Foto: David T Silva

 

 

Aos 79 anos, o aposentado João Baron, o pai de Roseli e Regiane e marido de dona Mirna tem boas lembranças dos anos que lecionou nas escolas em Guabiruba. 

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Mas o que ele mais comemora é sua participação no Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), na década de 1970, do qual afirma não encontrar registros na cidade.

João conta que depois de iniciar a docência em um colégio, surgiu o convite para o Mobral. “Eu tinha acabado de sair dos estudos do seminário, fiz até filosofia. Comecei a trabalhar ali. Aí o prefeito Vadislau Schmitt falou com o Paulo Becker, que era diretor do ensino, para me enviar a Florianópolis, porque teria um encontro da turma do Rio de Janeiro, que vinha dar o curso de Mobral em Santa Catarina. Fiquei três dias. Quando voltei, começamos a trabalhar”, lembra.

O professor destaca que a primeira turma que participou do programa foi do Centro e estavam aptos a participar pessoas de 15 a 35 anos que não alfabetizadas. “Formamos essa e pegamos a rua São Pedro onde dei a aula inicial, aí o senhor Fischer assumiu. Ele era um professor antigo de primário, sabia ensinar. Depois fomos para o Aymoré”, revela, contando que o programa funcionava onde tinha as escolas e que o curso tinha duração de três meses em cada um dos locais onde reuniam os alunos.

Ele também lembra que o principal objetivo do curso era alfabetizar, ou seja, ensinar a ler e escrever. “O pessoal tinha interesse e aprendia rápido”, conta.

João relata que a busca pelos alunos para serem alfabetizados era tranquila. “Todos se conheciam naquele tempo, então já entrávamos em contato perguntando se gostariam de aprender. Às vezes, vinham pessoas de mais idade. Muitos eram do interior, não tinham como ir para a escola. E para juntar todos para irem à aula no Centro não era possível. Aí optamos por ir ao encontro deles.  E eles toparam”, ressalta.

As aulas 

As aulas noturnas do Mobral duravam cerca de uma hora e meia e eram realizadas três vezes por semana. “No começo eu apertava eles (alunos), tínhamos mais aulas, mas depois que víamos que eles pegaram o jeito, aí eram menos dias na semana”, afirma.

Nos três meses de curso, os professores ensinavam as disciplinas de português, matemática, geografia e história para cerca de 10 alunos por turma.

“Dar aula para pessoas de mais idade, é diferente de uma criança. Eles captam com mais facilidade, você mostra como fazer e eles entendem. Por exemplo: mostrava o mapa do Brasil e onde moramos e já entendiam. Bem mais prático! Eles perguntavam muitas coisas”, fala.

João comenta que depois das três turmas o programa parou. “As pessoas não tinham disponibilidade. E depois eram poucos, no Guabiruba Sul, tinha dois ou três. Aí desistiram”, lamenta.

Para o ex-professor do Mobral, o que marcou na época foi o interesse dos alunos. “Eles diziam que eram outras pessoas sabendo ler e escrever. Se consegui ajudar com algo, fico contente por isso”, comemora.

Ele também conta que o sentimento é de alegria de ter feito algo em benefício do outro. “Isso é a melhor coisa que tem. Poder ajudar alguém e facilitar a vida dessas pessoas”, conclui.

Infância e aposentadoria

Quando criança, os pais de João eram colonos. Tinham terra no Guabiruba Sul. “Não tinha outra coisa naquele tempo. Toda a produção de mandioca e araruta, que na época era caríssimo, colhia e levava para a cooperativa. A cooperativa moía e fazia o polvilho”, frisa.

Ele relata que ia para a roça desde pequenininho. “Quando já dava para carregar a enxada nas costas, a gente ia e voltava de noite”, relembra, contando que estudou até a quarta série antes de ir para o seminário aos 15 anos.

Outra atividade da família era a produção de lenha de metro. “Tinha duas olarias aqui. Então ele (seu pai) fazia lenha. Quando eu estava no seminário e vinha em casa, pegava o machado e ia com ele cortar lenha até a noite”, conta.

Após o fim da cooperativa de fécula, em que trabalhou por cinco anos, João conseguiu uma vaga em uma indústria em Brusque. A indústria logo depois veio para Guabiruba, e lá ele trabalhou até o ano 2000, mesmo aposentado há cinco anos.

De lá para cá, tem se dedicado à pequena horta que tem em casa.

 

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