótimas ideias e aí por sintonia pura, ficou completo o esboço. Após aprovado, marcamos o dia e comecei o painel. 

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Quais outras obras você assina em Guabiruba? 

Esta foi a minha primeira obra na cidade, além de um cliente do município que encomendou uma tela. Mas graffiti, e com esta magnitude? Somente esta arte mesmo. Pintei também as portas das oficinas da Fundação Cultural. Em cidades da região tenho graffitis em Brusque, Botuverá, Pomerode, Blumenau, Gaspar e Balneário Camboriú.  

Como você avalia a cultura na cidade?   

Acho uma cidade com dois pólos. Um aberto à inovação e buscando novidades que possam agregar com a cultura local. E o outro com a resistência, focando nas raízes e se preocupando em mantê-las vivas. Na Fundação Cultural eu senti isso bem forte. Tanto que pude escancarar este equilíbrio dos pólos no painel! Os passos que estão dando para a cultura local, na minha opinião, estão firmes e equilibrados! E todos estão ganhando. 

Você acredita que a pandemia criou um movimento de valorização cultural? 

A pandemia forçou as pessoas a desacelerar e ver o que realmente importa, perceber que o hoje tem mais importância que o amanhã. Ter que ficar mais em casa, ver um filme como se tivesse no melhor cinema do mundo e com as pessoas que amam, é um bom exemplo para explicar o quanto nos tornamos mais sensíveis. Neste caso, a arte foi a protagonista na guerra contra o tédio e as novas preocupações. Então, eu não diria que a pandemia criou um movimento de valorização cultural, mas que foi a chama que fez borbulhar o que estava frio culturalmente, sim, foi. E está sendo.  

O graffiti é uma arte que sofre muito preconceito no Brasil. Você já sentiu isso ao longo de sua trajetória? 

Já sofri sim, mas mais por acharem que eu era da pixação. Aí explico as diferenças e deixo também esclarecido que o graffiti não dá pra fazê-lo sem uma autorização, justamente por se tratar de arte complexa, onde precisa-se de mais tempo e técnicas para sua execução. Diferente de uma arte contraventora, onde quem a faz não quer ser visto e assim a executa com rapidez e em lugares não autorizados. Eu sou contra a qualquer tipo de vandalismo. 

Quais outras técnicas utiliza? 

Gosto do estilo de só spray, mas tem alguns clientes que querem um acabamento mais vetorizado e linhas de contorno finos, aí eu uso os marcadores. Em geral, quando se trata de painéis grandes, uso somente spray. Dentro deste universo do graffiti, cada artista sente a sua necessidade, acaba criando as próprias técnicas. Não tenho nada denominado e me preocupo mais com o resultado. 

Você é carioca. O que motivou a mudança para o Sul? 

Sim, sou carioca, precisamente Fluminense, nascido em Barra do Piraí, Sul do estado do Rio de Janeiro. E o que me motivou a vir para o Sul? Trabalhava no ramo têxtil desenvolvendo produtos e estampas para uma marca na minha cidade: a Ecorey Surf Wear, aos 16 anos. Após quatro anos de empresa resolvi tentar trabalhar em marcas maiores e foi onde caí de paraquedas na Redley. Lá criava estampas. Depois de alguns anos, já envolvido com o movimento Hip Hop e fazendo alguns shows, não estava dando conta destes dois universos ao mesmo tempo. Foi quando optei pelo Têxtil e sabendo através de um chefe meu, que Brusque tinha um parque fabril, vim para cá. Aqui trabalhei com Qix, Oceano e a minha marca Jah Bless, que criei e estou voltando com ela este ano.

No Rio de Janeiro as manifestações culturais são muito ricas. O que trouxe na bagagem para cá? 

Rio é um funil do mundo. Cosmopolita! Além de ter uma cultura local extremamente forte, como o Samba, Funk, Reggae, Hip Hop e o Pop. Surf, Skate, Cinematografia… e a maneira carioca de ver o mundo. Lá as pessoas sabem ser felizes com o básico! Falando mais do povo, da massa! Embora eu sinta que a elite de lá é mais cruel e preconceituosa que a daqui. A bagagem de ter vivido o skate, desenhado pra marcas que ditavam comportamento, cantado e trabalhado com artistas que hoje são notórios, como MV Bill, Da Gama (ex guita e fundador da banda Cidade Negra), ter sido o artista escolhido por Shane Dorian (Surfista da Billabong) para fazer uma arte de um campeonato infantil de surf no Hawai. Ter trabalho com Carlos Burle (Surfista de ondas gigantes) e me tornado amigo. Ah! O Rio me forjou. Santa Catarina me abraçou e eu tento devolver este carinho com o que aprendi, com estas pessoas citadas aqui e muitas outras que confiaram em mim para me passar um pouco do que sabem. Aqui tive a oportunidade de trabalhar com excelentes profissionais, em especial no ramo têxtil, como Evandro Appel, Luiz Fernando Farinha, a Josi Afonso da Oceano, Ulysses Caetano (Vicunha) a galera toda dos jeans, Maria Helena (Fai confecções) e mais um montão de outros mestres e “mestras”! (risos). 

Como é ser artista na nossa região?  

Sinto que minha arte é como algo que preenche lacunas. Aqui tem muito espaço e por mais que exista uma força de tradições étnicas, há muita aceitação aqui. A Jah Bless, por exemplo, vendia em seis estados e Santa Catarina sempre era recorde de vendas. No Graffit, estão constantemente me solicitando. Mas em outros aspectos, não sei se por questões políticas, estou sentindo mais o preconceito. Mas nada que me prejudique no trabalho que exerço. Se fosse dar bola pra esta nova postura da galera, eu estaria deprê! Em se tratando de preconceitos, já não me surpreendo mais com nada. Bola pra frente!  

Que mensagem você busca deixar para as pessoas? 

Viver já é uma arte. A arte está em tudo. É a real experiência de ser um pouquinho Deus. Criar algo, desmontar, interpretar de uma maneira que ninguém interpretou, fazer do seu jeito, falar o que sente, mas sem interferir negativamente no próximo. Isso tudo é arte. A arte de fazer bem e o bem. Dedique-se aos seus sonhos e a você mesmo. Nunca desista.

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