Anselmo Dalbosco, hoje com 86 anos, tentou ser padre e com 12 anos foi para o seminário de Caxias do Sul (RS), onde seu irmão também estudava, porém, durante os cinco anos que esteve ali percebeu que o sacerdócio não era sua vocação e decidiu retornar para sua casa, em Guabiruba. “Ninguém escolhe ser padre ou freira, isso é uma vocação, e eu preferi ser um bom pai do que um padre não vocacionado, e acredito que consegui ser”, afirma Anselmo. 

Em Guabiruba, conheceu Santina Stedile com quem teve três filhos e cinco netos, porém, para Anselmo, a companheira partiu cedo demais. “Aconteceu que em agosto de 2006 eu fiquei viúvo, após 44 anos de casados, e muito bem casados. Perder uma companheira é dividir o corpo: fica metade neste mundo e a outra vai para o céu”, relata o guabirubense. “Eu fiquei dois anos me perguntando o que eu iria fazer dali em diante? Mesmo seguindo minha rotina, cuidando dos meus compromissos, havia um vazio enorme, pois em dois meses veio os sintomas e Deus a chamou para a eternidade. Então, foram dois anos me perguntando, o que eu faço agora? E durante uma madrugada me veio um estalo na minha cabeça, ‘por que você não transcreve a sagrada escritura?’, uma inspiração divina mesmo”, completa Anselmo.

Por gostar muito de escrever, o guabirubense coleciona diários desde a juventude onde escreve sobre seu dia a dia, finanças e reflexões. A ideia de transcrever a Bíblia a mão lhe animou bastante. Ele decidiu começar pelo Novo Testamento por achar mais fácil os evangelhos, que contam sobre a vida e ressurreição de Jesus Cristo.

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“As histórias me chamavam tanto a atenção que eu perdia a noção do tempo transcrevendo. Escrevia na sala, cozinha e muitas vezes passava tardes debruçado sobre o caderno. E quando eu terminei o Novo Testamento me perguntei por que não começar também o velho testamento, para ficar uma obra completa e para que eu possa dizer, com toda a humildade, que eu não apenas li a Sagrada Escritura algumas vezes, como transcrevi e o que se escreve fica marcado em nossa memória”.

Anselmo conta que quanto mais escrevia mais se sentia motivado e animado para terminar sua obra, em algumas tardes chegou a transcrever 20 páginas dos livros da Bíblia. Ele exibe a obra em sua sala em uma caixa de vidro que protege os cadernos de traças e cupins, mantendo-os em bom estado. Todas as 4.820 páginas transcritas estão datadas e assinadas. Além do manuscrito, Anselmo fez um índice à parte, para facilitar as pesquisas dos livros bíblicos transcritos por ele.

“Todos os dias eu pensava se iria conseguir terminar e cada dia me deixava mais animado. As minhocas saíram da cabeça e eu vivia ocupado, chegando muitos dias até às 22h ou 23h escrevendo e transcrevendo até que cheguei ao fim. E quando terminei foi a maior alegria da minha vida. Eu comecei em 2008 e terminei em dezembro de 2010 e quando finalizei só disse Bendito seja Deus pelo dom que ele me cedeu”, relembra.

Durante o período de dois anos e dois meses em que esteve transcrevendo a Bíblia, Anselmo Dalbosco esteve doente e precisou passar pelo tratamento de químio e radioterapia, bem como uma cirurgia. A experiência de transcrever a Bíblia trouxe para ele uma nova visão sobre as escrituras e sua relação com Deus.

“Muitos dizem que é necessário ler a Bíblia mas a Bíblia não ficou para ser lida e sim estudada, porque a sagrada escritura em si é o próprio Deus, o próprio Jesus”, ressalta Anselmo.

Outra grande definição dele é que “não existe idade e sim acumulações de ideias” e são muitas as lições acumuladas ao longo destes anos. Ao contar sobre suas experiências o guabirubense religioso emociona pela simplicidade com que vive a vida e o imenso sentimento de gratidão. “Se o senhor quisesse me levar hoje eu partiria em paz, pois apesar dos momentos de dificuldades, que todos nós passamos, não apenas eu, posso dizer que vivi mais momentos de alegrias do que de tristezas”, finaliza Dalbosco.

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