Foto: Grazielle Guimarães

Aos dez anos de idade o mundo físico ficou completamente escuro para Denise Fernandes Fischer, hoje com 37 anos, mas a perda completa da visão não a impediu de continuar lutando por seus sonhos de fazer mais pelas pessoas com deficiência, em especial pelas mulheres, que enfrentam uma dupla camada de preconceito.

Por 30 dias, a filha de Dorival Fernandes e Helena Pires assumiu a cadeira de Cristiano Kormann (PP) na Câmara de Guabiruba e mostrou um pouco de sua dedicação e entusiasmo. Denise nasceu em Canoinhas (SC), mora em Guabiruba há 13 anos, é mãe de Eliziane Fernandes Cordeiro e Larissa Caroline Fernandes Cordeiro. Casada com Anderson Fischer, atualmente trabalha como comunicadora na Rádio Bom Gosto de Guabiruba.

Guabiruba Zeitung: Como foi sua infância enfrentando a deficiência visual?

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Denise Fischer: Quando estava grávida de mim, minha mãe teve sérias complicações nos rins, chegando ao ponto do médico desistir de me proteger e focar em salvar a vida dela. Devido ao uso de fortes medicamentos, incluindo antibióticos, minha visão foi afetada. Eu nasci enxergando, mas com Glaucoma nos dois olhos e precisando fazer uma cirurgia de emergência. Já nesta primeira cirurgia eu perdi a visão do olho esquerdo, porém continuei enxergando parcialmente com o olho direito até os meus dez anos de idade.

Todos os meses eu me consultava em médicos oftalmologistas e quando era necessário realizar cirurgia, eu passava por um procedimento pré-cirúrgico. Na quinta cirurgia que eu fiz eu perdi a visão totalmente devido uma hemorragia. O meu Glaucoma dava muita pressão no olho, que estava muito alta e agravou o caso. 

Até os meus dez anos eu tinha uma vida normal, apesar dos problemas de visão e as inúmeras consultas médicas. Eu estudava, era uma menina muito espoleta, gostava de andar de bicicleta, passear na praia e quando perdi totalmente a visão, começou um processo muito difícil na minha vida, porque os meus pais eram contra eu estudar, pois eles acreditavam que isso forçaria ainda mais minha visão, mas mesmo assim, de tanto eu insistir, eles me matricularam em um colégio de Tijucas e eu consegui estudar o primeiro ano. 

Após isso veio todo um processo de adaptação e aceitação, pois uma coisa é você nascer enxergando e perder a visão e outra coisa é você nascer cego. Acredito que é mais difícil se acostumar quando você já enxergava antes. Quando eu perdi a visão, meus pais não tiveram coragem de me contar, e todos os dias eu perguntava para minha mãe: “é hoje que eu vou voltar a enxergar? Será que amanhã eu vou voltar a enxergar”. Todos os dias eu fazia a mesma pergunta para ela, até um ponto que ela não aguentou mais e me levou numa consulta onde o médico contou que eu não voltaria mais a enxergar.

Naquele momento parece que o mundo desabou. Parece que toda minha vida tinha se acabado ali. Eu fiquei desesperada, voltei pra casa muito triste e arrasada, foi um processo muito difícil. Uma das coisas mais difíceis pra mim foi ter que ir ao colégio em que eu estudava para pegar meus materiais e encerrar a matrícula. Foi algo bem doloroso. Longe da minha mãe eu chorava muito. 

Mas uma coisa que me alegrava: pegar as fitas do meu pai e gravar eu falando, já demonstrando o dom e o gosto pela comunicação. Eu gravava várias coisas e depois ficava ouvindo, depois eu me gravava cantando, brincava de fazer rádio e isso me ajudou muito a superar todas as dificuldades.

GZ: E como surgiu o seu interesse por política?

DF: Quando eu cursava o primário, em Porto Belo, eu era a única aluna que não enxergava na escola, e por ser ano eleitoral para escolha de presidente, a escola fez uma gincana onde os estudantes podiam se candidatar e serem eleitos. Eu me candidatei e fui eleita presidente.

Nós fizemos todas as etapas de uma eleição, desde a candidatura até a campanha, contagem dos votos, tudo. Isso me marcou e eu me apaixonei pela política alí. Depois eu mudei para Guabiruba e decidi ir atrás do partido e me apresentar como candidata e participei das eleições.

GZ: O que mais te marcou nesse período eleitoral?

DF: Na época da eleição eu apresentava um programa na Rádio Cidade de Brusque, me afastei do cargo por ser determinado por lei e comecei a fazer campanha. Foi um desafio novo para mim e muito difícil. Por ser mulher e por ser deficiente visual, muitas pessoas não acreditavam que eu pudesse trabalhar numa empresa pública ou privada, ser representante na Câmara ou em outro poder. Eles achavam que uma pessoa com deficiência não tem capacidade para nada a não ser ficar em casa dependendo da família para tudo.

Outro impedimento é que Guabiruba é um município pequeno e as pessoas acabam não vendo as pessoas com deficiência nas ruas e ocupando outros espaços, além da falta de informação, palestras sobre inclusão e superação, que infelizmente ainda não temos, mas eu pretendo ter a oportunidade de realizar isso, até para conscientizar a comunidade sobre a capacidade das pessoas com deficiência.

GZ: Deseja se candidatar na próxima eleição? 

DF: Sim, pretendo voltar para as eleições e concorrer a um cargo no Legislativo.

GZ: O que você espera para os próximos anos, inclusive se conseguir se eleger?

DF: Como vereadora eu espero uma Guabiruba melhor para todos e se eu tiver a oportunidade de ser eleita como representante da comunidade, vou trabalhar com muito respeito, seriedade e transparência e, o mais importante, terei força de vontade para fazer as coisas acontecerem, sendo a porta voz do povo. Já nesta minha breve atuação na Câmara eu gostaria de agradecer aos parlamentares e a comunidade que me receberam tão bem e aos votos a mim confiados.

2 COMENTÁRIOS

  1. Conheço a Denise ela é uma mulher muito querida e guerreira, torço por ela, deficiência visual não impede que uma pessoa ajude a administrar uma cidade, porque ela também administra a casa.Denise é muito inteligente.Parabéns vc é especial.

  2. Depoimento incrível! Torcendo por esta guerreira continuar sua trajetória com toda força! Parabéns
    #inclusaoparatodos ????????????????????

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