Os moradores da rua Augusto Bretzke, na localidade Planície Alta, continuam utilizando água contaminada, mesmo após a ampliação de rede realizada pela Guabiruba Saneamento no final de 2021. De acordo com a empresa, das 17 residências da localidade, apenas quatro demonstraram interesse junto à concessionária, e mesmo assim nenhuma concluiu o processo necessário para que fosse realizada a ligação de água.
Para a conclusão da obra, entregue em 15 de dezembro, foram executados 840 metros de rede, em uma ação conjunta da Guabiruba Saneamento e da Prefeitura Municipal. O investimento foi de aproximadamente R$ 70 mil.
A situação dos moradores preocupa a empresa, já que todos continuam utilizando uma fonte alternativa, contaminada e ilegal perante a legislação brasileira. A empresa diz que sua equipe conversou com todos os clientes em outubro do ano passado, com a oferta da gratuidade no custo da ligação de água, caso o pedido e o cumprimento dos requisitos fossem atendidos enquanto a extensão de rede estivesse em andamento.
“Nosso setor comercial realizou ação porta a porta para orientar os proprietários sobre o procedimento para ligação de água, bem como a isenção de custos com o serviço de ligação, caso a residência estivesse apta a se conectar durante a obra. Porém, até o momento, das 17 famílias, apenas quatro vieram ao nosso atendimento solicitar informações e apenas uma está em fase final de adequação para receber a ligação de água. Esse fato nos preocupa pelos riscos oferecidos com o consumo de água não oriunda da rede pública de abastecimento”, explica o superintendente da Guabiruba Saneamento, Guilherme Paladini.
A empresa encaminhou ofício à Prefeitura, Secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária, comunicando o problema. Conforme o superintendente, as famílias necessitam executar a adequação hidráulica interna da residência com a instalação de caixa d’água e abrigo padrão de ligação. “Trata-se de um procedimento simples, orientado pelas equipes técnica e comercial da Guabiruba Saneamento, quando o cliente realiza a solicitação em nossa loja”, afirma.
Paladini destaca que desde a identificação da água contaminada na rua, foi realizada uma importante ação conjunta, envolvendo a Secretaria de Obras, Planejamento, Meio Ambiente, Saúde e Vigilância Sanitária. “Tanto para eliminar a fonte de poluição do manancial em questão, com a desativação do chiqueiro, quanto no monitoramento da qualidade daquela água e disponibilização de água potável para as famílias”, destaca.
Dificuldades financeiras
De acordo com o morador, Jefferson Wortmeyer, as famílias não têm condições financeiras de arcar com as despesas necessárias para que a ligação da água seja realizada pela Guabiruba Saneamento.
“Tem que comprar caixa, canos e pagar instalação. Aqui é todo mundo pobre. Eles querem que tire dinheiro de onde não tem. A gente vive de assistência. Pagar a conta de água consegue, mas não temos dinheiro para a instalação, que tem que ser do jeito que eles querem”, comenta.
O morador relata que o cunhado e outros parentes da rua, já solicitaram a ligação da água, porém não conseguem concluir o processo necessário. “Meu cunhado pediu dinheiro emprestado e já teve que refazer a instalação quatro vezes. Quebrar e fazer de novo, porque não está do jeito que eles (a empresa) querem”, conta.
Segundo Jefferson, para a família beber ele busca água na casa do pai em Brusque. “Mas para lavar louça, roupa e tomar banho continuamos usando a água que vem do mato. Desde novembro a prefeitura não traz mais água aqui para a gente”, frisa.
Ele conta que entrou em contato com a Prefeitura para pedir ajuda, mas não obteve retorno.
Relembre o caso
A situação dos moradores da rua Augusto Bretzke foi contada pelo Jornal Guabiruba Zeitung em setembro de 2021. Na oportunidade, os moradores relataram que as famílias utilizam água vinda de uma nascente, localizada em uma propriedade privada no mesmo bairro e que o proprietário do terreno onde está localizada a nascente teria contaminado a água com a criação de porcos e outros animais no terreno.
Os moradores também relataram uma série de sintomas que vinham sentindo após a utilização da água, como diarréia, vômitos, problemas de pele e dores de estômago.
A Vigilância Sanitária realizou vistoria no local e afirmou que os animais tinham sido retirados, mas atestou que a água era imprópria para consumo.
Para amenizar a situação enfrentada pelos moradores, o Poder Público municipal disponibilizou quatro caixas d’água (três de mil litros e uma de dois mil) e iniciou o fornecimento de água com caminhão pipa.
Planos de Expansão
De acordo com a Guabiruba Saneamento, atualmente o município possui aproximadamente 62% de cobertura de água, com ligações ativas. Porém, em levantamento prévio foi identificado que mais de mil unidades possuem rede pública disponível, porém, fazem uso de fontes alternativas, como poços, ponteiras etc.
“Essa prática é extremamente perigosa tendo em vista inúmeras fontes de contaminação possíveis de um poço ou ponteira sem o devido monitoramento e controle, como ocorre no abastecimento público, que além dos controles internos têm rigorosa fiscalização pela Vigilância Sanitária. Já tivemos ocorrência de metais, coliformes e outros contaminantes em águas não oriundas da rede pública do município. Esses contaminantes causam inúmeros riscos à saúde da população. Podemos citar doenças do aparelho digestivo pela não desinfecção adequada, até o surgimento de diversos tipos de câncer pela presença de alguns metais e contaminantes não percebidos a olho nu”, alerta Paladini.
De acordo com ele, levando-se em conta que a cobertura efetiva no município tende a ser superior a 80%, o desafio atual está na melhoria da capacidade e continuidade de produção da ETA Central do município, visando a universalização da distribuição de água.
“Hoje, com as ações de melhoria que temos implantado, o sistema possui condição de abastecer as atuais ligações ativas e aquelas que ainda não se conectaram, mesmo tendo disponibilidade de água oriunda da rede pública”, completa.