A partir deste mês, 20 crianças de Guabiruba, diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), realizam terapia na Associação de Pais, Profissionais e Amigos dos Autistas de Brusque e região (AMA). Os atendimentos se tornaram realidade após a assinatura de convênio da entidade com o Poder Público Municipal, que possibilitou o pagamento de um ano de aluguel da sede, bem como a aprovação de um projeto pelo Fundo da Infância e do Adolescente (FIA) do município.
As crianças têm acesso gratuitamente à terapia com psicólogas. “São sessões semanais individuais de 1h, onde as profissionais abordam as dificuldades de cada criança e trabalham nelas. É um atendimento totalmente personalizado. Na primeira sessão, que nós chamamos de anamnese, a profissional conheceu a criança e fez uma série de perguntas aos pais, para entender mais sobre ela. Após esse primeiro contato, a profissional determinou os objetivos da terapia para cada criança”, explica a neuropsicopedagoga e presidente da AMA, Márcia Faria.
De acordo com ela, durante os meses de atendimento, a profissional irá utilizar ferramentas personalizadas para abordar cada questão a ser trabalhada. “No final do projeto esperamos atingir os objetivos propostos para cada criança, contribuindo com o crescimento pessoal, aumento da autonomia, regulação emocional, entre outros aspectos”, detalha.
A presidente explica que todas as vagas disponíveis para crianças atípicas de Guabiruba já foram preenchidas. “Como é um projeto que já prevê um valor total e uma quantidade de crianças, não podemos admitir mais crianças da cidade neste momento”, frisa.
Segundo Márcia, a entidade não tem convênio com a prefeitura de Brusque, cidade sede. “Aqui temos apenas outro projeto do FIA, que atende adolescentes. O funcionamento é o mesmo. No momento buscamos convênio para a contratação de profissionais, para não dependermos desses projetos via editais do FIA, pois esses eles possuem data de início e término e o ideal é que tenhamos um trabalho contínuo”, destaca.
Diagnóstico mais tarde
A pequena Melinda (4) é uma das crianças que passou a ser atendida na AMA uma vez por semana. Ela também frequenta a Apae. “Foram três sessões até agora, a primeira foi 90% choro, comigo junto, a segunda já foi 99% sucesso. Só chorou quando chegamos e entrou sozinha com a psicóloga”, conta a mãe, Bruna Hermes Rieg. A família reside no bairro São Pedro.
Para ela, a Ama deveria receber mais apoio do Poder Público, pois o Autismo está cada vez mais comum. “Os estudos mostram um caso a cada 30 (pessoas), e ainda não tem ajuda necessária. Os preços das terapias são absurdos, os planos de saúde não querem cobrir o tratamento, sendo que quanto mais cedo a intervenção melhor a qualidade de vida do autista e da família”, ressalta ela, que há duas semanas recebeu o diagnóstico de TEA também para o filho mais novo, de um ano de idade.
A mãe conta que Melinda recebeu o diagnóstico de TEA aos três anos. “Foi um pouco difícil para nós porque não tínhamos conhecimento sobre o Autismo. Ela era difícil, mas sempre tivemos esperança dela melhorar como se fosse “mágica”. Por isso, demoramos para procurar ajuda. Hoje percebemos que falhamos nesse ponto, pois se tivéssemos ido mais cedo para o tratamento seria muito melhor o desenvolvimento dela”, avalia.
Questionada se os filhos já sofreram algum tipo de preconceito, Bruna diz que não diretamente. “Não digo preconceito, mas teve muito (pelas costas). As pessoas diziam: ela não tem nada, é falta de surra, ela só é braba, os médicos não sabem de nada, vocês também demoraram para falar (ela não é verbal). Principalmente da família, isso é o que mais doeu”, revela ela, que deixou o emprego de 14 anos, para levar a filha às terapias.
Demora no atendimento SUS
Santiago (2) também está frequentando a AMA e a mãe Talia Silvestri Goulart. “Nas sessões eles fazem as atividades e no final relatam como foi”, conta ela, que considera o apoio a entidade de extrema importância. “As crianças precisam de estimulação e acompanhamento. O SUS não ajuda muito, ele está na fila, mas já faz um ano para ser chamado, tanto para psicóloga, fonoaudióloga, quanto para neuropediatra”, revela.
A mãe explica que a família suspeitava do transtorno antes de Santiago completar um ano. “Por ser muito cedo esperamos um pouco. O diagnóstico foi dado com dois anos e três meses, com grau 2. Ele frequentava a Unidunite em Brusque e foi encaminhado para a Apae de Brusque por ter a suspeita. Hoje ele também frequenta a Apae de Guabiruba”.
Assim como a mãe de Melinda, Talia também sofreu com comentários de pessoas próximas. “Sempre tem aquele costume de falarem “ah isso é birra, dá uns tapas que passa” ou “ele só é atrasado”, não precisa levar ele nessas coisas, e se ele não for nada disso vai pensar que você o chamou de louco”, revela ela, que reside com a família no Lageado Baixo.
Conheça a AMA
A AMA Brusque e região foi fundada em setembro de 2013 por um grupo de pais e profissionais, em busca de apoio e informação. A entidade emite as CIPTEAs, que são as carteirinhas do Autista e realiza anualmente diversos eventos. Contato pelo telefone (47) 9164-4332, pelo site amabrusque.com.br e Instagram @amabrusque.
Fique por dentro
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade.